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Greve de professores empata com a maior da história da categoria

Aos 112 dias, greve docente empata com a maior da história da categoria

5 set 2012 - 07h40
(atualizado às 15h39)
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A greve dos professores de universidades e institutos federais completa 112 dias nesta quarta-feira, empatando em termos de duração com a maior paralisação docente já realizada no País, em 2005. Atualmente, segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), são 60 instituições paralisadas - 54 universidades, quatro institutos e dois centros tecnológicos. Os docentes realizam assembleias até amanhã para decidir se mantêm ou não o movimento - até lá, no entanto, a greve já terá entrado para a história como a maior paralisação da categoria.

Hayanne Ferreira, estudante do curso de economia na Universidade de Brasília (UnB), acha que a greve é legítima, mas que a decisão dos docentes foi precipitada
Hayanne Ferreira, estudante do curso de economia na Universidade de Brasília (UnB), acha que a greve é legítima, mas que a decisão dos docentes foi precipitada
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Veja onde há professores federais em greve no País

Desde o início da greve dos professores, iniciada no dia 17 de maio, dois nomes vêm sendo repetidos à exaustão: Andes e Proifes. Ambas são entidades que representam a mesma categoria, mas que têm diferenças significativas em suas formações, atuações e convicções ideológicas. Dois sindicatos, uma categoria: veja diferenças entre Andes e Proifes. Durante tudo esse tempo houve um impasse nas negociações, em 13 de julho, o governo apresentou sua primeira proposta, rejeitada pela categoria. No dia 24 do mesmo mês, foi apresentada uma nova proposta, aceita apenas pela Proifes, que representa a minoria dos docentes. Após assinar com a entidade, o governo encerrou as negociações.

"Ainda há um questionamento se é possível chamar o que houve de negociação, pois a segunda proposta do governo apenas alterou algumas questões, sem alterar essência", critica o 1º vice-presidente do Andes, Luiz Henrique Schuch. Segundo ele, a postura do governo diante da greve é o que justifica a longa duração do movimento. "O governo tem estado de costas para as universidades", diz. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) defende a proposta encaminhada ao Congresso, afirmando que nela "o governo busca a valorização da dedicação exclusiva e da titulação dos docentes".

No final de agosto, o Andes protocolou no Ministério do Planejamento e no Planalto uma contraproposta em que a categoria abre mão de aumento e dá preferência à reestruturação da carreira. O documento pede que, a cada degrau de progressão, os professores tenham ajuste de 4% - anteriormente, o percentual desejado era 5%. O Proifes criticou a contraproposta por acreditar que ela não valoriza a titulação do profissional e poderia prejudicar a progressão na carreira, e o governo reafirmou que as negociações estavam fechadas.

"Há prejuízos com a greve, mas manter a educação como está é um prejuízo muito maior. Em boa medida, a sociedade entendeu isso. Houve sintonia entre as demandas do movimento e da sociedade, que pede uma educação de qualidade", avalia Schuch. Eduardo Rolim, presidente do Proifes, considera a greve vitoriosa por ter reaberto as negociações. "O objetivo central, que era fazer o governo voltar à mesa, foi atingido", diz.

Uma nota divulgada nesta semana pelo MEC afirma que "professores de todas as universidades estão retomando suas atividades" e que o órgão espera "o rito sindical para a volta total das atividades acadêmicas". O informe diz, ainda, que o ministério está recebendo e analisando o planejamento das instituições com relação à reposição dos dias parados.

Raízes

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), vê a perda da "utilidade" das universidades como um dos fatores que estão na origem da greve docente. Para ele, as universidades não estão adaptadas aos desafios atuais, se estruturando da mesma forma desde o século 20. "Antes, quem ia para a universidade tinha o emprego garantido. Hoje, as empresas formam seus próprios profissionais. A universidade não corresponde às expectativas. A greve dura 112 dias porque o governo não vê utilidade nessas instituições", opina o senador ao explicar o que chama de "inversão de prioridades" do governo, que investiria em outros setores, em detrimento da educação.

Buarque diz, ainda, que a paralisação está perto do esgotamento. "Quando uma greve acaba, as pessoas voltam satisfeitas, mas quando se esgota ocorre o contrário. Isso pode refletir na redução do empenho de professores e alunos", alerta.

Para Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil, a expansão das universidades, iniciada no governo Lula, também está na raiz da paralisação. De acordo com Prado, o aumento do orçamento de cada instituição ficou condicionado à adesão ao Programa de Apoio ao Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e quando as universidades aderiram à iniciativa, mais de 120 campus foram abertos em todo Brasil, nem sempre com a estrutura adequada. "Dentro dos critérios para aderir ao Reuni havia uma cota de números de alunos por professor. Quem cumpriu essa cota foram os novos professores dos novos campi, que ganhavam menos que os outros. Isso criou uma diferença entre os docentes", diz, acrescentando que, quando esses professores conseguiram estabilidade, passaram a reivindicar melhores condições de trabalho.

"No máximo em dois anos teremos uma nova greve. Os professores que estão na base estão longe de casa, da família e ganhando pouco", diz Prado, se referindo aos docentes dos campi criados na expansão universitária. "Isso, ao longo do tempo, faz muita diferença. Esses docentes não têm tempo de fazer pesquisa ou se especializar. Com isso, nós caminhamos para um cenário semelhante ao de governo FHC", afirma.

A professora Elizabeth Balbachevsky, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, concorda com Prado ao afirmar que há perspectiva de uma nova greve em breve. "O grande problema futuro é que os docentes saem da greve com gosto de derrota. Se o cenário econômico seguir o mesmo, a chance de uma situação semelhante é muito grande no próximo ano. O problema vai se tornar mais agudo, e o grande prejudicado é o aluno", declara.

A professora identifica três raízes para o movimento grevista atual. Primeiro, um sentimento de frustração que teria acompanhado a tentativa do governo federal de conter os gastos no início do novo governo, devido ao cenário econômico, algo que ela define como catalisador do movimento. "Nessa situação econômica, era impossível que essa gestão seguisse fazendo o que o governo Lula fez, que foi 'pagar o sossego' das universidades federais com aumentos, empurrando os salários dos professores e compensando defasagens", argumenta.

Assim como Prado, ela também vê na expansão das universidades um fator que contribuiu para a deflagração da greve. "As universidades que aderiram ao Reuni não tiveram suas expectativas atendidas, e o governo não bancou a infraestrutura para acompanhar a expansão", analisa. Elizabeth aponta, ainda, uma questão que, segundo ela, vem de mais longe - a carreira docente. Para a professora, a carreira foi montada tendo em vista um Brasil com poucos doutores. "Os professores que já entram com doutorado têm poucas perspectivas de crescer", aponta.

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Fonte: Terra
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