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Na pandemia, 67% dos alunos têm dificuldade de organização

Levantamento revela ainda que para parte dos estudantes o ensino remoto se mostra pior que o presencial, no entanto, maioria só quer retomar às salas de aula quando tiver uma vacina disponível

30 out 2020 - 14h10
(atualizado às 14h26)
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SÃO PAULO - Diante do fechamento de escolas por causa do novo coronavírus, instituições de ensino e estudantes precisaram se adaptar ao ensino online. E uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) sobre as atividades remotas na educação durante a pandemia mostra que essa adaptação não tem sido fácil. De acordo com o levantamento, 67% dos alunos se queixam de dificuldades em estabelecer e organizar uma rotina diária de estudos.

Foto: Folha Dirigida

O levantamento, feito entre agosto e setembro com 5.580 estudantes, professores, pais e/ou responsáveis e dirigentes de instituições de ensino públicas e privadas do País, mostra que 60,5% dos estudantes participam de quase todas as atividades do gênero oferecidas pela escola, mas 72,6% consideram que o estudo remoto é pior na comparação com as aulas presenciais. A opinião é compartilhada por parte dos pais e responsáveis, com 51,5% afirmando que essa forma de ensino é pior.

Os estudantes também relatam outros problemas no formato, como sobrecarga e saudade da rotina escolar. Para 82,6% dos alunos, a falta do contato presencial com amigos afeta os estudos e a aprendizagem. Para 58,3% deles, a escola manda muitos materiais e eles relatam que não estão dando conta de estudar.

Aluna do ensino médio de rede pública estudual, Izabelly Correia de Oliveira, de 16 anos, participou da pesquisa. Ela disse que teve crises de ansiedade no início de março com o fechamento das escolas. "Recorri aos cursos online e pré-vestibular para manter os estudos, tive apoio da minha família e de professores para não desistir", conta.

Para ela, a maior dificuldade em relação às aulas remotas está em manter a concentração. "O mais difícil é entender quando é momento de assistir a aula e não fazer outra coisa. Tentar organizar minha rotina de estudos e também não dispersar durante as atividades. Além disso, lamento que muitos colegas não tenham computador. Alguns conseguiram receber fascículos impressos com conteúdos das aulas para fazer as atividades. Foi uma adaptação para todos nós", descreveu a estudante.

Ainda no que se refere às atividades remotas, 29,2% dos estudantes entrevistados disseram ter dificuldade em conexão com a internet, por causa do sinal das operadoras. Para 10,8% deles, não ter dispositivo próprio e precisar compartilhá-lo com outros integrantes da casa afeta o estudo e a aprendizagem durante o período da pandemia. Já em relação ao acesso à internet, 63,5% responderam ter banda larga ilimitada e 25,8% utilizam de terceiros.

 

"Não cabe mais o estudante não ter acesso à internet, assim como professores. Devemos defender o acesso de boa qualidade e de preço acessível para todos, principalmente nas faixas mais vulneráveis", afirma George Catunda, diretor da ABED e coordenador da pesquisa.

Dos professores que realizaram atividades remotas com alunos, 57,8% relataram dificuldade em conexão com a internet, por causa do sinal de operadoras, 32,3% responderam ter dificuldade em conexão por causa do limite de dados e 39,3% assinalaram falta de familiaridade com as ferramentas digitais.

Dos dirigentes entrevistados, 92,1% dizem que as escolas nas quais atuam realizam atividades remotas regulares. Segundo eles, das instituições que adotaram alguma estratégia para atender os estudantes sem acesso à internet, 62,1% afirmam que disponibilizaram materiais impressos a serem retirados pelos estudantes ou responsáveis, já 19,7% disseram que os alunos que não têm acesso à internet não receberam material para estudar.

Desafios do ensino remoto

Quando questionados sobre seu papel, 94,8% dos educadores consideram que é importante interagir virtualmente com os estudantes a fim de manter o processo de ensino e aprendizagem.

"O grande desafio no momento é o engajamento. É preciso desenvolver ações que ampliem o envolvimento dos estudantes. Mesmo com dificuldades, os professores mostraram disposição para se reinventar, o que também é algo muito importante", avaliou o diretor da ABED e coordenador da pesquisa.

Conhecer o dia a dia dos professores, dos estudantes e de toda comunidade escolar foi essencial para alinhar ações e desenvolver a educação em tempos de pandemia. "Lidamos com situações de estudantes que têm bom acesso de internet e muitos ainda com acesso limitado ou mesmo sem acesso. No começo, fiquei apreensiva em como atingir e garantir que todos tivessem aprendizado nivelado", disse a professora de ensino técnico Anna Rayanne Lins de Moraes, de 30 anos, graduada em Arquitetura e Urbanismo que participou da pesquisa.

Dentro de cada realidade, professores foram criando métodos e usando a criatividade para ensinar de forma remota. "Procurei oferecer vários canais de redes sociais para me comunicar com meus estudantes. Disponibilizamos tablets da escola para alunos que tinham acesso à internet. Até fiz memes para chamar a atenção para as aulas", contou Anna.

Anna conta que também desenhava para os alunos durante lives da aula de Design de Interiores nas rede sociais. "Espero ainda que até o fim do ano, os alunos mais distantes também demonstrem interesse", disse a professora, que por fazer parte do grupo de risco da covid-19, manterá aulas remotas mesmo quando o ensino presencial for retomado.

Retomada das aulas presenciais

O estudo mostra ainda que 68,1% dos alunos só querem retomar às aulas presenciais quando tiver uma vacina disponível, avaliação semelhante a de pais/responsáveis (66%) e professores (68,11%). Dos estudantes entrevistados, 33% disseram ainda que moram com pessoas do grupo de risco.

Apesar de admitir não estar segura por causa da covid-19, a estudante Isabelly disse que está ansiosa para o retorno às aulas presenciais. "Sinto muita falta dos meus amigos, não tenho nem palavras para descrever. Não é fácil ter aulas apenas online. Já é difícil entender algo em sala de aula, imagina virtualmente", diz.

Estadão
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