Medalhista olímpico une judô e matemática: 'Meu cérebro mudou bastante'
Em entrevista exclusiva para o Terra, Leandro Guilheiro contou sobre o amor pelos números e seu trabalho como técnico do Pinheiros
Um dos maiores nomes do judô brasileiro, Leandro Guilheiro nutre uma paixão bem diferente do tatame: é professor e entusiasta da matemática. Em entrevista exclusiva ao Terra, o medalhista de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, revelou como começou o amor pelos números em meios aos ippons e wazari. Atualmente, ele tenta aliar o conhecimento dos livros com a experiência no esporte na função de head coach do Esporte Clube Pinheiros.
"Na verdade, eu sempre gostei de matemática desde o ensino médio, mas comecei a estudar realmente no ensino superior e, depois, no mestrado, a minha curiosidade foi sendo muito mais aguçada. A gente vai querendo aprender cada vez mais, se aprofundar, mas eu diria que ultimamente, nos últimos anos principalmente, quando eu comecei a estudar no ensino superior e na pós-graduação, foi que realmente meu desejo foi ficando mais aguçado", revelou.
Muitos adultos brincam que a matemática, em grande parte, não serve para a vida, que só as questões básicas da matéria realmente fazem a diferença após a escola. Porém, se engana quem pensa assim. A matemática nada mais é do que o exato, o raciocínio lógico, a soma, subtração, reflexão, e, principalmente, concentração. Na vida de Guilheiro, a matéria vai além dos números. Agora, ele usa os ensinamentos da sala de aula para potencializar os seus alunos no judô.
"No dia a dia, uso a matemática na forma de pensar. A maneira de raciocinar, de como você organiza as ideias, e de como você pensa os conceitos faz com que o seu cérebro realmente mude muito, pelo menos o meu mudou bastante. Acho que isso é um dos principais ganhos do estudo da matemática. E, obviamente, você acaba aplicando também alguns aspectos de organização. Você usa realmente a matemática aplicada, probabilidade e algumas ferramentas de estatísticas para organizar e potencializar o desempenho dos atletas", revelou.
Para Guilheiro, a matemática é ensinada de maneira muito mecânica no colégio: “Muitos alunos decoram algumas fórmulas, algumas equações e tentam aplicar. Isso acontece muito na física também, e o aluno acaba se frustrando porque não construiu aquilo de forma lógica. Se ele aplica a fórmula, por determinado problema aquilo não dá certo, ele acaba se frustrando."
O judoca avaliou que a matemática tem uma linguagem que as pessoas não estão habituadas, com símbolos, números e letras. Se você não tem certo nível de proficiência, você acaba em uma barreira, e a lógica do mundo dos cálculos pode ajudar no desenvolvimento das pessoas para captar melhor diversas outras situações.
"Quando eu vou aprender alguma coisa, eu tento deixar aquilo mais básico. E aí eu tento construir aquilo de uma forma que para mim seja lógica, que eu consiga compreender, que eu nunca mais esqueça. Aí eu posso passar pra próxima fase e assim por diante. Eu vou construindo o pensamento e o aprendizado", argumentou Guilheiro.
E o esporte entra como ferramenta de aprimoração da educação, não apenas a formal do colégio ou da família, é uma ferramenta de aprendizado em vários aspectos, de superação, de não imediatismo --que é uma coisa que acontece muito na geração atual.
"O esporte traz alguns benefícios assim em relação ao seu aprendizado, a sua maturidade e então é algo que obviamente eu sempre recomendo. E eu digo que o esporte competitivo traz alguns outros aprendizados além do esporte puro. É quando você tem um objetivo esportivo e você treina para uma competição. Às vezes, você depara com derrota ou com a vitória. Isso tudo traz uma bagagem de aprendizado que na minha vida foi importante. É muito importante. Eu não consegui imaginar o que seria de mim. Como eu seria sem ter vivido tudo isso", opinou o medalhista olímpico.