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No Senado, prefeitos confirmam cobrança de propina no MEC

Gilberto Braga, da cidade de Luis Domingues (BA), relata cobrança em ouro feita por pastores em troca da liberação de recursos da educação

5 abr 2022 - 13h25
(atualizado às 15h23)
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Presidente da Comissão de Educação, Marcelo Castro (D) conduz a audiência; no telão, o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Ribeiro
Presidente da Comissão de Educação, Marcelo Castro (D) conduz a audiência; no telão, o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Ribeiro
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Três prefeitos confirmaram à Comissão da Educação, no Senado, que o pastor Arilton Moura, integrante do gabinete paralelo do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, cobrou propina para liberar recursos da pasta. Eles haviam dado o mesmo relato ao Estadão há cerca de duas semanas.

Milton Ribeiro foi obrigado a deixar o cargo na semana passada após a revelação da cobrança de propina na pasta. O esquema era operado por Arilton Moura e pelo pastor Gilmar Santos, dois amigos do ex-ministro, em troca de liberação de dinheiro para creches e escolas.

O prefeito Gilberto Braga (PSDB), de Luís Domingues (MA), relatou aos senadores que, após uma reunião no Ministério da Educação, foi a um almoço com "20 a 30" colegas. Também participaram da confraternização, segundo ele, Arilton Moura e o pastor Gilmar Santos.

"Ele (Arilton) virou para mim e disse: "cadê suas demandas?". Eu apresentei minhas demandas para ele e ele falou rapidamente. Disse: "olha, você vai me arrumar os R$ 15 mil para mim (sic) protocolar as suas demandas e depois que o recurso já estiver empenhado, você, como a sua região é região de mineração, você vai me trazer 1kg de ouro"", afirmou Braga. "Eu não disse nem que sim nem que não. Me afastei da mesa e fui almoçar."

Leia mais: TCU manda MEC apurar atuação de pastores na pasta

Aos senadores, o prefeito José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP), relatou que foi a um almoço com os pastores no hotel Grand Bittar, em Brasília. No local, segundo ele, Arilton Moura disse: "'Prefeito, você bem sabe como funciona né?'. Eu disse: 'não'", contou.

"Ele disse: 'Prefeito, o Brasil é muito grande, nós temos mais de 5.600 municípios. Não dá para ajudar todos os municípios'. Eu disse: 'não dá, pastor?'. Ele falou: 'mas eu consigo te ajudar'."

O prefeito contou aos senadores que perguntou a Arilton Moura como seria a "ajuda". Segundo Souza, o religioso acenou com uma escola profissionalizante. "(Arilton teria dito) 'Você assina um ofício, eu já coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da Igreja Evangélica'. Foi onde (sic) eu bati nas costas dele e falei: 'pastor, muito obrigado, mas para mim não serve, não é desse jeito que funciona'", relatou Souza.

À Comissão de Educação, o prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Pinheiro (Cidadania), também declarou que Arilton Moura cobrou R$ 15 mil para destravar os recursos durante um almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília. O encontro, segundo ele, ocorreu em 11 de março de 2021 e o pedido foi presenciado por Gilmar Santos.

"Quando chegou o pastor Arilton na minha mesa e me abordou de uma forma assim muito abrupta e direta, dizendo: 'olha, prefeito, vi aqui que o seu ofício aqui está pedindo a escola de 12 salas. Essa escola aí deve custar uns R$ 7 milhões o recurso para ser liberado, mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje'", relatou.

De acordo com o prefeito, Arilton Moura pediu "uma transferência" imediata para sua conta, porque "esse negócio de para depois, isso não cola comigo, não". Kelton Pinheiro contou que o religioso reclamou da classe política.

"(Arilton Moura teria dito) 'Vocês políticos são um bando de malandros, não têm palavra. Se não pegar antes, não paga ninguém'. Aquilo me deu ânsia de vômito", afirmou o prefeito de Bonfinópolis.

Estadão
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