Fuvest 2024 tem 1ª fase interdisciplinar e questões com cara de Enem
Prova exigiu interpretação de texto, cobrou temas sociais e repetiu o Enem com Conceição Evaristo e questão sobre trabalho invisível das mulheres
Foram-se os tempos em que a Fuvest era considerada uma prova mais engessada e puramente conteudista em comparação a outros vestibulares. O exame, que seleciona estudantes para a USP (Universidade de São Paulo), seguiu a tendência inaugurada na edição passada e foi avaliado pelos professores como interdisciplinar e, em certa medida, com uma "cara de Enem". Apesar de seguir como uma prova exigente, a primeira fase da Fuvest 2024 inovou. Trouxe autoras negras que não estavam na lista de obras obrigatórias, como Conceição Evaristo e Paulina Chiziane, e cobrou conteúdos e temáticas bem próprios do Enem, como gêneros textuais, preconceito linguístico e artes.
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"Vimos questões voltadas para temática étnico-racial, que versam sobre a mulher, que trabalham com grupos originários indígenas que não eram tão comuns nas questões da Fuvest" avalia Rodrigo Miranda, professor de História do Curso e Colégio Oficina do Estudante. Seis questões trataram, de alguma forma, do racismo. Rodrigo também destaca a maior presença de textos de apoio, o que não ocorria com frequência no vestibular da USP.
Confira, abaixo, a avaliação de professores sobre cada uma das disciplinas nesta primeira fase da Fuvest 2024.
Linguagens e Literatura
A prova de Linguagens e Literatura foi uma das que surpreendeu por escapar do perfil Fuvest consolidado nas últimas décadas. Conteúdos que eram frequentes em outras edições, como análise sintática, não apareceram na prova, dando lugar a outros como gêneros textuais, figuras de linguagem e tipos de texto. Artes e Educação Física, que foram incorporados em Linguagens pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) também tiveram espaço - uma das questões tratava da história do skate e outra falava das desigualdades sociais e acesso aos esportes, por exemplo.
Em linguagens, a interdisciplinaridade também foi uma tônica: as questões se misturavam com Filosofia, Sociologia, Inglês e até História.
Já a prova de Literatura, embora exigisse sem dúvidas a leitura dos livros obrigatórios, foi avaliada pelo diretor do Curso Anglo, Sérgio Paganim, como mais fácil do que o normal. Isso porque, segundo ele, "as alternativas erradas eram claramente erradas" e o candidato poderia chegar à resposta correta por eliminação.
Ao todo, foram cobrados os livros Dois Irmãos, Campo geral, Alguma Poesia e Nós Matamos o Cão Tinhoso - quatro dos oito contos deste último apareceram na prova. O vestibular também explorou outros autores que não faziam parte da lista de obras obrigatórias, como Conceição Evaristo, Clarice Lispector e Paulina Chiziane.
Inglês
A prova de inglês foi menos extensa que na última edição, com uma questão a menos. Todas elas, em alguma medida, podem ser consideradas interdisciplinares, associadas a disciplinas como Sociologia, História, Educação Física e Arte. Os temas sociais também foram uma marca: questões sobre racismo, sexismo e desigualdade no acesso ao esporte.
Sociologia e Filosofia
As disciplinas de Sociologia e Filosofia são uma novidade na prova da Fuvest, e passaram a ser cobradas com mais consistência nos últimos dois anos. Ainda assim, a resolução passa muito mais pela interpretação de texto do que por conhecimentos específicos. Sociologia foi cobrada com mais ênfase nesta primeira fase, com sete questões ao todo, quase todas elas interdisciplinares. Filosofia apareceu em questões sobre Platão.
