'Eu, robô e assistente de professor'
Na volta da pandemia, a Unicamp comprou robôs educacionais para trabalhar salas em tempo real; e os exemplos (e simuladores) vêm crescendo, sobretudo na Medicina
Com o avanço tecnológico, um novo personagem tem conquistado o papel de ator coadjuvante no processo de ensinar. São os chamados robôs educacionais. A versatilidade chama a atenção, com usos que variam da transmissão da aula para quem assiste de forma remota ao de facilitadores das atividades práticas realizadas pelos universitários.
A Faculdade São Leopoldo Mandic utiliza dois robôs nas aulas de medicina para simular atendimentos clínicos relacionados à obstetrícia. Trata-se dos modelos SimMom, a "robô grávida", e o New B, o "robô bebê".
A SimMom simula as atividades uterina e fetal, contrações, permite a indução do trabalho de parto e a supervisão de possíveis complicações que podem ocorrer no momento do nascimento de uma criança. O NewB permite o treino dos primeiros atendimentos ao recém-nascido. É possível controlar a frequência respiratória, a expansão torácica, fluídos como o sangue, líquido amniótico e urina, bem como as funções cardíacas, medição de pressão sanguínea e funções das vias aéreas.
"O treinamento com simulações favorece a formação pedagógica e garante mais segurança a quem for atendido por esse médico, seja durante o período de aprendizado, seja no futuro", afirma Kátia Piton Serra, coordenadora do internato e residência médica na área de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade São Leopoldo Mandic, que oferece o curso de Medicina na unidade localizada em Campinas.
As reações dos robôs, como se fossem pacientes reais, permitem verificar os erros e os acertos dos alunos. Com apoio da equipe técnica, os professores podem programar os autômatos para desempenhar quadros clínicos específicos, criando situações que exigem o trabalho em equipe ou momentos propositalmente tensos e estressantes. O objetivo é ajudar o futuro profissional a desenvolver as competências socioemocionais necessárias para atuar no campo da Medicina.
"Antigamente, o aprendizado se dava diretamente com os pacientes, o que era muito angustiante para os alunos e para a própria pessoa atendida. O grande passo que demos com os robôs é ajudar os alunos a se ambientarem ao mesmo tempo que promovemos uma formação mais sólida em aspectos técnicos, socioemocionais e até mesmo éticos", conclui a coordenadora.
Aproximação virtual
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 220 robôs educacionais foram adquiridos para auxiliar os professores nas salas mais numerosas. São os equipamentos de transmissão inteligente - ETI's, que funcionam como um estúdio de transmissão portátil. São compostos por uma câmera, microfones e um monitor, acoplados a um pedestal móvel.
Para melhorar a experiência das aulas, os robôs contam com recursos como a captação das vozes restrita ao espaço da sala, evitando a interferência de ruídos externos e outros sons distrativos. Sua câmera realiza rastreamento automático, permitindo que o professor não se preocupe em se manter em uma posição pré-definida.
Um dos usos dos robôs é em projeções das aulas em salas gêmeas - espaços utilizados para diminuir a aglomeração nas salas principais, e que comportam 30% dos integrantes da turma. A qualidade dos equipamentos tem possibilitado com que esses sejam aproveitados em outras demandas da Unicamp, como em bancas de mestrado e doutorado, com a possibilidade de participação de membros externos, e em reuniões de trabalho com grupos de pesquisa cujos membros estão em universidades diferentes.
"O uso dos ETI's garante a presença de docentes e discentes na universidade, além da aproximação virtual de colaboradores que, de outro modo, não estariam presentes" explica Roberto Donato da Silva Junior, assessor docente do gabinete da reitoria da Unicamp.
Seja como assistente do professor, seja "incorporando" um participante de banca de mestrado não presente fisicamente, os robôs educacionais já garantiram matrícula antecipada nessa volta às aulas pós-pandemia.