O uso do hífen é o que mais gera dúvidas e confusões, pois foram eliminadas regras para seu emprego e acrescentadas novas. A mudança resultou em uma extensa lista de normas e, de acordo com o manual de redação da PUCRS, "há várias exceções, incoerências e omissões". Veja:
1 - O hífen se mantém em palavras compostas e sem elemento de ligação, como guarda-chuva, guarda-roupa, arco-íris, mesa-redonda, vaga-lume. Há exceção para palavras que perderam a noção de composição, como girassol, pontapé, paraquedas.
2 - Palavras também compostas que designam espécies de animais ou de plantas recebem o hífen, mesmo que tenham elemento de ligação. Alguns exemplos são mico-leão-dourado, peixe-espada, erva-doce, pimenta-do-reino. Há exceções quando estes nomes são usados fora de seu sentido original, como, por exemplo, bico-de-papagaio, que designa uma espécie de planta ornamental, e bico de papagaio, que dá nome a uma deformação nas vértebras.
3 - Palavras onomatopaicas, que apresentam repetição de elementos, ou cujos elementos são semelhantes, também recebem o hífen. Entre elas está blá-blá-blá, tique-taque, pingue-pongue, zigue-zague.
4 - O hífen não é usado em palavras compostas que apresentam elementos de ligação, como pé de moleque, dia a dia, fim de semana, ponto e vírgula, cara de pau. Estão incluídos nesse caso também compostos de base oracional, como deus me livre, Maria vai com as outras, leva e traz. As exceções são água-de-colônia, cor-de-rosa, pé-de-meia, à queima-roupa, mais-que-perfeito, ao deus-dará, arco-da-velha.
5 - Deve-se usar o hífen em palavras compostas derivadas de topônimos, aquelas que indicam nomes de lugares, mesmo que apresentem elementos de ligação. Exemplos: belo-horizontino, porto-alegrense, mato-grossense-do-sul.
6 - No caso de palavras formadas por prefixos, o hífen deve ser usado quando o prefixo termina com a mesma letra que inicia a próxima palavra. Tem-se como exemplo micro-ondas, anti-inflacionário, arqui-inimigo, anti-inflamatório.
7 - Quando o prefixo termina com uma letra diferente da que inicia a palavra, então não se usa o hífen, como em autoescola, semicírculo, autoestima e semiaberto. Entretanto, quando a letra que inicia a palavra que irá se unir ao prefixo for H, o hífen deve ser usado. É o caso das palavras anti-higiênico, sobre-humano, geo-história.
8 - São exceções os casos dos prefixos ex, sem, vice, além, aquém, recém, que sempre vão acompanhados de hífen, e pós, pré e pró que, se acentuados, também recebem o hífen. Exemplos: ex-aluno, sem-terra, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular. Já as palavras não e quase quando seguidas de outras palavras devem ser separadas apenas por um espaço em branco, como não agressão e quase irmão.
9 - A regra do hífen entre letras iguais também tem exceção. Em palavras com prefixos pre e re não se deve colocar hífen, mesmo diante da letra E. São exemplos: preexistente, preelaborar, reescrever, reedição.
10 - Quando o prefixo terminar em vogal e a palavra seguinte começar em R ou S deve-se dobrar essas letras, como em minissaia, ultrassom, semirreta. Contudo, em palavras com o prefixo sub ou sob que se unem a palavras iniciadas por R, deve-se usar o hífen. Tem-se como exemplos sub-região, sub-reitor, sub-regional.
11 - Não se usa hífen depois do prefixo co, mesmo quando o segundo elemento se inicia pela letra O ou H. No último caso, o H é retirado da palavra. Alguns exemplos são coobrigação, coabitação, cofundador, coedição.
12 - Os prefixos circum e pan também são acompanhados de hífen quando precederem uma palavra iniciada por m, n ou uma vogal, como circum-murado, circum-navegação, pan-americano.
