Estudo aponta que dois terços dos jovens recebem até um salário mínimo no 1º emprego
Levantamento sobre futuro do trabalho para a juventude traz dados sobre digitalização da economia e flexibilização das relações trabalhistas
Um estudo inédito sobre o futuro de jovens brasileiros no mercado de trabalho traz dados preocupantes sobre precarização, mas também aponta oportunidades que podem surgir com novas tendências, como a digitalização da economia.
O estudo Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, feito com jovens de 14 a 29 anos, revelou que, aproximadamente, dois terços desse público recebem até um salário mínimo ao alcançar o primeiro emprego. Atualmente, o salário mínimo está em R$ 1.302. Em maio, esse valor deve ser corrigido para R$ 1.320 após reajuste durante o governo Lula.
Chama atenção também dados sobre as oportunidades de trabalho para boa parte dessa população, que ainda enfrenta dificuldades para se capacitar no mercado de trabalho.
• A taxa de desocupação entre os jovens de 18 a 24 é de 18% - isso é mais do que o dobro da média geral que é de 8,1%, segundo dados do IBGE.
• Dentro desse recorte, as taxas impactam mais as mulheres, os negros e os menos escolarizados.
• 60% desse público vivem com até dois salários-mínimos.
• Os empregos que mais chegam aos jovens ainda são dentro de setores como comércio e reparação; alojamento e alimentação; indústria de transformação, construção, entre outros.
O estudo Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras foi realizado pelo Instituto Cíclica em parceria com o Instituto Veredas e com o apoio da Fundação Telefônica Vivo, do Itaú Educação e Trabalho, da Fundação Roberto Marinho, da Fundação Arymax e da GOYN SP.
Tendências
O estudo traz ainda tendências para o futuro do trabalho, o que pode impactar ainda mais o desemprego, já que pode ocorrer uma substituição de postos de trabalho, mas também pode trazer benefícios, como a criação de novos empregos.
• Uma das principais tendências é a chamada digitalização da economia, que leva a um movimento de substituição de postos de trabalho, mas, por outro lado, traz um aumento das oportunidades em áreas como tecnologia da informação, saúde e educação.
• Outra tendência é a flexibilização das relações de trabalho, que reduz a contratação pelo regime CLT e incentiva trabalhos informais, como motorista ou entregador por aplicativo, ou em microempreendimentos.
"O estudo deixa claro o quanto a economia digital é uma realidade, inclusive transversal as outras. Por isso é muito importante o investimento em letramento digital dos jovens, com real compreensão das potencialidades da tecnologia e de como aplicá-las de maneira crítica", explica Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo.
Segundo ela, o quanto antes as escolas tiverem capacidade de desenvolver essas habilidades nos estudantes, mais preparados eles chegarão ao mercado de trabalho. "Para isso, é importante investir não apenas na infraestrutura das escolas, mas também no desenvolvimento digital dos nossos professores e gestores escolares e garantir que o estudante tenha experiências de uso de tecnologia nas escolas."
Falhas
O levantamento mostra também as falhas que levam a uma taxa de desocupação tão grande entre os jovens e a baixa capacitação dessa população.
• Para 67,65% das organizações questionadas para o estudo, faltam cursos de qualificação profissional e de formação técnica.
• Os cursos de formação profissional não são atualizados e sintonizados com as vagas existentes no mundo do trabalho, avaliam ainda 58,82% dessas organizações.
• 76,47% das organizações dizem que os jovens estão mal informados sobre as carreiras do futuro e como o mundo do trabalho funciona.
• E 82,35% afirmam que os empregadores não conseguem contratar jovens com as qualificações que necessitam.
"Alé do baixo salário, o primeiro emprego do jovem nem sempre é aquele que ele quer. Nós estamos em um momento muito importante que precisamos escolher o melhor caminho para o futuro e colocar a juventude brasileira no lugar que ela merece", afirma Ana Inoue, piscóloga e superintendente do Itaú Educação e Trabalho.
Recomendações
Por fim, o estudo conclui com algumas recomendações possíveis que uma mudança nesse cenário. O caminho, de acordo com o trabalho, é investir na chamada Educação Profissional e Tecnológica (EPT), modalidade educacional focada em cursos de qualificação, habilitação técnica e tecnológica, entre outros. O estudo se aprofunda nessas recomendações:
• Ampliação da oferta de vagas em cursos técnicos para além do ensino médio.
• Ampliação de vagas de estágio supervisionadas e de trainee para acompanhar a formação dessas juventudes.
• Educação voltada para além do conhecimento tecnológico, como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
• Criação de mecanismos de apoio às escolas e de incentivo à formação e valorização dos professores para a EPT.