Na era tecnológica, ganha quem sabe programar
Instituições do País oferecem cursos para profissionais de fora da computação se familiarizarem com os códigos que regem as tecnologias à sua volta
"Se eu fosse um estudante francês e tivesse 10 anos de idade, acredito que seria mais importante aprender a programar do que a falar inglês. Não estou dizendo que as pessoas não devem aprender o idioma, mas essa é uma linguagem que você pode usar para se expressar com sete bilhões de pessoas no mundo." A declaração do CEO da Apple, Tim Cook, dada a um site francês ressalta a importância de expandir o ensino de programação para além dos especialistas em tecnologia.
Trata-se de uma iniciativa que ganha força no mundo, graças aos avanços tecnológicos que vêm transformando o dia a dia de profissionais de várias áreas, que passam a contar com equipamentos, ferramentas ou até parceiros de trabalho controlados por softwares.
Sintonizadas com tais ideias, instituições do País oferecem cursos para profissionais de fora da computação se familiarizarem com os códigos que regem as tecnologias à sua volta. Desde 2013, a Fundação Getulio Vargas (FGV) ensina programação nas graduações de Direito, o que gerou frutos. Das suas salas, saíram fundadores de law techs como NetLex, de gestão de documentos em escritórios de advocacia e setores jurídicos de empresas, e Acordo Fechado, plataforma de negociações e conciliações.
Em 2019, a instituição criou o curso de curta duração Lawtechs: Programação para Advogados e Empreendedores, para advogados, juízes e outros profissionais do ramo. "Ele capacita alunos de Direito na linguagem Python para o desenvolvimento de programas de computador. Um exemplo de exercício é a montagem automatizada de partes de um contrato", explica Ivar Hartmann, co-coordenador do curso, com 60 horas de duração.
A experiência em mesclar tecnologia com legislação culminou na criação de uma pós-graduação que abrirá sua primeira turma em 2020: a Latin Legum Magister - LL.M em Direito: Inovação e Tecnologia. Além de abordar os fundamentos de programação, o curso de 360 horas incluirá temas tecnológicos, como direito para startups e crimes virtuais.
Bisturi e código
Na unidade de ensino do Hospital Albert Einstein, o curso de atualização Big Data, Analytics e Inteligência Artificial para Lideranças na Saúde aproxima médicos e gestores hospitalares de gadgets, cada vez mais presentes em hospitais, clínicas e consultórios. "Saber programar dá mais autonomia na análise de dados, é uma competência do profissional do futuro", diz Andrea Thome Suman, coordenadora do curso. "Ele pode, por exemplo, ser um 'tradutor' entre cientistas de dados e profissionais de saúde."
Com carga horária de 48 horas, o curso aborda, entre outros aspectos, como as tecnologias atuam na identificação de padrões, na predição de doenças ou na prescrição de tratamentos mais efetivos.
"A maioria das pessoas, quando vê uma tela preta com códigos, pensa que é algo de outro mundo. Mas programação é só uma linguagem como as outras. Tem suas complexidades, porém o básico não é difícil de aprender. Os nossos alunos conseguem pôr um site básico na internet, programado por eles mesmos, em poucas horas", diz Ramon Bez, fundador da escola Growth Hack.
O curso é feito de forma remota, com monitoria diária. A proposta é auxiliar na criação de sites e aplicativos, além de entender recursos pedidos por clientes, como chatbots de atendimento ao público.
E há demanda por programadores no País. "O crescimento exponencial na oferta de empregos na área de tecnologia levou a uma carência de profissionais com essas competências. São milhares de vagas abertas sem mão de obra qualificada", afirma Richard Vasconcelos, fundador e CEO da LEO Learning Brasil, empresa educação corporativa digital.
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), até 2024 a demanda por profissionais de tecnologia será de 70 mil ao ano - hoje, 46 mil pessoas com perfil tecnológico são formadas anualmente no País.
Funções e salários na programação
- Especialista/cientista de dados: Lida com organização de dados, levando a novas aplicações. Entre R$ 13,1 mil e R$ 26,7 mil.
- Desenvolvedor full-stack sênior: Atua com programação e outras tecnologias do sistema. De R$ 8,1 mil e R$ 16,5 mil.
- Desenvolvedor mobile sênior: Cria softwares e recursos para dispositivos móveis. Entre R$ 7,7 mil e R$ 15.750.
- Desenvolvedor back-end pleno: Trabalha com a programação de servidores. De R$ 4.650 a R$ 9.432.