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Falta de estímulo dificulta formação de cientistas no País

Duas das principais agências de fomento, Capes e CNPQ, reduziram bolsas em cerca de 20%

12 mai 2022 - 05h10
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Se sem ciência não se tem progresso, sem dinheiro não se tem ciência. Apesar de os dados mostrarem que tecnologia, educação e inovação são os grandes chamarizes de riqueza, o Brasil tem diminuído o investimento em ciência e, consequentemente, na produção desses ativos.

Atualmente, o País investe apenas 1% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em ciência, bem abaixo do nível de países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Alemanha, que se aproximam de 3%. As consequências são visíveis na queda dos recursos destinados a bolsas e, logo, no número de bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado. Duas das principais agências de fomento, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, ligada ao Ministério da Educação) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, uma entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para incentivo à pesquisa no Brasil) reduziram o número de bolsas em cerca de 20%.

Físico Guilherme Brockington, professor nos cursos de Exatas da UFABC
Físico Guilherme Brockington, professor nos cursos de Exatas da UFABC
Foto: Divulgação / Estadão

Professor nos cursos de Exatas da Universidade Federal da ABC (UFABC), o físico Guilherme Brockington tem dificuldade em incentivar os alunos da graduação ao primeiro passo no caminho de se tornar um cientista. "A bolsa de iniciação científica (para jovens ainda na graduação) é de R$ 400. Como em um centro como São Paulo a gente consegue que o jovem se dedique horas por semana para isso?", indaga. "Temos vários alunos brilhantes, mas que precisam levar dinheiro para casa, e recebem ofertas de estágio muito mais atraentes. Como ele vai fazer pesquisa se o banco paga R$ 5 mil para ele fazer tabela de Excel?"

Quem já está na pós-graduação também amarga tempos difíceis, com as bolsas congeladas há nove anos. O valor pago pela de mestrado é de R$ 1.500 e pela de doutorado, de R$ 2.200. A inflação medida pelo IPCA (índice oficial) acumula 63,47% de alta desde 2013 - data do reajuste anterior. Em 1995, a bolsa de mestrado tinha um valor que hoje corresponde a R$ 4.287,00 e a de doutorado seria de R$ 6.353,00.

"Ninguém quer ser cientista com a intenção de ficar rico. As pessoas entram na carreira científica porque acreditam que o conhecimento pode transformar a realidade, pode contribuir para o desenvolvimento do País. Mas é preciso ter dignidade neste trabalho", argumenta Flávia Calé, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). "A pandemia pode instigar mais gente a seguir o caminho da ciência. Quem não se emocionou com a descoberta da vacina? Mas a melhor forma de estimular que os talentos sigam para a ciência é valorizar a carreira científica."

Número de titulados em queda preocupa

O número de pessoas que podem fazer a diferença na ciência está em queda. Em 2019, havia 15.940 mestres profissionais, 54.131 mestres acadêmicos e 24.422 doutores, conforme o Anuário Estatístico da USP. Em 2020, passaram a 13.979, 46.060 e 20.066, respectivamente.

E qual é o ganho econômico? Conforme estudo da Levy Economics Institute, de 2017, a cada 1% do PIB de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, pode-se ter um retorno de 9,92%. Em São Paulo, cada R$ 1 investido em educação e pesquisa na agropecuária paulista se converte em R$ 10 a R$ 12. Estudo de 2019 sobre a Embrapa também é animador: cada R$ 1 investido leva a R$ 12 retornados.

Estadão
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