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Filha de campeã do BBB6 supera paralisia, cursa Direito e é aprovada na OAB: 'Meu sonho é ser juíza'

Mara Viana, campeã da sexta edição do reality, sempre disse que seu maior objetivo no programa era pagar o tratamento de Aracy

14 nov 2023 - 05h00
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Aracy Viana, filha da campeã do 'BBB6', Mara Viana
Aracy Viana, filha da campeã do 'BBB6', Mara Viana
Foto: Arquivo Pessoal

Aracy Viana, filha da campeã do BBB6, Mara Viana, foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) aos 24 anos, antes mesmo de concluir a faculdade de Direito. A baiana superou os desafios da paralisia cerebral e agora sonha em ser juíza. Ao Terra, ela contou detalhes de sua jornada e destacou como o prêmio do reality show foi essencial para o seu tratamento. 

Durante o Big Brother Brasil, Mara sempre destacou que seu maior objetivo em participar do programa era conseguir o dinheiro para custear o tratamento da filha, que na época tinha 6 anos.

Aracy tem uma deficiência causada pela paralisia cerebral diplégica espástica. Ela conta que antes da participação da mãe no BBB, tinha limitações significativas e não conseguia dar passos consistentes sem cair, dependendo de andadores e de tratamentos precários devido à condição financeira da família. A mudança ocorreu quando Mara conquistou o prêmio do programa, proporcionando recursos para tratamentos mais acessíveis.

Aracy Viana, e a mãe, Mara Viana; a jovem se forma em Direito neste ano
Aracy Viana, e a mãe, Mara Viana; a jovem se forma em Direito neste ano
Foto: Arquivo Pessoal

A estudante de Direito iniciou a fisioterapia aos oito meses de vida, fundamental para sua mobilidade inicial. No entanto, os custos e a localização geográfica dificultavam acesso a tratamentos mais avançados.

"Nós morávamos em um bairro periférico de Porto Seguro [na Bahia] e alguns tratamentos eram feitos no Centro da cidade, enquanto outros eram feitos em Salvador. Então para se locomover era um dinheiro. E antes do prêmio, às vezes não era possível nem ir para o Centro e muito menos à Salvador. Fiquei um bom tempo com um tratamento muito precário", lembra.

A vitória no Big Brother permitiu que Aracy recebesse tratamento em um hospital em Salvador, onde uma equipe multidisciplinar a ajudou a compreender sua condição e a desenvolver estratégias para enfrentar o mundo de maneira autônoma.

Aos sete anos, Aracy já demonstrava uma marcha motora avançada, levando-a a uma internação para uma análise mais aprofundada. Foi nesse momento que ela recebeu a explicação detalhada de sua deficiência e a oportunidade de participar de atividades cotidianas, como ir ao mercado, ao shopping e à praia, para melhor adaptação.

Aracy e a mãe na época do 'BBB6'
Aracy e a mãe na época do 'BBB6'
Foto: Arquivo Pessoal

O apoio contínuo dos profissionais de saúde proporcionou a Aracy uma compreensão de sua condição, permitindo-lhe fazer escolhas sobre seu tratamento. "Eu tinha uma equipe de médico, psicólogo, neurofisioterapeuta, enfermeiro, todo tipo de médico que você imaginar eu consegui ter", relata. 

Embora tenha havido a opção de uma cirurgia para colocar seu pé no chão, a jovem optou por não realizá-la, considerando os riscos informados pelo médico à época.

"Eu tenho um pé equino e o outro eu consigo colocar totalmente no chão. Quando eu tinha 12 anos, o médico me ofereceu uma cirurgia, só que ele falou que havia 50% de chance de eu não andar mais. Eu já estava conseguindo andar do jeito que ando hoje, conseguia 'andar solta', em lugares planos, com quase nenhum artifício. Eu fazia natação, ecoterapia, hidroterapia, RPG, fisioterapia, coisas que só tive acesso depois que minha mãe saiu do Big Brother. E aí ele ofereceu e eu optei por não fazer e até hoje tenho esse pé equino", conta.

Desafios no estudo

A trajetória escolar de Aracy também foi marcada por desafios. Após frequentar uma escola até os três anos, ela ficou fora da escola por dois anos devido à falta de opções acessíveis em seu bairro. A construção de uma escola pela mãe no fundo de sua casa permitiu que ela continuasse seus estudos.

"Eu fazia aula com uma professora que me dava aulas em casa", conta a jovem. Após a participação no Big Brother, Mara decidiu utilizar parte da premiação para reconstruir a casa, transformando-a em uma escola que atendesse também outras crianças, abrangendo desde a alfabetização até a quinta série.

Aracy ao lado da mãe, Mara
Aracy ao lado da mãe, Mara
Foto: Arquivo Pessoal

Durante os primeiros anos, Aracy estudou lá, entretanto, na primeira série, a mãe optou por colocá-la em uma escola no Centro da cidade e alugar o espaço para uma faculdade. "Aí eu fiquei nesse colégio da primeira série até o terceiro ano de Ensino Médio. Terminei a escola tranquilamente, convivendo com outras crianças, tendo uma adaptação, tendo um tratamento", relembra a jovem. 

Hoje, a estudante mantém tratamentos de manutenção, como natação e RPG, com acompanhamento médico para garantir a saúde de seus ossos e da coluna.

Por que escolher Direito?

