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A origem da Olimpíada: Grécia, virtude e beleza

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Gregas interpretam tradicional dança com os arcos que simbolizam a Olimpíada
Gregas interpretam tradicional dança com os arcos que simbolizam a Olimpíada
Foto: Getty Images

Ao que se saiba, nenhum outro povo do passado ou mesmo do presente valorizou a aliança entre a virtude e o vigor físico como o fizeram os gregos antigos. Criaram inclusive uma palavra composta - Kalokagathia - para resumir o ideal humano que tinham em mente. Kálos significa 'belo', Ka, é 'bom', e, por fim, Agathos, está ligada à virtude e à coragem. E esta concepção ideal do ser humano materializou-se tanto nas esculturas e pinturas como no estímulo às guerras e aos Jogos Olímpicos e outras competições que eram praticadas por todo mundo helênico.

O conceito de virtude

Ensina Werner Jaeger (em Paidéia) que foi a gradativa distinção entre as classes sociais, aceleradas depois dos Tempos Homéricos, e o aumento da escravidão entre os gregos, que fez por inflar a obsessão da casta aristocrática (sentindo-se herdeira dos guerreiros e dos heróis imortais) por se distinguir cada vez mais dos outros.

Ainda que ocorresse a eventual substituição na cidade-estado da camada dirigente, a que sucedia, a 'nova classe', por igual herdava os valores da sua antecessora. Mesmo que mais tarde, a partir do século V-IV a.C., houvesse adesão à democracia, Atenas sempre se orientou pelos valores maiores dos aristói ('dos melhores'). Nunca uma ética 'burguesa' predominou entre eles durante o regime popular (para tanto basta consultar os autores trágicos que sempre trataram em suas peças das famílias reais e nunca das comuns).

Não havia dúvida que a nobreza era a 'fonte espiritual pela qual nasce e se desenvolve a cultura de uma nação'. Foram nos Tempos Homéricos (1200 - 800 a.C.) que encontramos as primeiras raízes da celebração do 'homem superior', do 'homem perfeito' que passou ser o modelo do escol da raça na cultura ocidental.

Evidentemente que a procedência disto - a matriz literária de tudo - encontra-se nos dois grandes poemas de Homero: a Odisseia e a Ilíada.

O soberbo vate narrou uma quantidade excepcional de situações (são mais de 27 mil versos) nas quais a virtude do guerreiro aflorava e se destaca em meio à massa dos combatentes anônimos. Não faltavam exemplos; além de Aquiles, Pátroclo, Diomedes, Ajax, Ulisses, o troiano Heitor, e tantos outros mais, eram a prova da existência do 'homem excepcional', do 'fora do comum', devido à valentia, ao destemor pessoal e à absoluta indiferença deles frente à morte.

Cunharam a expressão Aretê, não somente para definir tal excepcionalidade como também para utilizá-la para classificar a superioridade de seres não humanos (como no caso dos deuses). Nenhum escravo ou theta (trabalhador braçal) poderia ser dotado de Aretê. Se por acaso alguém das castas inferiores emergisse para uma posição de destaque na cidade-estado, deus retirava-lhe metade da Aretê, fazendo com que ele deixasse de ser quem era antes.

Isto em razão da virtude, tanto a do corpo como a do espírito, ser um atributo próprio dos aristói, da nobreza governante. Somente ela apresentava a força, capacidade, saúde, vigor e percepção intelectual, além de ser admirada na comunidade em geral pelo respeito que impunha, pelo prestigio que gozava e do bom senso que a orientava. E, certamente, a habilidade física e guerreira que a fazia comandar as operações militares da cidade-estado.

O elmo, o escudo, a espada e a lança de bronze, faziam parte do seu equipamento para dedicar-se ao polemós (a guerra) e ao tempo que imperava a paz vestia-se com trajes civis para dedicar-se à administração das coisas (tanto óicos, a sua propriedade doméstica, como dos assuntos coletivos da pólis).

A Aretê não era percebida como um bem ou uma virtude moral. Ela estava ligada à bravura militar, à valentia, à virilidade, à excelência e à destreza em combate aberto. Designava, como ressaltou W. Jaeger, "o homem nobre que tanto na vida privada ou militar se rege por condutas alheias aos demais homens comuns".

Fonte: Especial para Terra
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