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Você sabe que alianças levaram a Europa à 1ª Grande Guerra?

Entenda como França, Rússia e Inglaterra se uniram para derrotar o II Reich

14 out 2015 - 15h16
(atualizado em 15/10/2015 às 18h03)
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República Francesa, Império Britânico e Império Russo formavam a Tríplice Entente
República Francesa, Império Britânico e Império Russo formavam a Tríplice Entente
Foto: Reprodução

A derradeira coligação entre as principais potências da Europa ocorreu durante o Tratado de Viena de 1815, engendrado pelos vencedores de Bonaparte. O Reino Unido, a Rússia, a Áustria e mais outros reinos menores procuraram reestruturar as fronteiras depois do desaparecimento do Império Napoleônico (substituído pela Restauração dos Bourbon). Assim, o príncipe Klemens von Metternich, ministro da Áustria, formou uma frente conservadora que visava evitar um novo levante popular seguido de uma revolução como se deu na França em 1789.

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Denominaram esta aliança de a Santa Liga ou Santa Aliança (para os legitimistas o poder que desfrutavam derivava de um direito divino e não da vontade geral defendida por J.J.Rousseau).

Procuraram igualmente amparar um sistema que buscasse o equilíbrio de poder formando uma espécie de confraria de nobres e aristocratas que, de Paris a São Petersburgo, mutuamente se amparavam em caso de perigo revolucionário. Pensaram que constituindo um equilíbrio entre os impérios, reinos e principados que venceram Napoleão seria possível sustentar um largo período sem guerras ou revoluções. De fato, mesmo tendo ocorrido as revoluções de 1830 (deposição de Carlos X da França) e as bem mais radicais, como a de 1848 (espalhou-se por grande parte da Europa Ocidental sendo duramente reprimida), e de 1871 (a famosa Comuna de Paris, levante dos trabalhadores reprimida com grande brutalidade), o plano geral de Metternich se sustentou até 1914.

A política do equilíbrio de poder, com o tempo, tornou-se uma armadilha. Quem pertencesse a um dos dois blocos rivais que se formaram no final do século XIX e começo do século XX se comprometia a entrar na luta caso seu aliado o fizesse. O que fora arquitetado para dar paz e tranquilidade a governantes trouxe a matança e a desordem em toda a Europa Ocidental e Oriental.

(*) Historiadores observaram que os Cem Anos de Paz na Europa (1814-1914) não fez com que o restante do mundo estivesse sem guerras. As potências coloniais desviaram sua energia belicosa para as áreas asiáticas, africanas e outras fazendo delas palco de ações de conquistas e domínio.

Tríplice Entente (1907-1917)

A Tríplice Entente (cartaz russo)
A Tríplice Entente (cartaz russo)
Foto: Wikimedia / Reprodução

A palavra "entende" deriva do francês e significa "entendimento", "acordo", "acerto de interesses", e foi largamente utilizada antes da Grande Guerra (1914-1918) para, em primeiro lugar, definir a aproximação da República Francesa com o Império Britânico (denominada como Entente Cordiale, 1904) e, num segundo momento, em 1907, com a adesão do Império Russo na formação de um pacto político-militar: a Tríplice Entente. O seu objetivo principal era formar um cordão de isolamento e contenção do Império Alemão (II Reich, 1871-1918) e seus aliados (O Império Austro-húngaro e o Império Otomano). O acordo entre as três potências, duas situadas na Europa Ocidental (Grã Bretanha e França) e outra na Europa Oriental (Rússia) chamam a atenção para dois aspectos: o primeiro deles é que o acerto entre britânicos e franceses pôs fim a mil anos de guerras e rivalidades entre as duas nações, ajustando um compromisso de mútua assistência em caso de guerra. As mágoas passadas provocadas pela Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e as Guerras Napoleônicas (1798-1815) deviam ser esquecidas para sempre.

O segundo aspecto é que a aliança da república Francesa, liberal-democrática, deu-se com o seu oposto ideológico: o império dos czares. Este era uma férrea autocracia que desconhecia os princípios libertários prezados pela França. A constatação disso é que as tão estimadas Raison d’ état, as Razões de Estado, defendidas pelo Cardeal Richelieu no século XVII, predominaram sobre as bandeiras de ordem político-ideológicas. O perigo representado pelas Potências Centrais (II Reich e o Império dos Habsburgos) fez com que franceses e russos “esquecessem” que viviam sob regimes opostos.  

A maior vantagem que a Tríplice Entente levava sobre a sua rival, a Tríplice Aliança (Alemanha – Áustria/Hungria e Turquia otomana) era de que a esquadra britânica, a maior do mundo, então com 450 navios de guerra espalhados por mares e oceanos, bloqueava os acessos das Potências Centrais aos recursos existentes no além-mar. Enquanto a Rússia, maior produtora de cereais da Europa, privava tanto os alemães como seus aliados de milhares de toneladas de grãos necessários ao pão de cada dia.

O II Reich se sentia como futura vítima de um esmagamento militar e alimentício. Via seus vizinhos a oeste e a leste como se fosse de um enorme garrote ou uma cinta de ferro, que se aproximavam dia a dia das suas fronteiras para liquidar os povos germânicos por sufocação.