Fontes: Claudio Cezar Henriques, professor titular de língua portuguesa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e autor do livro A Nova Ortografia: o que muda com o acordo ortográfico; Douglas Tufano, autor do Guia Prático da Nova Ortografia. Silvia Maris Bordini, professora de linguística e da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
Conversor ortográfico disponibilizado pelo Governo Federal:https://www.brasil.gov.br/navegue_por/aplicativos/reforma-ortografica
Muitas palavras estrangeiras já estão incorporadas ao vocabulário da Língua Portuguesa. É normal escutar, por exemplo, que um texto é shakespeariano ou byroniano. Algumas nacionalidades também vêm de idiomas estrangeiros, como kuaitiano, que deriva do nome em inglês do país. Por isso, se viu necessária a inclusão das letras K, Y e W no alfabeto português, mas elas só devem ser usadas em palavras estrangeiras e em alguns nomes próprios. As três letras continuam sendo estranhas à língua e não devem ser classificadas como consoantes nem vogais.
Os acentos diferenciais foram extintos quase que em sua totalidade. Palavras como pêlo, pólo e pára não recebem mais acentos para serem distinguidas das palavras pelo, polo e para. Mas é preciso atentar para algumas exceções. O pôde (verbo poder no passado) e o pode (presente do mesmo verbo) ainda são diferenciados pelo acento circunflexo, assim como no caso do verbo ter no singular (tem) e no plural (têm). O circunflexo para diferenciar o verbo na terceira pessoa do singular e na terceira pessoa do plural ainda está vigente. Em verbos como manter, conter, reter e convir usa-se ainda o acento agudo no singular e o circunflexo no plural. Exemplos: ele mantém / eles mantêm, ele convém / eles convêm.
Há casos também em que o uso do acento é facultativo. São eles o da palavra dêmos (presente do subjuntivo do verbo dar) e demos (pretérito perfeito do indicativo do mesmo verbo), e das palavras fôrma e fórma.
O acento agudo desapareceu em palavras paroxítonas (com a penúltima sílaba forte) quando o U ou o I são tônicos e aparecem depois de um ditongo decrescente. São os casos de feiúra, baiúca, bocaiúva que agora são escritas sem acento: feiura, baiuca, bocaiuva. Entretanto, quando essas vogais forem precedidas de um ditongo crescente, o acento ainda deve ser usado, como em Guaíba, guaíra. Em palavras como saúde e saída, em que as vogais tônicas não forem precedidas de ditongo, o acento permanece.
A nova ortografia determina que paroxítonas com os ditongos (encontro de duas vogais na mesma sílaba) ÉI ou ÓI não são mais acentuadas. Esse é o caso das palavras heróico, paranóico, asteróide, protéico que agora ficam heroico, paranoico, asteroide e proteico. O acento continua existindo em palavra oxítonas (com a última sílaba mais forte) ou monossílabos tônicos, como herói, dói, sóis. Palavras que terminam com ÓIA, ÓIAS, ÉIA, ÉIAS, ÉIO também perderam o acento. Os exemplos de confusão mais comum são ideia, joia, apoia, apoio.
Não se usa mais acento em palavras com vogais iguais uma seguida da outra. Portanto deem (do verbo dar), creem (do verbo crer), leem (do verbo ler), abençoo (do verbo abençoar), voo e zoo não recebem mais acento na primeira vogal.
Com as novas regras ortográficas, o acento no U tônico nos grupos GUE, GUI, QUE e QUI desapareceu em verbos como averiguar, enxaguar. Antes da nova ortografia, as formas averigúe e enxagúe recebiam acento agudo na vogal tônica.
O trema desapareceu em todas as palavras da língua portuguesa, como aguentar, bilíngue, sequestro, tranquilo, frequentar. Mas a pronúncia continua a mesma. Os únicos casos em que o trema ainda existe são palavras estrangeiras, suas derivadas e nomes próprios, como Müller, mülleriano.