O Brasil deveria banir celulares da sala de aula? Medida já existe na Europa
Especialistas defendem o uso, mas alertam para a necessidade de regras e moderação
No início de julho deste ano, o governo da Holanda anunciou que cogita banir celulares, tablets e relógios inteligentes das salas de aula do país. A Finlândia também anunciou uma medida parecida, e a França já baniu os aparelhos para menores de 15 anos em 2018.
Por um lado, é notório que temos ficado cada vez mais conectados a celulares, e parece que quanto mais novo o indivíduo, mais dependente de tecnologia ele é. Em contrapartida, parece estranho abrir mão de uma ferramenta que pode auxiliar no aprendizado.
Para os especialistas ouvidos pelo Terra, o ideal é buscar um meio-termo.
"Os alunos precisam de dois tipos de letramento: um que vem dos livros físicos e outro que vem do digital", defende Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades.
A especialista explica que alguns países da Europa têm dedicado momentos específicos para o uso de aparelhos eletrônicos na sala de aula, numa espécie de "uso pedagógico" dessas ferramentas. Segundo conta, há lugares específicos para os celulares ficarem guardados na sala, sendo acessados apenas quando forem importantes para o aprendizado.
"Não é que não se usa, se usa bastante. Plataformas adaptativas, soluções gamificadas, entre outras maneiras, são utilizadas", acrescenta.
O que não existe é o uso livre dos celulares. "Se o uso é livre, você arrisca perder a atenção do aluno, ou que ele tenha uma socialização prejudicada", pontua.
Uso de eletrônicos nas escolas do Brasil
A democratização do acesso a celulares aqui no Brasil trouxe a questão para ser discutida em nosso País.
"No Brasil, não existe um estudo específico sobre o impacto de aparelhos eletrônicos na aprendizagem. Seria um dado importante, principalmente depois do boom do uso de smartphones ocasionados pela pandemia", explica Ana Gardennya Linard, gerente de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação.
Antes mesmo da pandemia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) publicou um guia mostrando como a tecnologia pode ser aliada no processo de desenvolvimento da educação. O documento é de 2015, mas fomenta uma discussão bastante atual.
"Esse guia demostra o quão vantajoso é a utilização de tecnologia em outros países, e, principalmente, fala sobre o papel do professor como moderador dessa ferramenta", conta Ana.
Na visão da especialista, o uso de tecnologias pode transformar o interesse do aluno. "As telas chamam a atenção dos mais novos e isso pode trazer bons resultados", decreta.
Controle do uso de tecnologias em sala
As duas especialistas concordam que o uso das tecnologias pode trazer efeitos positivos, mas defendem o controle dessa utilização para momentos específicos. Além disso, Ana alerta que o melhor caminho seria a criação de um plano nacional de conscientização do uso de tecnologias no ensino.
Mas, antes disso, a especialista alerta que o Brasil tem outra questão muito importante a resolver: a desigualdade. A gerente da Todos Pela Educação afirma que não é somente uma questão de trabalhar com essas tecnologias ou não, já que isso é praticamente inevitável quando os menores já nascem conectados, mas é importante garantir que todos tenham acesso às novidades, e tirem o melhor delas.
"Durante a pandemia vimos o abismo que existe ao acesso dessas tecnologias. Muitos alunos não tinham um celular, ou outra tecnologia, e tiveram o aprendizado interrompido e prejudicado", alerta.