História
A prova de História foi avaliada por professores de nível fácil a médio. Bastante abrangente, ela cobrou temas tradicionais na Fuvest como escravidão, Iluminismo, ciclo da cana e ciclo do café. Também houve um bom equilíbrio entre História do Brasil e História Geral. Em História do Brasil, uma novidade foi o volume de questões sobre Império e República, já que a prova tradicionalmente cobra mais Brasil Colônia. A presença de muitas imagens e gráficos também chamou a atenção dos professores positivamente. "São questões que, realmente, as imagens e o mapa contribuem para a resposta do vestibulando", avalia Rodrigo Miranda, do Oficina do Estudante.
Geografia
Como já ocorre em outras edições, a prova de Geografia da Fuvest 2024 foi exigente. Apareceram questões sobre meio ambiente, industrialização, transportes, PIB e correntes oceânicas. A geopolítica também foi um destaque - uma das questões tratava, por exemplo, das tensões entre China e Taiwan, e outra falava da teocracia no Irã. Além de dominar a parte teórica, os candidatos também precisavam estar antenados em assuntos da atualidade. Houve um bom equilíbrio entre Geografia Física e Humana.
Biologia
Uma ausência chamou a atenção na prova de Biologia desta edição: as questões sobre botânica. O conteúdo, já consolidado como clássico na Fuvest, não apareceu este ano. Outros temas tradicionais, no entanto, marcaram presença: heredogramas, ecologia e fisiologia humana. Parasitoses e biotecnologia, que não costumam aparecer com frequência na primeira fase, estiveram na prova deste domingo (19). Além da memória sobre teoria, as questões exigiam algum grau de análise de texto e de aplicação do conteúdo. No geral, uma prova de nível médio para difícil, em que também apareceram perguntas interdisciplinares.
Química
Uma prova com pouco cálculo e conceitualmente bem elaborada. Professores avaliaram a prova de Química da Fuvest 2023 como bastante abrangente, com questões sobre orgânica, pH atomística, cálculo estequiométrico, eletroquímica e termoquímica. Também apareceram perguntas associadas a temas da atualidade, como inteligência artificial. O professor do Oficina do Estudante, Marcos César Formis, também destaca a presença de alternativas incorretas bastante fora da realidade, o que facilitava a vida do candidato na hora de escolher uma resposta.
Física
Com conteúdos tradicionais e clássicos da Fuvest - como física moderna, ondulatória, hidrostática, eletromagnetismo, cinemática, trabalho de energia, eletrostática, eletrodinâmica e termodinâmica - a prova de Física desta primeira fase é lida como "pé no chão" e "razoável". As perguntas exigiam, é claro, conhecimento teórico da disciplina, mas não foram excepcionalmente difíceis. Uma prova adequada para um aluno bem preparado.
Matemática
A prova de Matemática da Fuvest 2023 cobrou assuntos clássicos como funções, geometria (plana e especial), análise combinatória, logaritmo e sequências numéricas. Ainda assim, foi um desafio para os candidatos: as perguntas não eram de fácil resolução, mas bastante trabalhosas. A avaliação de Sérgio Paganim, do Curso Anglo, é que a prova foi um pouco mais difícil que a primeira fase da edição passada.
Colaboraram:
Oficina do Estudante: Wander Azanha, diretor pedagógico; Aline Biondo, professora de Biologia; Alexandre Torres, professor de Inglês; Roberto di Alessandri, professor de Física; Luis Felipe Valle, professor de Geografia; Rodrigo do Carmo, professor de Matemática; Silvio Sawaya, professor de Humanidades; Rodrigo Miranda, professor de História; Marcos César Formis, professor de Química; Liliane Negrão, professora de Gramática e Interpretação de Texto; Vera Ramalho, professora de Literatura.
Curso Anglo: Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo.
Poliedro: Robson Junior, coordenador pedagógico do Poliedro Curso
SAS Plataforma de Educação: Idelfranio Moreira, gerente de Ensino e Inovações Educacionais; Vinicius Beltão, Coordenador de Ensino e Inovações; Ademar Celedônio, Diretor de Ensino e Inovações Educacionais.
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