Mercadante: Brasil precisa que jovens falem mais de um idioma
Para viabilizar a ida dos estudantes a países em que não se fala português, o Ciência sem Fronteiras não exige mais nível de proficiência
O ministro da Educação Aloízio Mercadante disse nesta sexta-feira, em Lisboa, que o governo quer estimular a formação de pesquisadores inscritos no Programa Ciência sem Fronteiras para que tenham proficiência em idiomas estrangeiros, como inglês, alemão, mandarim e francês.
"Precisamos estimular os jovens a falar mais uma língua, a conhecer e ter competência específica em outras culturas", disse Mercadante ao sair de reunião com o ministro da Educação e da Ciência de Portugal, Nuno Crato. "Se a gente deixar, vem muita gente para Portugal. Tem que continuar vindo, mas temos que estimular que tenham proficiência em outras línguas', disse.
Pelo Programa Ciência sem Fronteiras, 9.691 candidatos da graduação que apresentaram pontuação acima de 600 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poderão escolher outros destinos para fazer parte dos créditos dos seus cursos nas áreas de engenharia, tecnologia e biomedicina nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Austrália, no Canadá, na França, na Alemanha, na Irlanda ou na Itália.
Para viabilizar a ida dos estudantes brasileiros a países em que não se fala português, o governo não está exigindo o nível de proficiência pedido nos editais anteriores e está fornecendo formação complementar (presencial ou não) em outros idiomas. Já está acessível a versão on-line do curso Inglês sem Fronteiras. Segundo Mercadante, nos dois primeiros dias de inscrição, 50 mil pessoas matricularam-se para fazer o curso a distância.
O ministro nega que a flexibilização das regras seja para compensar as deficiências de formação em língua estrangeira dos alunos brasileiros. "Não é verdade que os estudantes brasileiros tenham dificuldade extrema com língua estrangeira. Eles não tiveram oportunidade. Os bons alunos pobres estão aparecendo no Enem", disse.
Embora seja comum em Portugal haver cursos integralmente em inglês (mesmo na graduação), na maioria das universidades portuguesas onde estão inscritos os alunos do Programa Ciência sem Fronteira não há testes de avaliação para língua estrangeira. Atualmente, Portugal é o principal destino do programa.
Paralelamente à orientação do governo federal em estimular estudantes brasileiros para procurar outros países que não Portugal para sua graduação sanduíche (modalidade de ensino superior na qual o estudante faz parte dos seus estudos em uma instituição estrangeira), foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo reportagem dizendo que sete de cada dez estudantes brasileiros em Portugal (total de 2.587 bolsistas do Programa Ciência sem Fronteiras) foram para universidades classificadas abaixo das principais universidades brasileiras (segundo ranking SCImago, que classifica locais para estudar na América Latina, Portugal e Espanha).
O ministro da Educação e Ciência de Portugal, Nuno Crato, disse que houve "exagero jornalístico" na notícia, que também repercutiu em Portugal. "Tivemos a oportunidade de ouvir o ministro Mercadante e observar que existe por parte do governo brasileiro e dos acadêmicos brasileiros um grande reconhecimento do ensino que é ministrado em Portugal. Não há reticências em relação a Portugal".
Mercadante disse que Portugal tem oito universidades bem posicionadas nos rankings europeus de classificação e que também há projetos de excelência, como o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia na cidade de Braga (Norte de Portugal), onde ele assina amanhã acordo de cooperação para participação de pesquisadores brasileiros no centro, que com as dificuldades de Orçamento público de Portugal e da Espanha (parceira no laboratório), só tem previsão de funcionamento pleno em 2014.
Além de tratar do Programa Ciência sem Fronteiras e do laboratório de nanotecnologia, Mercadante e Crato acertaram fazer uma conferência em junho próximo para fechar outros projetos de cooperação permanente entre os dois países. Até lá, os dois ministros deverão se empenhar para resolver o problema de reconhecimento dos diplomas dos engenheiros portugueses que queiram trabalhar no Brasil .
Nuno Crato estará no Brasil nos dias 18, 19 e 20 de março para tratar do reconhecimento dos títulos dos engenheiros portugueses e também visitará a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz (Rio de Janeiro), o Parque de Ciência e Tecnologia (Campinas) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).