Fuvest: Quem já passou pelo vestibular da USP dá dicas para encarar a prova
Estudantes contam sobre necessidade de dedicação e revisão dos conteúdos para processo seletivo
"Passar no vestibular foi um processo doído" / "A parte acadêmica foi difícil". Frases assim são rotineiras ao ouvir quem já passou no vestibular, principalmente quando se trata da Universidade de São Paulo (USP), a maior instituição de ensino superior do País. Para mostrar os desafios dessa trajetória, o Estadão buscou relatos de quem venceu a Fuvest.
Thereza Cury Fortunato
Tenho 31 anos, sou formada em Física Computacional. Decidi estudar Física no ensino médio, porque achava a disciplina fascinante. E, apesar de morar na época em Cuiabá, cresci com a visão da USP, porque minha mãe havia feito Enfermagem na USP muitos anos antes. Física é uma carreira difícil, então sabia que precisava fazer numa universidade de excelência. Entrei em 2009. Naquela época, a inscrição era presencial, então por sorte eu tinha um primo em São Paulo que me ajudou. A maior parte dos colegas nem prestou.
Estudei em tempo integral na escola. Tinha uma disciplina muito rígida. Valeu a pena porque consegui entrar já na primeira tentativa. Mas era apenas o início. Primeiro, saí de Cuiabá e me mudei para São Carlos, no interior de São Paulo, a 1,3 mil km de distância. Os primeiros dias foram tensos, sozinha e sem conhecer ninguém. Mas rapidamente fiz amigos - até porque entrei num curso em que as pessoas tinham visão parecida. Encontrei meu nicho.
A parte acadêmica foi difícil: Física Computacional era um curso novo, com carga horária muito alta. Tinha de estudar muito. Por vezes, me senti bastante pressionada. Mas hoje sei o quanto a experiência foi rica. Ainda no curso, comecei a fazer iniciação científica na área de biofotônica, que usa a luz aplicada à Biologia.
Tomei gosto pela pesquisa e já emendei no mestrado e no doutorado. A importância da USP é gigantesca. Foi minha casa por dez anos de vida. Cresci profissionalmente, tive oportunidade de conviver com gente do mundo inteiro. Além do que, não é em qualquer universidade que você consegue ter uma aula magna com prêmio Nobel. É uma abertura de visão gigantesca.
Leonardo Domingues de Oliveira
Tenho 28 anos, sou formado em Marketing. Decidi prestar a Fuvest em 2015. Optei pelo curso de Marketing, depois de conversar com alguns amigos que já estavam estáveis no mercado de trabalho.
Passar no vestibular foi um processo doído. Egresso de uma vida inteira em ensino público, eu não tinha uma base sólida em Exatas (faltava professor de Matemática, o de Ciências saía no meio do ano) e eu sabia que a Fuvest cobrava muito. Consegui uma bolsa de cursinho e fazia dupla jornada: trabalhava e estudava. Precisei abdicar de fim de semanas, de festas. Mas valeu a pena. Fiz a prova e vi meu nome na lista!
Foram várias mudanças, mas o principal impacto que a USP me causou logo nas primeiras semanas foi a mudança de minha visão de mundo. Até mesmo sobre a universidade. Eu acreditava que era um lugar para entrar, cumprir as disciplinas, pegar o diploma e trabalhar. A USP me mostrou que o processo é muito importante - é nele que você aprende a lidar com as coisas do mundo. Comecei a ter uma visão muito mais crítica, muito mais analítica dos desafios e situações que antes evitava. Entendi que ciência e conhecimento se constroem e se compartilham, nunca se destroem ou se retêm.
A exigência é alta, a regra é alta, mas você aprende muito. Não apenas nas aulas, mas nos eventos sociais, nos simpósios, nas festas. Estagiei em multinacionais francesa e americana, tive contato com estrangeiros, resolvi problemas complexos que não imaginava que conseguiria resolver. Depois de formado, sigo trabalhando em uma multinacional. Hoje estou na Serasa Experian na área de marketing.
Depois de ter passado pela USP, tenho mais segurança em mim mesmo e conhecimento mais acurado para desbravar o mundo. Isso me dá uma perspectiva melhor de carreira, uma credibilidade maior nas coisas que falo.