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Greve na USP cresce e professores são impedidos de entrar: 'Melhor saída é voltar para o online'

Portas de várias unidades estão fechadas por barricadas e guardadas por estudantes que decretaram greve na semana passada

27 set 2023 - 16h58
(atualizado às 17h26)
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Barricadas feita por alunos em greve nas portas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP
Barricadas feita por alunos em greve nas portas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP
Foto: Caio Possati/Estadão

Professores da Universidade de São Paulo (USP) estão sendo desde o início da semana impedidos de entrar em alguns prédios da instituição por alunos em greve, que têm feito barricadas nos portões. Nesta quarta-feira, 27, o professor titular de Direito Financeiro, Fernando Scaff, não pôde entrar na faculdade no Largo São Francisco para ter uma reunião com a direção. "Cheguei, me viram de terno e gravata e disseram: professor não entra. São alunos de Direito impedindo um direito fundamental, de ir e vir", diz.

Ele dá aulas na sexta-feira e acredita que não será possível fazê-la presencialmente por causa das barreiras. "Acho que é a melhor saída é voltar para as aulas online imediatamente", completa. Durante a pandemia, a USP chegou a ficar mais de um ano com aulas remotas.

Segundo o Estadão apurou, já há outros professores organizando suas turmas para voltar a esse formato por causa da greve. A reitoria deixou a cargo dos docentes e das unidades a decisão de optar ou não pelo online por causa do movimento que cresceu nos últimos dias na universidade, considerada este mês a melhor instituição de ensino superior da América Latina e Caribe. Professores têm recebido mensagens de alunos não envolvidos na greve, questionando se devem ou não ir à universidade.

A paralisação dos estudantes foi aprovada na terça-feira, 20. A pauta principal dos grevistas é o atual déficit no quadro de professores. A USP perdeu 818 professores entre 2014 e 2023, como mostrou o Estadão. São 15% a menos de docentes, sem que tenha mudado o número de alunos, resultado de anos de crise financeira e do período de pandemia, quando não foram autorizadas novas contratações.

Nos últimos meses, disciplinas obrigatórias não puderam ser oferecidas, atrasando a formatura em alguns cursos. A reitoria havia autorizado a contratação de 879 profissionais, de forma escalonada, até 2025, e teve de adiantar o processo por pedidos de faculdades e pressão dos estudantes.

A decisão, no entanto, não acalmou os ânimos na universidade, já que a maioria dos novos professores só deve chegar à instituição no ano que vem. É preciso abrir editais para concursos públicos e realizar os processos de seleção, que têm diversas etapas.

Apesar da reclamação de professores ouvidos pelo Estadão, na noite de terça-feira, 26, uma assembleia da Associação de Docentes da USP (Adusp) decidiu paralisar as atividades até a próxima segunda, 2. O gesto foi uma demostração de apoio à greve dos estudantes. Eles vão se reunir na segunda que vem, em uma nova assembleia, para decidir o indicativo de greve.

A presidente da Adusp, Michele Schultz, diz que ainda não é possível medir a adesão dos docentes à paralisação. Segundo ela, apesar de a reitoria ter liberado as vagas de docentes, os processos de contratação são demorados, e o problema continua na universidade.

"A reitoria tem que pensar um plano de urgência para essa unidades que tiveram disciplinas canceladas e para os alunos com a formação atrasada. Poderia ser feita uma força tarefa, deslocar profissionais para ajudar as unidades para que isso seja feito mais rapidamente", afirma. "Tudo isso compromete o ensino e a qualidade da USP. Essa nova posição no ranking internacional é fruto do passado."

Barricadas no laboratório de Química

"Não entendo como impedir agressivamente de assistir aula melhora alguma coisa na universidade", diz a professora titular de bioquímica Alicia Kowaltowski, que também foi proibida dar aulas de laboratório na segunda-feira, 25, no Instituto de Química.

Segundo ela, o local estava tomado por carteiras, impedindo tanto a entrada dela quanto a saída de uma técnica que estava do lado de dentro. "Tinham uns 20 estudantes, de máscara, empillhado mobiliário, tentei argumentar, mas não dava nem para conversar. Com essa violência, temos menos aprendizado, menos ciência", diz ela.

Alicia argumenta que, apesar da reivindicação dos alunos ser para que haja mais professores, eles só estão "piorando a vida dos docentes". "Vai ter que ter um calendário de reposição, que só sobrecarrega mais ainda de trabalho", diz.

O professor Scaff diz que em anos de universidade nunca havia sido impedido de entrar em "em seu local de trabalho", apesar de ter vivenciado outras greves. A diretoria do Faculdade de Direito do Largo São Francisco disse, em nota, que é "inconcebível que docentes sejam impedidos pelos estudantes de ingressar em seu local de trabalho".

Afirmou ainda que a instituição tem "tradição de "Território Livre", o que implica a liberdade de cátedra, o pluralismo de ideias e o respeito às divergências. "A imposição unilateral e excludente de um componente importantíssimo de qualquer instituição de ensino é incompatível com as tradições libertárias e de respeito às diferenças próprias do espírito acadêmico."

Movimento de greve no IME, na Cidade Universitária
Movimento de greve no IME, na Cidade Universitária
Foto: Marcelo Chello/ESTADAO / Estadão

O Estadão esteve na Faculdade de Direito nesta quarta. O principal prédio da unidade está com as duas entradas bloqueadas, com objetos - como lixeiras e bancos de madeira - e com o acesso controlado por alunos.

Em uma negociação com a diretoria da faculdade, na última terça, a administração acatou alguns dos pedidos dos estudantes sob a condição dos alunos desbloquearem as entradas, o que foi negado pelos manifestantes. "Se a gente deixar de controlar as entradas, desfazer o piquete, as aulas vão ser retomadas e tudo vai voltar ao normal", disse ao Estadão um dos estudantes, que pediu para não ser identificado.

Os alunos alegam que não estão impedindo a entrada de professores, mas admitem que o trânsito é facilitado para pessoas que apoiam a greve. Eles reclamaram de professores que passaram a decidir dar dar aulas de forma remota.

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O Estadão também percorreu a Cidade Universitaria, onde constatou que praticamente não havia aulas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Arquitetura (FAU) e na Escola Politécnica. A maioria das entradas estava também fechada com barricadas e estudantes, mas a reportagem não presenciou confrontos.

A assessoria de comunicação da ECA informou que, na unidade, os professores têm respeitado o movimento dos estudantes e interromperam as aulas esta semana. Na Poli, a diretoria suspendendo as aulas da graduação, durante dois dias, em virtude da greve.

Na pós-graduação, algumas aulas continuavam normalmente. No Instituto de Matemática e Estatística (IME), a barreira de piquetes, vigiada por um aluno de graduação, podia ser ultrapassada por professores e alunos da pós. Na Poli, também havia pós-graduandos em atividades.

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