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Lévi-Strauss e o Estruturalismo II

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Nos estudos humanísticos e literários em geral, o estruturalismo foi aplicado o mais eficazmente no campo do "narradologia." Esta disciplina, ainda nascente, estuda todas as narrativas, se elas ou não usam a língua, os mitos, as lendas, as novelas, a circulação das notícias, historias, esculturas de relevo e janelas, as pantominas e os estudos de caso psicológicos. Usando métodos e princípios do estruturalismo, os narradologistas analisam as características e as funções sistemáticas das narrativas tentando estabelecer e isolar um jogo de regras finito para esclarecer o jogo infinito de narrativas reais e possíveis. Começando nos anos 1960, o crítico francês Roland Bartes e diversos outros narradologistas franceses popularizaram o método, que tem desde então transformado um método de análise importante também nos Estados Unidos.

O termo semiótica substituiu gradualmente o de estruturalismo
O termo semiótica substituiu gradualmente o de estruturalismo
Foto: Terra

Estruturalismo, marxismo e freudismo

Ao avaliar as estruturas profundas, subjacentes, que se ocultam por detrás dos fenômenos, escapando do primeiro olhar humano, o estruturalismo aproxima-se das visões de Marx (a infraestrutura econômica) e Freud (o poder do inconsciente). Ambos, como se sabe, entendiam os fenômenos sociais ou comportamentais como obrigatoriamente condicionados por forças impessoais (o Capitalismo, o Superego), deslocando, desde então, o problema do estudo da consciência ou das escolhas individuais para um quadro bem mais amplo, dos macro-sistemas. Ao contrário da ciência de inclinação liberal, para as correntes citadas acima, o indivíduo pouco contava. Tal como o marxismo e o freudismo, o estruturalismo diminui a importância do que é singular, subjetivo, individual, retratando o ser, a pessoa humana, como resultante de uma construção, a conseqüência de sistemas impessoais (no marxismo o indivíduo é marionete do sistema capitalista, na psicanálise, se bem que amparado no ego, ele é regido pelos impulsos do inconsciente, e na antropologia estrutural pelas relações de parentesco determinadas pelo totemismo).

Os indivíduos, por conseguinte, nem produzem nem controlam os códigos e as convenções que regem e envolvem a existência social deles, sua vida mental ou experiência lingüística (é o que Marx quis dizer quando afirmou que "os homens fazem a história, mas não estão conscientes disso"). Em conseqüência desse descaso do estruturalismo pela importância da pessoa, ou do assunto, por ter feito o homem desaparecer na complexa teia da organização social em que nasce e a que pertence, foi considerado pelos seus críticos como um "anti-humanismo."

A semiologia e a semiótica

Tentando responder "o que é a palavra?", que ele entendeu como um signo, formado por conceito e som (o significado e o significante), Saussure deu os primeiros passos para a emergência de uma disciplina nova, uma ciência dos sinais e dos sistemas dos sinais que ele nomeou como semiologia, para qual acreditou a lingüistica estrutural poderia fornecer a principal metodologia. Mais tarde, nos Estados Unidos, batizaram-na de semiótica. Em 1961, Lévi-Strauss situou a antropologia estrutural dentro do domínio da "semiologia." Cada vez mais os termos de semiologia e da semiótica, ciência decorrente da semiologia, vieram a designar um campo do estudo que analisa sistemas, códigos, e convenções de sinal de todos os tipos: do ser humano às línguas do animal, do jargão das formas ao léxico do alimento, das regras da narrativa popular às que compõe os sistemas fonológicos, dos códigos da arquitetura e da medicina às convenções do mito e da literatura.

Os derradeiros

O termo semiótica substituiu gradualmente o de estruturalismo, e o surgimento da Associação Internacional para Estudos Semióticos, nos anos 1960, solidificou ainda mais esta tendência. No momento em que a metodologia do estruturalismo estava se dissolvendo na disciplina da semiótica, uma reação crítica ocorreu, particularmente na França. Surgiram projetos de antítese da parte de cismáticos, tais como Gilles Deleuze ' com sua "esquisoanálise", o "desconstrucionismo" de Jacques Derrida ' e a "genealogia" de Michel Foucault, Estas escolas críticas foram , porém, consideradas como marginais e, depois, etiquetadas dentro do conceito muito amplo do pós-estruturalismo.

Citações

A inutilidade do pensamento científico

De fato, na história da humanidade aconteceu um fenômeno importante, capital, que é o nascimento do pensamento científico e seu desenvolvimento. Esse fato é um valor intrínseco, em si mesmo, que eu realmente coloco fora do relativismo cultural. Agora, se você olha as coisas um pouco mais do alto, dirá que esse pensamento científico que respeitamos e que nos apaixona em seus progressos passo a passo, que se efetua no decorrer dos séculos, anos ou dias, é na realidade profundamente vão. Já que o que nos ensina é, ao mesmo tempo, a melhor compreender as coisas em seus detalhes e que não podemos jamais compreender na totalidade, no conjunto.O pensamento científico, ao mesmo tempo que alimenta nossa reflexão e aumenta nossos conhecimentos, mostra a insignificância última desse conhecimento. Depende do seu ponto de vista e do nível, que é o nosso, o do homem do século XX, do mundo ocidental, o pensamento científico é algo essencial, fundamental, e devemos utilizá-lo. Porém, se nos tornamos metafísicos, diremos que de fato ele é essencial, mas ao mesmo tempo é preciso saber que não serve para nada. (LÉVI STRAUSS, C. Entrevista à Bernardo Carvalho, in FOLHA DE S. PAULO, 22 de outubro de 1989).

Em favor da diversidade cultural

A verdadeira contribuição das culturas não consiste numa lista das suas invenções particulares mas na maneira diferenciada com que elas se apresentam. O sentimento de gratidão e de humildade de cada membro de uma cultura dada deve ter em relação a todas as demais não deve basear-se senão numa só convicção: a de que as outras culturas são diferentes, de uma maneira a mais variada e se a natureza última das suas diferenças nos escapa...deve-se a que foram imperfeitamente penetradas.Se a nossa demonstração é válida não há nem pode haver uma civilização mundial no seu sentido absoluto, porque civilização implica na coexistência de culturas que oferecem o máximo de diversidade entre elas, consistindo mesmo nesta coexistência. A civilização mundial não será outra coisa que a coalizão de culturas em escala mundial, preservando cada uma delas a sua originalidade.

Lévi-Strauss - Antropologia estrutural

Bibliografia

Enciclopédia de Grolier ( de onde foi tirado o arcabouço deste texto)

Groethuysen, Bernard - Antropologia Filosófica ( Lisboa, Presença, 1982)

Lévi-Strauss, Claude - Antropologia Estrutural (RJ, Tempo Brasileiro, 1970)

Lévi-Strauss, Claude - O Pensamento Selvagem (SP, Nacional, 1976)

Lévi-Strauss, Claude - As estruturas elementares do parentesco ( Petrópolis, RJ, Vozes, 1982)

Lévi-Strauss, Claude - Tristes Trópicos (Lisboa, Edições 70, 1979)

Malinowski, R. - Uma teoria científica da cultura ( RJ, Zahar, 1962)

Fonte: Especial para Terra
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