Script = https://s1.trrsf.com/update-1736967909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'Funk faz parte da cultura dos alunos', diz professora que viralizou ao usar música como ferramenta pedagógica

Jéssica Motta faz paródias com o ritmo para ensinar biologia em uma escola pública de Brasília

16 jan 2025 - 21h29
(atualizado em 17/1/2025 às 05h00)
Compartilhar
Exibir comentários
Professora Jéssica Motta viralizou nas redes sociais por usar o funk como ferramenta pedagógica no ensino de biologia em uma escola pública de Brasília
Professora Jéssica Motta viralizou nas redes sociais por usar o funk como ferramenta pedagógica no ensino de biologia em uma escola pública de Brasília
Foto: Reprodução/Instagram:@profjessicamotta

A professora Jéssica Motta, de 34 anos, viralizou nas redes sociais por usar o funk como ferramenta pedagógica no ensino de biologia em uma escola pública de Brasília. Segundo ela, o gênero musical facilita a conexão com os alunos, em sua maioria moradores de comunidades periféricas.

"A maioria dos meus alunos escutam funk e rap, então é uma forma de eu me aproximar deles. Claro que existem funks com letras que não são adequadas para o ambiente escolar ou até mesmo para o público em geral, mas não podemos generalizar. Em áreas periféricas, como as que eu atuo, o funk faz parte da cultura dos nossos alunos. Não podemos demonizar esse estilo musical, pois ele é apenas um reflexo de outras questões sociais. Além disso, é um gênero que oferece oportunidades para muitos meninos e meninas periféricos que se tornam MCs", afirma Jéssica.

A entrevista da educadora ao Terra ocorre poucos dias após a prefeitura de Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas Gerais, publicar um decreto proibindo músicas de funk em escolas municipais. A medida foi assinada pelo prefeito Felipe Carielo (PSD), que justificou a decisão afirmando que o gênero é inadequado para crianças e adolescentes no ambiente escolar.

Por meio do Decreto nº 5.905, ficou estabelecida a proibição de músicas do gênero funk e de quaisquer outros estilos que contenham:

  • Apologia ao crime;
  • Referências à automutilação;
  • Conteúdo pornográfico ou linguajar obsceno;
  • Apologia ao uso de drogas, tabaco ou outros produtos prejudiciais para crianças e adolescentes.

Jéssica, que ganhou destaque pela primeira vez ao engajar seus alunos com o famoso funk Baile de Favela em uma aula de botânica, adaptando-o para criar o Baile das Briófitas, considera a proibição do gênero musical uma forma de preconceito.

"Eu acho absurdo. Proibir o funk é uma forma de preconceito. Banindo esse tipo de música, as escolas se distanciam da realidade dos alunos, e isso dificulta a construção de uma relação de confiança entre os estudantes e nós, educadores", afirma a professora, que atualmente conta com mais de 550 mil seguidores acompanhando seu trabalho nas redes sociais.

Como professora aliou funk ao ensino?

Jéssica leciona no CEF 411 de Samambaia e relata que sua trajetória como educadora começou de forma inesperada. Durante a graduação em Biologia, ela nunca se imaginou seguindo a carreira de professora. "Nunca foi algo que eu imaginei ou sonhei. Eu queria trabalhar com tartarugas, com Biologia Marinha", relembra.

No entanto, sua vocação surgiu quando optou pela licenciatura e começou o estágio obrigatório, dando aulas para crianças de 10 a 12 anos. "Eles amaram a aula, foi superdivertida. A professora responsável pela turma disse que eu tinha o ‘jeito’ para isso", conta Jéssica. Aos poucos, ela se apegou aos alunos e encontrou realização no novo caminho. "Foi quando percebi que tinha vocação. Era meu destino", afirma.

Desde cedo, Jéssica percebeu que o ensino tradicional não cativava todos os alunos, especialmente os estudantes de comunidades periféricas. "Eu sempre busquei alternativas criativas desde o início da minha carreira, e a música acabou sendo uma forma natural de conectar os alunos ao conteúdo", revela. A ideia surgiu espontaneamente enquanto preparava uma aula.

A primeira paródia de funk foi mais do que uma maneira de tornar o aprendizado divertido; tornou-se uma ferramenta eficaz para conectar os alunos ao tema. "Quando comecei a dar a aula sobre briófitas, minha cabeça começou a pensar em uma música. Escrevi na hora e gravei o áudio. Não foi algo forçado, simplesmente aconteceu", explica.

Para Jéssica, especialmente no caso de alunos que vivem em comunidades periféricas, o funk é um meio poderoso de ensino porque faz parte da cultura deles. "A música, principalmente o funk, tem um espaço muito grande nas periferias. Eles adoram e se conectam com ela. Então, por que não usar isso para o aprendizado?", questiona.

Ela acredita que a música desempenha um papel essencial no processo de ensino, facilitando a assimilação de conceitos complexos de forma lúdica. "O funk vai além do entretenimento. Quando inserimos a música após a explicação do conteúdo, ela funciona como um complemento, e é isso que eu faço. Os alunos conseguem perceber como aquilo se relaciona diretamente com o que foi ensinado na aula", explica. Jéssica também observa que os alunos frequentemente utilizam trechos das músicas nas provas, mostrando o impacto do método em suas memórias.

Embora enfrente desafios e falta de valorização na profissão no País, Jéssica destaca a gratificação de transformar a vida de seus alunos. "A maior recompensa é ver o brilho nos olhos deles quando finalmente entendem algo difícil ou conseguem aplicar um conhecimento na vida real. Já recebi muitas mensagens de alunos agradecendo pelo aprendizado e contando que foram aprovados em universidades. Isso faz tudo valer a pena. Também já fui convidada para casamentos de ex-alunos, anos depois de ter dado aulas para eles. É algo que eles reconhecem", conclui a professora.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade