Incel: entenda termo abordado na série da Netflix 'Adolescência'
Termo se popularizou nas redes sociais e possui um significado sombrio
A mais nova série da Netflix, “Adolescência”, se tornou um fenômeno logo na primeira semana de lançamento. A história da produção britânica de quatro episódios gira ao redor de um garoto de 13 anos, chamado Jamie Miller (Owen Cooper), que é preso suspeito de ter assassinado uma colega de turma e nós, telespectadores, acompanhamos a evolução da investigação até o julgamento.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Entre os pontos abordados, o que mais chamam atenção é sobre o comportamento dos jovens, em especial do sexo masculino, e a influência da internet como um potencializador para a violência contra mulheres.
De acordo com a revista “Variety”, a série é uma “análise arrepiante de assassinato e masculinidade tóxica”, abordada na produção como “cultura incel”, que cresceu por meio das camadas das redes sociais.
À plataforma de streaming, Stephen Graham, um dos criadores da série, explicou que a ideia para a história surgiu a partir de uma onda crescente de crimes cometidos por adolescentes com armas brancas no Reino Unido.
Em janeiro deste ano, o primeiro-ministro Keir Starmer chegou a chamar a situação de “crise nacional" e que aquilo era um “novo terrorismo no país, perpetrado por jovens solitários e desajustados em seus quartos, acessando todo tipo de material online, desesperados por notoriedade”.
Após o lançamento da série, nesta sexta-feira, 21, ele afirmou apoiar que a produção fosse exibida nas escolas locais após ser questionado por uma colega. Em sua fala, ele chegou a mencionar que encara como um “problema real” a violência perpetrada por homens jovens, que são influenciados pelo que veem na internet”.
O que é incel?
Se você costuma ser um frequentador das redes sociais, já deve ter topado com o termo em algum momento. Seja de pessoas se autodenominando como pertencentes ao grupo ou alguém sendo taxado desta forma. O termo “incel” é diminutivo da expressão em inglês “involuntary celibates", cuja tradução é “celibatários involuntários”, e existe desde 1997.
Segundo a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (National Library of Medicine), uma das definições atuais do termo é referente a um grupo de pessoas que “sofrem de altos níveis de rejeição romântica e um maior grau de sintomas como depressão, ansiedade, apego inseguro, medo de ficar solteiro e solidão”.
Como o termo surgiu?
Embora seja referenciado majoritariamente por pessoas do sexo masculino, o termo surgiu com uma mulher. Uma estudante universitária chamada Alana criou um site para documentar sua vida amorosa. Rapidamente, a ideia cresceu se transformando em uma espécie de grupo de apoio onde pessoas com experiências semelhantes compartilhavam em fóruns de discussão como se sentiam.
De acordo com o NCBI, após um ataque cometido por um jovem de 22 anos chamado Elliot Rodger, que matou seis pessoas entre esfaqueamentos e tiros, em Isla Vista, na Califórnia, em maio de 2014, o significado do termo mudou para algo mais perigoso e sombrio.
Após cometer o crime e antes de tirar a própria vida, Rodger deixou uma longa carta de 141 páginas onde ele se queixa de sua vida amorosa afirmando não entender por que as mulheres não o queriam, mesmo sendo o “cavalheiro magnífico ideal”. A matança seria uma vingança contra a sociedade, que o privou dos seus “direitos”, definida por ele como ‘Dia de Retribuição”.
Ele foi virtualmente canonizado por fóruns online, o que ressignificando a palavra “incel”. A partir dele, o termo passou a ser usado para definir um grupo de homens que culpavam as mulheres por suas frustrações sexuais, criando um movimento misógino e violento, onde Rodger é considerado uma espécie de “herói” e “mártir”, inspirando réplicas por todo o mundo.
Sendo um dos mais reverenciados, um ataque de van em Toronto, no Canadá, em 2018, cometido por Alek Minassian. Antes de cometer o crime, ele fez uma referência a Rodger, afirmando que a “Rebelião Incel” havia começado.
Preocupação com o público mais jovem
Com a introdução à internet e as redes sociais cada vez mais cedo, os integrantes desses fóruns e grupos online são cada vez mais jovens, muitos deles iniciando a adolescência. Em busca de validação, acabam sendo doutrinados por discursos de ódio com viés misógino, xenofóbicos e entre outros.
“Os mais jovens estão muito mais vulneráveis a esse tipo de radicalização, principalmente quando estão sob estresse e pressões sociais", afirma a psiquiatra da Associação Americana de Psiquiatria Isa Kabacznik em uma entrevista de 2018 à BBC.