'O Novo Ensino Médio está produzindo uma miséria educacional', diz especialista
Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio defende que proposta atual seja revogada e um novo modelo pensado a partir de maior diálogo com professores e alunos
Doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC, Fernando Cássio acredita que o modelo proposto do Novo Ensino Médio "não tem salvação" e defende que a proposta seja completamente revogada. "O ponto básico é que a reforma é impossível de ser implementada. Não adianta dizer que tem bons princípios, se é irrealizável para a maioria", afirma.
Segundo Cássio, que integra a Rede Escola Pública e Universidade (REPU) e o comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o modelo proposto em 2016 e aprovado no ano seguinte "está produzindo uma tragédia e miséria educacional". Ele defende que seja feita uma nova reforma, com maior participação popular e foco nos problemas estruturais da educação, como um plano de carreira melhor para professores e mais investimento para manter alunos em período integral na escola.
O Estadão ouviu dois especialistas sobre o tema. Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, é contrária à revogação da proposta como um todo e diz que é hora de "parar a bola no campo, reorganizar o jogo e depois continuar". O professor Cássio se posiciona de forma oposta. Veja abaixo a entrevista.
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Como deve ser feito o debate sobre um novo modelo, então? Acha que uma Conferência Nacional de Educação seria o melhor caminho para alcançar o máximo de participação popular?
A Conferência Nacional de Educação está na política nacional de participação social, é um instrumento feito nos municípios e Estados. Isso chega até o nível dos bairros. O próprio Partido dos Trabalhadores defende esse tipo de modelo, que foi criado por eles.
Eu entendo a revogação como um ponto de partida, não chegada. Porque, objetivamente, a reforma do ensino médio está reproduzindo tragédia e miséria educacional.
Como avalia a sinalização do governo Lula de suspender o calendário de implementação da mudança? Não tem medo de que isso possa atrapalhar o aprendizado de quem já começou a mudança?
A revogação não é um botão que você aperta e volta exatamente ao que (o ensino médio) era antes. Vários Estados não implementaram as mudanças ainda, em outros elas ainda estão sendo implantadas de forma paulatina.
A revogação e suspensão ainda é um boato, porque não tem nenhuma portaria publicada. Mas como você vai seguir com o cronograma de implementação de uma coisa que, em tese, pode mudar com o resultado de uma consulta pública? O efeito concreto dessa suspensão é nenhum. Não tem nenhum efeito a suspensão do cronograma. Nos lugares onde não foi implementado ainda, acho que suspender é algo positivo. O que eu vejo é alunos de ensino médio desesperados porque não têm aula nem conteúdo.