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'Matemática é uma ciência que ajuda a pensar'

Para Eduardo Guéron, coordenador do Profmat na UFABC, é urgente mostrar que a disciplina está em vários aspectos da vida, embora muitos não consigam ver

30 abr 2021 - 05h10
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"Meu filho adora Matemática." A afirmação é feita com orgulho por pais cujos filhos mostram afinidade com a ciência dos números. E chegam até a causar uma "inveja" naqueles cujas crianças têm excelente aptidão artística ou literária. Isso reflete o que mostram os dados no Brasil: muito pouca gente sabe o que deveria da disciplina. Segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, só 5% dos alunos chegam ao fim do ensino médio com aprendizado adequado em Matemática. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) apontam que sete em cada dez estudantes brasileiros de 15 anos não possuem nível básico de conhecimentos da disciplina.

Parte da mudança desse cenário tem relação com a formação dos professores. É para eles que a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) organiza o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat), em universidades pelo País. O público-alvo são docentes que dão aulas nos anos finais do fundamental e no médio, com prioridade aos educadores da rede pública.

"Queremos melhorar a formação como um todo, para proporcionar um ensino de Matemática mais avançado. Há muitas discrepâncias. Temos professores do médio com doutorado, que produzem pesquisas e artigos, e outros que atuam há mais de 30 anos com formação limitada", diz Eduardo Guéron, coordenador do Profmat na Universidade Federal do Grande ABC (UFABC). Confira:

Como o mestrado se estrutura?

O objetivo é ajudar os professores a entenderem a Matemática com mais profundidade, saber os contextos, ter acesso ao que há de mais atual em pesquisas. No fim da formação, defendem um trabalho no qual demonstram a aplicação prática de teorias em sala de aula, para tornar mais estimulante o aprendizado. Também tratamos da interdisciplinaridade, pois a Matemática é importante em diversas áreas; a Biologia, por exemplo. Mostramos como ela está presente nos mais diversos temas, nos quais muitas pessoas não a veem.

A busca do mestrado por professores da educação básica da rede pública recai mais na necessidade de aprender melhor a disciplina ou aperfeiçoar a didática?

Em geral, para se aprofundarem na disciplina e, consequentemente, melhorar seu ensino como um todo. É unânime entre os professores que conversei que a maneira como passaram a ensinar Matemática foi modificada. Todos se sentem mais seguros em fazer demonstrações e passam a mostrar aos alunos como são obtidos os resultados. Tudo fica mais encadeado e lógico. Um me disse explicitamente: "É muito legal ver como os alunos se interessam quando mostramos o porquê das fórmulas serem como são e toda a história por trás".

Você acredita que o rendimento em Matemática abaixo da média dos nossos estudantes do médio no Pisa é resultado de um letramento na disciplina deficiente lá nos anos iniciais?

A meu ver, em todos os níveis. Há uma desvalorização fora da escola também do conhecimento de Matemática. Mesmo os pais imaginam que é um punhado de fórmulas chatas. Há pouquíssimo espaço na mídia para discussões de Matemática e científicas em geral. Deveria aparecer mais. Costumo brincar que seria legal se os narradores de esportes radicais passassem a nomear manobras como 360, 540, que são números associados a ângulos em grau; em radianos, fulano fez um 2Pi, um 3Pi. Um exemplo de popularização da Matemática no exterior: antes da adoção do euro, a nota de 10 marcos alemães tinha a foto do matemático Carl Friedrich Gauss, até com um gráfico da curva da distribuição normal. Ao ver essa nota, as pessoas ficavam com as imagens na cabeça e, quando aprendiam sobre gaussiana em um curso básico de estatística, faziam a associação.

E exemplos no Brasil?

Aqui se dá espaço apenas a previsões estatísticas sobre chance de rebaixamento de um time, que nada mais são do que previsões estatísticas incompletas. Há necessidade de cultura científica e a Matemática entra desde a base. Entender Matemática também é aumentar a capacidade crítica, um pouco de probabilidade básica, por exemplo, é capaz de nos vacinar contra charlatanismos de "coincidências", um pouco de lógica básica nos desenvolve a capacidade argumentativa, e assim por diante.

O engajamento dos alunos em Matemática é um grande desafio. Como tratar isso com os professores que estudam no curso?

Para o engajamento no estudo da Matemática, temos de pensar em como o aprendizado é construído. Ao contrário de disciplinas como a Química, por exemplo, que é geralmente apresentada no fim do fundamental ou no 1.º ano do médio, a Matemática começa a ser tratada na educação infantil. Isso envolve um processo de construção de saberes muito longo e, se houver uma falha no meio desse desenvolvimento, o aluno paga um preço alto no futuro. Algo que foi aprendido de forma incorreta no 5.º ano do fundamental é carregado para frente e vira uma bola de neve. Outro grande problema é a aplicação da Matemática como um punhado de fórmulas a serem decoradas. Deve-se estimular uma mudança de mentalidade, mostrar que há um encadeamento lógico e que, como já dito, está presente no cotidiano das pessoas. É uma ciência que ajuda a pensar.

Estadão
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