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O que significa uma criança alfabetizada? MEC vai ouvir professores para saber

Governo Lula, no entanto, ainda não anunciou se vai avaliar os alunos do 2º ano do ensino fundamental

22 mar 2023 - 12h30
(atualizado às 13h01)
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O Ministério da Educação (MEC) vai ouvir professores e professoras para entender o que sabem as crianças que estão alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental, momento considerado ideal pelas diretrizes nacionais para ter esse nível de aprendizagem. A ideia é que essa pesquisa influencie as políticas do País na área, já que atualmente Estados e municípios usam parâmetros diversos e avaliações próprias para definir a alfabetização. O exames mais recentes mostram que, durante a pandemia, passou de 15% para 34% o índice de alunos que não sabem ler e escrever ao 7 anos no Brasil - os mais pobres foram ainda mais afetados.

"Precisamos definir padrões para saber o que significa uma criança alfabetizada. A pesquisa vai nos dar um norte", disse o ministro da Educação, Camilo Santana, nesta quarta-feira, 22, no lançamento do programa Alfabetiza Brasil.

A pesquisa será feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), órgão do MEC, com 341 professores que dão aulas no 2º ano de 291 municípios, entre os dias 15 e 23 de abril. Depois disso, segundo ele, o governo federal deve lançar uma política nacional de alfabetização, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "O presidente está ansioso. Vamos fazer tudo com muito diálogo e consensos", completou o ministro.

Aos professores alfabetizadores serão apresentadas questões sobre leitura, escrita e fluência e eles responderão se seus alunos são capazes de realizar. Os profissionais indicados pelas prefeituras para serem ouvidos pelo Inep precisam ter no mínimo cinco anos de experiência com alfabetização e serem conhecidos nas redes pela excelência no trabalho.

O MEC, no entanto, não deixou claro se vai voltar a avaliar as crianças do 2º ano. Uma prova nacional de alfabetização, a ANA, foi realizada pela primeira vez no País em 2016 e depois voltou a ser aplicada nos últimos anos apenas de forma amostral, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

"Essa prova amostral não serve para nada, é jogar dinheiro fora. Precisamos saber como está a alfabetização em cada município, em cada escola", afirmou o diretor da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) Alessio Costa Lima.

A cobrança foi feita durante o evento. Em sua fala, o ministro da educação disse apenas que as crianças serão avaliadas, inclusive pela sua fluência em leitura, mas não deu detalhes de como ou quando a prova acontecerá.

O teste de fluência, que mostra em quanto tempo um aluno consegue ler uma quantidade específica de palavras, é comum no Ceará, Estado considerado referência em alfabetização e de onde Camilo foi governador durante oito anos. No entanto, há educadores que rejeitam a prática por acreditarem que ela não demonstra necessariamente que a criança entende o que lê.

A avaliação da alfabetização no Brasil já ocorre há cerca de 20 anos por iniciativa dos Estados e municípios. Ela começou no Ceará e em Pernambuco e hoje está presente em quase todos. "Cada sistema foi estabelecendo o que considerava adequado como desempenho para a criança alfabetizada, mas são muito discrepantes", disse o presidente do Inep, Manuel Palácios.

Segundo ele, a ideia agora é preencher uma lacuna porque o próprio Inep não havia determinado o que significava uma criança alfabetizada. "Queremos promover um entendimento entre todas as redes e em especial com os profissionais que atuam sobre como interpretar esse objetivo tão importante." Segundo o Inep, o resultado da pesquisa com professores vai ajudar a indicar na avaliação nacional, o Saeb, o ponto específico em que uma criança será considerada alfabetizada.

Cinco capitais vão concentrar a pesquisa: São Paulo, Belém, Porto Alegre, Recife e Brasília. Um pré-teste da pesquisa foi realizado com professores do Distrito Federal. "São os professores que vão tocar o processo. A construção precisa começar com quem implementa e não de cima para baixo", disse a secretária de educação do DF, Hélvia Paranaguá, também presente ao evento.

A alfabetização é considerada etapa crucial para o desenvolvimento escolar das crianças. A forma de ensinar a ler e escrever foi tema de polêmica durante o governo Bolsonaro. O MEC na gestão anterior defendia a chamada alfabetização fônica, que se baseia no som das letras, e fez parcerias apenas com prefeituras que aceitassem esse tipo de método. Pesquisas mostram que as melhores iniciativas de educação mesclam métodos - construtivista, fônico, silábico - de acordo com cada etapa da criança, com cada aluno, para garantir uma alfabetização plena.

Estadão
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