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Greve na USP tem calendário letivo mantido e risco de reprovação por falta; veja o que foi decidido

Em novo capítulo da paralisação iniciada há mais de um mês, estudantes agora ocuparam o prédio da Administração Central

26 out 2023 - 22h38
(atualizado em 27/10/2023 às 20h42)
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Ocupando o prédio da Administração Central, os alunos da Universidade de São Paulo (USP) decidiram nesta quinta-feira, 26, votar pela continuidade da greve estudantil, iniciada em 20 de setembro. A permanência no estado de paralisação foi definida por contrataste (ampla maioria).

Há o risco de os universitários que continuarem em greve até a semana que vem serem reprovados por falta. Uma nova assembleia foi convocada para a próxima quarta-feira, 1.º, para definir os rumos da paralisação.

Estudantes de algumas unidades da USP estão em greve há mais de um mês.
Estudantes de algumas unidades da USP estão em greve há mais de um mês.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Na semana passada, a reitoria decidiu por manter o cronograma do ano letivo para ser encerrado em 22 de dezembro, sem a possibilidade de flexibilizar datas e postergar o fim do semestre para reposição de aulas. "O replanejamento das aulas, caso necessário, ficará a critério dos docentes e das unidades, considerando sua viabilidade e respeitando o calendário letivo", disse a USP em comunicado no dia 19.

A reitoria também determinou um teto para a frequência da presença de aulas a partir da quantidade de semanas que cada faculdade ficou paralisada, como informa uma circular divulgada na terça-feira, 24, pela Pró-Reitoria de Graduação para as unidades. Por exemplo: quem ficou paralisado por uma semana, poderá ter no máximo 95% de frequência se comparecer a todas as aulas; quem paralisou por três semanas, o porcentual de frequência máxima será de 84%.

Porém, para as unidades que ficarem paralisadss por seis semanas (isso vai se completar na semana que vem), os universitários só conseguiriam atingir uma frequência máxima de 68% de presença nas aulas até o final do semestre.

No entanto, segundo o regimento da USP, é obrigatório que os graduandos tenham, no mínimo, um porcentual de 70% de frequência. Ou seja, na prática, como a prorrogação da greve foi aprovada, a medida poderá provocar a reprovação dos estudantes no semestre.

"Caso as unidades mantenham a paralisação por mais esta semana (totalizando seis semanas de paralisação), os alunos poderão ser reprovados por falta", afirmou a reitoria por meio de nota. "Por enquanto, não temos nenhuma unidade nessa situação (que tenham completado seis semanas de paralisação)."

A circular acabou desgastando ainda mais a relação dos grevistas com a reitoria. Os estudantes fizeram protestos contra a medida e ocuparam o prédio da Administração Central. A desmobilização do piquete deverá ser negociada com a reitoria nesta sexta-feira, 27.

Os estudantes alegam que a reprovação de um semestre pode ocasionar em perda de benefícios de permanência estudantil (veja mais abaixo) e causar sobrecarga nas aulas dos próximos semestres, com muitos alunos matriculados em uma mesma disciplina.

De acordo com a assessoria da universidade, ainda estão paralisadas parte da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). "As demais 40 escolas e faculdades da universidade estão com atividades normais", afirmou a USP por meio da assessoria.

No momento, os estudantes estão na quinta semana paralisados. Se tivessem decidido retomar as atividades a partir desta sexta-feira, eles conseguiriam ter uma frequência máxima de 74% das aulas, de acordo com as informações divulgas pela Pró-Reitoria. Isto é, estariam dentro de limite de 70% de presença obrigatória.

Deflagrada há mais de um mês, a greve foi aprovada para pressionar a reitoria por mais contratações de professores e por melhorias na política de Permanência Estudantil. Os grevistas chegaram a negociar com a direção da universidade, que apresentou uma série de compromissos, incluindo a contratação de mais de mil professores. Mesmo assim, as partes não entraram em um acordo.

Medida pode fazer estudantes perderem bolsas de permanência

A decisão da Pró-Reitoria de não mudar o calendário e reprovar os alunos por faltas foi criticada pelos estudantes e até por docentes da universidade. Os alunos afirmam que a medida pode provocar a perda de benefícios e bolsas de permanência que ajudam universitários de baixa renda a se manter na USP.

Segundo a Resolução da Universidade de número 8360, de dezembro de 2022, que Institui o Auxílio Permanência no âmbito da Política de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da USP (PAPFE), duas das condições para alunos de graduação terem o benefício concedido e mantido são:

  • Ter obtido aprovação por nota e frequência em, pelo menos, 20% (vinte por cento) dos créditos em que estiver matriculado(a) no semestre
  • Ter obtido aprovação por frequência em, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) das disciplinas em que estiver matriculado(a)

E, de acordo com o edital do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (Papfe) deste ano, o estudante beneficiário que descumprir os requisitos acima terá a bolsa suspensa.

Professores também criticam medida e pedem por revogação

Em nota, a Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) definiu a medida como "draconiana", e informou que o presidente da Comissão de Graduação, Eduardo Donizeti Girotto, e o diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Paulo Martins, pediram à Pró-Reitoria a revogação da decisão.

Em carta, eles afirmam que "tal medida, se posta em prática, acarretará prejuízos a toda a comunidade da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas", e solicitam autorização para que FFLCH "elabore, após o retorno das atividades, cronograma de reposição das aulas perdidas em função da paralisação, respeitado o calendário acadêmico".

A professora Michele Schultz, presidente da Adusp, diz que a circular é uma retaliação que pune os estudantes, e critica a reitoria por não ser flexível quanto ao calendário letivo. "Os programas das disciplinas foram construídos de acordo com o calendário oficial da USP, cujo encerramento do semestre se daria no 22 de dezembro. Como a PRG (Pró-Reitoria de Graduação) e a Reitoria pressupõem que não será necessária reposição de aulas depois de encerrada a greve?", questiona.

Reitoria afirma que cada unidade poderá adequar cronograma

O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, disse na manhã desta sexta-feira, 27, que a Reitoria "não tem intenção de promover perseguição e retaliação", e afirmou que as unidades terão autonomia para fazer "adaptações de conteúdo" das disciplinas, desde que respeitem o prazo de 22 de dezembro, data que se encerra o ano letivo.

As adaptações, segundo o reitor, tornarão possível o cumprimento da frequência mínima de 70% exigida no regimento da universidade.

"Caberá a cada docente, em consonância com sua unidade, consolidar a frequência dos estudantes no semestre, levando em consideração as situações específicas", afirmou Carlotti Junior em nota. "Com a volta às aulas, não há risco de que alunas e alunos, especialmente do primeiro ano, venham a ser prejudicados", completou.

Estadão
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