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MEC quer mudar critérios de avaliação de escolas no Enem

8 set 2014 - 08h20
(atualizado em 11/9/2014 às 16h16)
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A avaliação em que se baseia o ranking do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), tão divulgado pelas escolas de melhores notas no exame, deve mudar. A vontade partiu do presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Francisco Soares, e foi anunciada no 1º Congresso Abril Educação, realizado no mês de agosto. Além da nota obtida na prova, deverão ser levados em consideração fatores como o nível socioeconômico dos estudantes, formação dos professores, organização dos turnos na escola.

O objetivo da mudança é evitar "comparações injustas" entre as escolas. De acordo com a assessoria do órgão, os novos critérios ainda não valerão para a próxima edição e não há previsão de aplicá-las.

Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE-UFMG) Niegel Brooke, o Inep pretende, dessa maneira, fazer uma comparação mais legítima sobre a educação brasileira. “Quanto mais se aprende sobre uma escola, mais próxima da realidade, da competência real dela nós ficamos. É preciso entender, por exemplo, o motivo pelo qual escolas com um perfil de alunos semelhantes apresentam posições diferentes no ranking divulgado pela imprensa. Precisamos saber como o tipo de formação que distingue essas instituições, isso vai permitir uma apreciação mais consistente das causas dessas discrepâncias.”

Brooke não vê problemas em comparar colégios, desde que eles estejam no mesmo nível, ou seja, que os alunos vivam em uma situação socioeconômica semelhante. Na concepção dele, por exemplo, não se deve comprar uma escola de elite com uma localizada na periferia pobre, porque a realidade de ambas são muito diferentes e não se apreende nada dessa comparação e que esse resultado seja completo. “Esse resultado precisa também ser completo. O ranking às escuras, que fornece informações sobre quem realiza o exame, não auxilia pais ou autoridades para tentar reverter a situação da educação. O ranqueamento precisa ser útil, completo, criterioso e agregar informações importantes e é o que o Inep está tentando fazer agora.”

Além das mudanças que foram propostas por Soares, o professor da FaE-UFMG acredita que seja importante acrescentar aos critérios de avaliação informações sobre o nível salarial dos professores, quantidade de alunos por educador e outras questões relacionadas ao funcionamento da escola. Isso porque muitos pais usam os resultados do Enem para escolher a escola dos filhos.

A prova feita anualmente tem conquistado cada vez mais espaço nos processos de seleção do País, e as escolas de ensino médio estão em constante processo de adaptação curricular para contemplar as habilidades requeridas pelo exame. A corrida para fazer com que os estudantes conquistem vagas nas universidades e a propaganda feita pelas escolas que obtêm boa colocação no ranqueamento geral não é malvista pelo pesquisador. “As escolas, principalmente, as privadas sabem que a conquista do futuro cliente depende do sucesso nessa empreitada. Não acho fora de propósito esse tipo de propaganda, porque é essa informação que os pais procuram. Eles querem aumentar as chances do filho de ir para uma boa universidade. Contudo, eles não podem se guiar somente pelo ranking, porque isso isolado não é suficiente para tomada de decisão, são necessários outros indicadores que permitam entender o trabalho desenvolvido pela escola”, diz Brooke.  

Enem dita mudanças na grade curricular

O Colégio Ari de Sá Cavalcante (CE), instituição privada, conquistou a quinta posição no último ranking divulgado. O resultado, segundo o diretor de ensino do local, Ademar Júnior, é consequência de uma adaptação que começa no ensino fundamental e vai até o médio. “Criamos, no ensino médio, uma disciplina de revisão do conteúdo do ensino fundamental, aumentamos disciplinas de português e matemática e reestruturamos as de ciências da natureza. Percebemos que não eram necessárias tantas aulas de física no terceiro ano, então, aumentamos a carga das de matemática, de filosofia e sociologia. Fazemos essas alterações à medida em que percebemos mudanças no perfil do Enem. Ele é, sem dúvida, o grande norteador do nosso conteúdo programático.”

Devido à importância dada ao exame pelas universidades cearenses, o ensino médio é totalmente focado na prova, mas, na sexta série, por exemplo, já há aulas de lógica. No Ari de Sá Calvacante, mais de 92% dos alunos realizaram o teste em 2013, houve 11 simulados nos moldes do Enem.

“O Enem tornou-se a avaliação que define o futuro dos estudantes. O grau de preocupação em torno dos resultados é cada vez maior. Não posso afirmar com 100% de certeza, por isso, abro duas possibilidades. A preocupação em garantir bons resultados pode deixar de lado elementos importantes que devem ser tratados no ensino médio, como criação de valores e noção de cidadania. Esse estreitamento pode provocar prejuízos, porque a preocupação passa a ser aquilo que cai na prova. Por outro lado, esse modelo é mais dinâmico, requer a aplicação de conhecimentos para problemas cotidianos, não é decoreba de conteúdo, mas, sim, a aplicação dele e está mudando positivamente a grade de ensino e a maneira de ensinar”, afirma o professor da Faculdade de Educação da UFMG. “A gente acredita nesse exame como um grande norteador para melhorar a educação no Brasil, porque os estudantes precisam mudar e fazer uma análise crítica do contexto geral”, diz o diretor de ensino na escola.

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Fonte: Terra
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