Tríplice Aliança

Após ter batido as divisões austro-húngaras na batalha Sadowa, travada em 1866, a Prússia se projetou como o mais importante e poderoso dos estados alemães. Todavia, tiveram que esperar por algum outro acontecimento que, pelo seu impacto, criasse as condições emocionais para a fundação do II Reich. E ele surgiu quando eclodiu a guerra franco-prussiana de 1870, ocasião em que o exército francês se viu obrigado a render-se logo após a batalha de Sedan, travada em 1º de setembro. A dupla vitória sobre o Império dos Habsburgo e sobre Império napoleônico criou os fundamentos político- econômicos para que o reino alemão, denominado desde então com II Reich, fosse visto como uma ameaça a seus vizinhos. A partir da constatação da enorme influência e poder que o II Reich passou a ostentar, econômico e militar, houve uma crescente reação a ele. Seus rivais passaram a ver a Alemanha como se fosse uma colossal montanha pontilhada por canhões, que por feitos da geologia política, tinha emergido das profundezas da terra para assombrar o mundo, ou pelo menos a velha configuração da Europa.

O medo que o Império Alemão causou em seus vizinhos foi o ponto de partida para a corrida armamentista. Nos levantamentos estatísticos feitos no após-guerra, verifica-se o constante gasto em artefatos bélicos nos anos que antecederam a grande catástrofe de 1914. Se seus vizinhos se armavam e se coligavam contra ele, nada restou ao II Reich do que fazer o mesmo, resultando na ampliação dos arsenais europeus com armas cada vez mais mortíferas e com soldados mais bem treinados. Esta ascensão vertiginosa dos armamentos teve como sequência o reforço dos cliques militares (particularmente dos altos oficias prussianos) e sua influência sobre os governantes e diplomatas, o que justifica plenamente o historiador Christopher Clark ter classificado o reino da Prússia como Iron Kingdom (“O reino de Ferro”).

Gradativamente a indústria bélica se tornou uma preocupação hegemônica, particularmente na Rússia, na França e na Alemanha imperial. Daí decorreu a crença popular, derivada de uma das tantas teorias conspirativas de que as guerras eram provocadas “pelos fabricantes de armas” como que isentado os chefes de governo e demais políticos da responsabilidade de terem levado seus povos ao matadouro.

Nesta situação de virtual cerco ao II Reich, o kaiser se aproximou da Monarquia Dual (Áustria-Hungria). Tempos antes, na época do chanceler Otto Von Bismarck (que liderou a Prússia e a Alemanha de 1860 a 1890), ele promovera uma aliança comum com a Rússia, que com a participação de Viena, formavam a liga dos Três Imperadores (1873): o kaiser alemão, o imperador austríaco e o czar russo.

Este acerto tinha propósito não apenas militar, mas ideológico: Berlim-Viena-São Petersburgo compunham uma frente ultraconservadora antiliberal e antidemocrática. Os três imperadores formavam uma barreira para que a democracia não encontrasse nenhuma brecha para adentrar no território deles.

O afastamento de Bismarck da chancelaria em 1890 fez com que a Rússia se desligasse e se aproximasse da republica francesa, deixando o II Reich ameaçado no Oeste e no Leste. O motivo disso foi a negativa do Império Alemão em financiar a industrialização ambicionada pelo czar. Esta situação de ter que lutar em duas frentes tornou-se então o grande quebrar cabeças do estado-maior alemão.

A Itália ocupou durante certo tempo uma posição transitória na Tríplice Aliança. Todavia, quando a Grande Guerra eclodiu, o governo do ministro Gillioti permaneceu neutro. Com receio de perder suas colônias africanas para a Grã-Bretanha, a Itália mudou de lado aderindo em 1915 à Tríplice Entente   

No total, as forças armadas da Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-hungria e Turquia otomano) tinham a sua disposição 144 milhões de pessoas sendo que os homens aptos a servir perfaziam mais ou menos 1/3 disto.

Tratados que antecederam a guerra

   

Dos três imperadores (1873)

Inspirado pelo chanceler Otto Von Bismarck do II Reich, que se coligou com Francisco José, da Áustria-Hungria, e com o czar Alexandre II, da Rússia. O objetivo era impedir a penetração de ideias liberais ou democráticas e isolar ainda mais a França republicana.

Tríplice Aliança (1882)

Após a defecção do czar da Rússia, o II Reich se aproximou da Áustria-Hungria e da Itália (esta se decidiu pela neutralidade quando a guerra eclodiu, sendo substituída pelo Império Turco Otomano.

Do Resseguro (1887)

Reafirmação da aliança entre o II Reich e o czar da Rússia

Aliança Franco-russa (1892)

Distanciando-se do II Reich, o czar procurou aliar-se à França e assim receber empréstimos para desenvolver sua indústria, ferrovias e fábricas de armamentos. Foi o embrião da Tríplice Entente, que serviu para cercar a Alemanha e seus aliados. Isso provocou aceleramento dos planos de guerras, particularmente o elaborado pelo general Von Schliffen, chefe do estado-maior alemão.

Aliança anglo-japonesa (1902 e 1905)

Para impedir que tanto a Rússia como a Alemanha se estendessem sobre a China. A Grã-Bretanha percebeu as potencialidades militares do Japão após a derrota do czar Nicolau II na guerra russo-japonesa de 1905.

Entente Cordial (1904)

Encerrando uma rivalidade de mais de mil anos, França e Reino Unido se uniram contra o II Reich 

Aliança anglo-russa (1907)

Acordo para delimitar as fronteiras de cada um dos impérios na Ásia e na Ásia Menor (Pérsia Afeganistão e Tibete)

Tríplice Entente (1907)

Somatório das alianças bilaterais anteriores que culminaram na formação da Tríplice Entente. Era um cinturão militar que visava isolar as Potências Centrais do Império alemão e Império austro-húngaro. Foi a maior derrota da diplomacia alemão. Isto desencadeou uma acelerada corrida armamentista. 
Fonte: Terra
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