Segundo ele, o País perde uma enorme quantidade de talentos por não tornar a pesquisa uma atividade interessante. "O Brasil só vai chegar ao nível das nações desenvolvidas quando valorizar a pesquisa e isso não será alcançado em poucos anos, é preciso uma cultura de gerações."
Embora critique a falta de incentivo, Artur não abre mão de trabalhar no País. Atualmente ele se divide na ponte entre o Rio de Janeiro e a França, com pesquisas no Impa e no Centre National de la Recherche Scientifique, o CNRS, de Paris. "Fiquei cinco anos somente na França, primeiro para terminar o pós-doutorado e depois fazendo pesquisas. Mas aí consegui um acordo para dividir a jornada entre o Rio e Paris". Além da paixão pelas praias cariocas, pesou nessa decisão a oportunidade de fazer pesquisa com talentos brasileiros que ainda podem contribuir muito para o futuro da matemática.
"Eu acho isso muito importante, estar motivado. É o que faz a gente se dar bem no trabalho, a ter reconhecimento e até ganhar prêmios. Se você não se interessar realmente pelos objetos com os quais trabalha, não vai a lugar algum"
"Na área da matemática temos feito um trabalho fantástico aqui no Brasil, porque o Impa funciona muito bem, mas ele ainda é muito pequeno para a nossa necessidade. Precisamos por muito tempo, de investimento pesado para se chegar ao nível da França e de outras nações em pesquisa. E não aceleramos isso mandando pessoas para fora, precisamos também formar gente aqui", diz Artur. Segundo ele, a mudança começa com investimentos pesados nos cursos de graduação.
Doutorado aos 18 anos
Os desafios vieram muito cedo na vida de Artur. Ele concluiu o mestrado no Impa logo após terminar o ensino médio. Quase nem frequentou as aulas do último ano do colégio, aquilo já era muito "chato" para o jovem talento. Aos 18 anos, começou o doutorado e aos 22 já estava no pós-doutorado. A faculdade de matemática na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi feita no mesmo período do mestrado, já que era uma exigência do Ministério da Educação (MEC) que tivesse o diploma de graduação para garantir os títulos de mestre e doutor.
Apesar da precocidade, Artur não se considera um gênio. O segredo, segundo ele, está em fazer o que se gosta. "Eu vou conhecendo tão bem os problemas, que me sinto muito motivado em resolver aquilo que não consigo entender, em quebrar essa barreira. Eu acho isso muito importante, estar motivado. Acho que é isso que faz a gente se dar bem no trabalho, a ter reconhecimento e até ganhar prêmios. Se você não se interessar realmente pelos objetos com os quais trabalha, não vai a lugar algum", completa.
Modesto, Artur não gosta de falar sobre a possibilidade de ganhar a Medalha Fields. O jovem pesquisador de 33 anos diz que na matemática é preciso muito trabalho para se chegar a bons resultados, mas garante que não "força a barra". "Tenho uma vida normal, não fico trabalhando o tempo todo, até porque na matemática funciona muito a base de insights, às vezes quando não estou fazendo nada surge uma ideia resolver uma equação, aí eu começo a trabalhar em cima", conta.
Sobre os planos para os próximos anos, Artur diz que quer continuar fazendo o que gosta: resolvendo problemas interessantes. Convidado a trabalhar em diversas universidades do mundo, ele diz que não troca o Rio de Janeiro. Paris também faz parte do seu futuro. "Lá estão reunidos os melhores pesquisadores, se eu puder continuar nesse trabalho integrado em o Rio e Paris, estarei satisfeito".