Menino com TEA é aprovado em vestibular de engenharia aos 9 anos e cataloga 250 exoplanetas
A família descobriu que Miguel era superdotado após o diagnóstico de autismo
Aprovação em um vestibular de Engenharia, acompanhamento de aulas em uma universidade, catalogação de mais de 250 exoplanetas e 56 asteroides, conquista de 68 medalhas em Olimpíadas de Matemática, e grande conhecimento sobre dinossauros. Essas qualidades poderiam estar no currículo de um grande cientista, mas, na verdade, estamos falando de Miguel Rosa dos Santos, um garoto de 9 anos de idade, superdotado e no espectro de autismo.
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O garoto de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, desde cedo mostrou ter características únicas em seu desenvolvimento. Filho da professora Josiane dos Santos, ele foi diagnosticado cedo com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desde bebê, seus pais perceberam que Miguel se desenvolvia muito rápido, e tinha um interesse especial por matemática e dinossauros.
"Aos 4 anos, ele já dominava a tabuada e estava começando a entender conceitos como raiz quadrada e exponenciação", conta Josiane ao Terra.
O diagnóstico de autismo fez com que a família atribuísse essas habilidades extraordinárias ao transtorno, sem imaginar que ele também possuía superdotação.
Um ano sem ir à escola
Com idade para ser matriculado na pré-escola, Miguel não pôde frequentar as aulas, porque a família descobriu uma doença cardíaca. A condição fez com que o garoto passasse quase um ano inteiro entre idas e vindas do hospital.
"Em 2019, ele não frequentou a escola. Em 2020, ele iria para o Pré-2, e veio a pandemia. Ele veio a frequentar, mesmo, a escola, em 2022, no segundo ano, mas já foi sabendo ler e escrever, e fazer as operações de matemática", lembra a mãe.
Na escola, os professores diziam que Miguel tinha um comportamento atípico, e alguma dificuldade de socialização, mas os pais atribuíam a questão ao autismo. A família buscou acompanhamento com neuropsicopedagoga, neurologistas e psicólogos.
"Começamos a investigar, fomos atrás. A neurologista não fechava o laudo, então fomos a um especialista em autismo. Ele disse que, além do autismo, no mínimo ele tinha altas habilidades, e sugeriu que a gente fizesse uma avaliação e teste de QI", acrescenta.
O resultado dos testes apontou que Miguel tem altas habilidades, a chamada superdotação. Atualmente, ele é filiado à Mensa Brasil, uma associação internacional que identifica e associa pessoas com altas habilidades.
Altas habilidades
Entre as conquistas de Miguel, ele já passou no vestibular de Engenharia Mecatrônica na Unesp de Presidente Prudente, mas, pela idade, não pôde cursar o ensino superior. Sendo assim, o garoto foi convidado a ser um "aluno ouvinte" das aulas de pós-graduação em Física.
"Ele diz que se sente desafiado e motivado", conta a mãe, orgulhosa.
Já o interesse por astronomia surgiu de uma forma curiosa. Ao descobrir que os dinossauros foram extintos por meteoros, Miguel voltou seu foco para o espaço. Desde então, ele já catalogou mais de 250 exoplanetas e detectou 56 asteroides preliminares. Além de participar de programas da NASA, o garoto também já foi premiado por suas descobertas.
Apesar das inúmeras conquistas, Miguel precisou lidar com o bullying na escola, e chegou a ser agredido fisicamente. Foi quando a família optou por trocá-lo de colégio que ele passou a ser acolhido como deveria.
"Infelizmente, o preconceito é a pior parte de tudo. Já falaram que ele é inteligente, mas 'não tem cara de autista'. Desde quando autista tem cara? Só a gente, que está aqui 24 horas,0 sabe as dificuldades, e ele evoluiu bastante com as terapias", reforça Josiane dos Santos.
Atualmente, Miguel se destaca principalmente em matemática, física, biologia e raciocínio lógico. Ele sonha em entrar no ITA até os 14 anos de idade, e criar uma "NASA brasileira", mostrando sua ambição de se tornar engenheiro aeroespacial.
O garoto também faz parte do Parlamento Jovem da Câmara Municipal de Presidente Prudente, e acompanha as sessões.
"Ele é o vereador mais jovem do Brasil, do Parlamento, e entrou porque ele quer entender e participar. Ele entrou por meio de um concurso cultural, foi eleito e diplomado no começo do ano, e participa ativamente", diz a mãe.
"Ele acompanhou a aprovação do orçamento para o ano que vem, e a primeira coisa que ele notou foi que não tinha uma verba específica para Ciência e Tecnologia. Ele falou: 'Isso tá errado, tem que investir mais'", lembra Josi.
Apesar das altas habilidades e de certa maturidade intelectual, Miguel ainda é criança, brinca e se diverte aprendendo, ao seu modo. Segundo lembra a mãe, o menino fala que competir em olimpíadas de conhecimento é uma das coisas favoritas que faz, já que ele não pode fazer nenhum tipo de atividade física por causa do problema cardíaco.
"Então, competir em olimpíadas entra em primeiro lugar. Depois, jogos de tabuleiro e de raciocínio", continua Josiane.
Miguel também é fã de montar brinquedos com ajuda de ferramentas e robótica, construindo as próprias brincadeiras.
"Ele é criança do jeito dele, e a gente aceita do jeito que ele é e apoia", completa a mãe, que garante que o garoto tenha um ambiente seguro e acolhedor para desenvolver suas habilidades cada vez mais.