Aracy irá se formar em Direito em dezembro desse ano. Sobre a escolha do curso, ela afirma que nunca teve dúvida que queria fazer Direito, mas outra coisa a fez persistir ainda mais nesse sonho: o preconceito que encarou durante sua trajetória escolar.

Entre os 15 e 18 anos, a jovem enfrentou situações de discriminação, sendo alvo de imitações em relação à sua forma de andar.

"No meio desse processo de ficar na escola, eu conheci o preconceito. Não era latente quando eu era criança, não era latente na minha pré-adolescência. Mas ali, naquela fase de 15 até os 18 anos, eu sofri bastante preconceito. Imitavam meu andar e eu tinha um apelido de 'aleijadinha' por algumas pessoas da escola". 

Contudo, Aracy não se deixou abater pelo preconceito. Consciente da necessidade de adaptações para garantir sua acessibilidade na escola, ela tornou-se uma defensora ativa da causa, lutando por mudanças estruturais para garantir sua participação integral nas atividades escolares. A batalha por acessibilidade tornou-se uma missão pessoal para Aracy, que viu nessa luta uma maneira de contribuir para um ambiente mais inclusivo para os demais alunos.

Desde criança, Aracy manifestou o desejo de se tornar juíza. Aos 18 anos, quando iniciou sua jornada na faculdade de Direito, essa ambição tornou-se ainda mais sólida.

O apoio incondicional de sua mãe, segundo ela, foi a parte mais essencial, em toda essa jornada, e Mara ficou muito orgulhosa em ver a filha sendo aprovada no exame da OAB neste ano. "Essa conquista se torna ainda mais significativa porque, por muito tempo, eu tive muita dificuldade de ir para escola. Se não fosse, literalmente, o Big Brother, talvez eu não conseguiria chegar na faculdade. Minha mãe ficou tão orgulhosa que passei na OAB que fez até bolo", diz ela, rindo.

Em seguida, a jovem destaca: "E minha mãe faz parte desse meu sonho da faculdade comigo. Minha mãe construiu a vida toda comigo. Porque, a vida inteira, ela largou a vida dela, as vontades dela, pra que eu pudesse viver os meus [sonhos]. Então, quando minha mãe entra no Big Brother, ela não entra por causa dela. Ela entra por minha causa". 

A família atualmente mora em Vitória da Conquista (BA) e Mara já cursa sua segunda faculdade, de Psicologia, segundo conta a filha. Além disso, a ex-BBB também contribui com o Instituto Descobrir - em Porto Seguro (BA), no local em que moravam -, projeto idealizado pela musicista Francis de Holanda, que tem o apoio e doação dela, oferecendo cursos gratuitos a centenas de famílias. 

A construção desse instituto, que conta com 5 mil metros quadrados e atende cerca de 500 famílias, oferece um projeto 100% gratuito e oportunidades de educação e desenvolvimento para a comunidade local.

"O instituto oferece aula de graça de música e arte. Todo tipo de arte. Música de rua, dança, além de ter curso profissionalizante para os mais adultos. Hoje tem um projeto bem bonito lá dentro", destaca a estudante.

Luta por acessibilidade

Aracy Viana não apenas enfrenta desafios em sua jornada acadêmica e profissional, mas também se tornou uma voz ativa na luta pela acessibilidade. Sua linha de pesquisa e suas publicações têm como foco a questão da deficiência, e ela compartilha sua experiência por meio de palestras.

A jovem acredita que sua maior contribuição está no exemplo que oferece quando está diante de uma plateia. Especialmente para pessoas com deficiência, Aracy representa um referencial que ela mesma não teve na infância. 

"Eu acho que o maior recado eu consigo entregar quando eu estou ali palestrando. Porque quando as pessoas me olham, e principalmente pessoas com deficiência, quando conseguem ver esse referencial, que eu não tive quando eu era criança, acredito que representa que conseguimos chegar onde a gente quiser. Não é fácil. É muito difícil. Você vai enfrentar preconceito. Você vai enfrentar a falta de acessibilidade, mas é importante que enxerguem e vejam que podem lutar e vencer". 

Embora Aracy enfrente diariamente a falta de acessibilidade em muitos lugares, ela continua a lutar por mudanças. Ela destaca as dificuldades de enfrentar calçadas inadequadas, a necessidade de andar no meio da rua quando está com sua "motinha", como chama, e a constante batalha pela conscientização das pessoas sobre a importância da inclusão.

Aracy fala sobre a luta pela acessibilidade
Aracy fala sobre a luta pela acessibilidade
Foto: Arquivo Pessoal

A estudante ainda revela que teve uma experiência marcante em 2022 ao se conectar com uma jovem que compartilhava sua deficiência. Essa amizade virtual se tornou uma fonte de inspiração mútua. A menina, inicialmente relutante em frequentar a escola, recebeu um áudio de Aracy, compartilhando sua própria jornada na faculdade e incentivando-a a buscar seus sonhos.

"Essa menina não frequentava a escola e eu mandei um áudio para ela falando que eu estava na faculdade, que eu conseguia me desenvolver, que não era fácil, mas que a gente conseguia e que aquele também é nosso lugar. E hoje ela fez o Encceja [Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos] e vai entrar na Assistência Social. Então eu acho que de todos os prêmios, esse se torna, para mim, o mais importante", finaliza a jovem.

Fonte: Redação Terra
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