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As Olimpíadas e a importância do esporte na vida das crianças e jovens

A Olimpíada de Paris começa nesta semana, joga luz à importância da Educação Física na vida das crianças e adolescentes

22 jul 2024 - 17h00
(atualizado às 17h27)
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Foto: GoodLifeStudio/iStock

Acompanhar os jogos olímpicos e os paralímpicos é sempre empolgante. É incrível ver atletas do mundo todo se esforçando para conquistar medalhas e quebrar recordes, além da emoção de torcer pela delegação brasileira. Acredito também que esses grandes eventos esportivos mundiais têm um aspecto que transcende a competição, principalmente pelo seu poder educativo. Por serem ocasiões em que nações do mundo todo se reúnem para disputar medalhas e lugares num pódio, os jogos podem servir de estímulo para o cultivo de valores importantes para a formação do indivíduo, além do incentivo à prática de atividade física, essencial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

De acordo com a pesquisa “Desafios e Perspectivas da Educação”, realizada pelo Instituto Península em 2022, 42% dos educadores reconhecem que a Educação Física pode ser uma forte aliada na motivação dos alunos. O esporte como ferramenta educacional, desenvolve competências socioemocionais e estimula a inclusão. São muitas as possibilidades de desenvolvimento, tanto do ponto de vista da saúde física e mental, quanto na promoção da qualidade de vida.

Os princípios olímpicos – igualdade, solidariedade, compreensão mútua, amizade e fair play (jogo limpo) – são importantes e fundamentais para a vida em sociedade. Os atletas precisam ter disciplina e treinar com muita dedicação para superar limites. Todos competem como iguais, independentemente de sua origem ou cultura, em um ambiente de respeito mútuo, tanto entre integrantes de uma mesma equipe quanto entre adversários, e de respeito pelas regras, com honestidade e ética. Acompanhar as competições, portanto, é uma oportunidade para crianças e adolescentes terem contato com o espírito olímpico e se inspirarem nos atletas e em suas histórias. Muitas delas começam a habitar o imaginário e ampliar o leque de ídolos.

Assistir a esportistas competindo em várias modalidades pode ser um incentivo para jovens valorizarem a diversidade e a inclusão, o que contribui para o desenvolvimento pessoal e os motiva a perseguir sonhos e propósitos com determinação. As Olimpíadas também são uma ocasião propícia para conhecer esportes pouco comuns para nós, brasileiros – como o badminton –, e estimular a prática esportiva de forma geral, principalmente para quem não encontra motivação nas categorias mais populares, como o futebol. Sempre que visito escolas e converso com os estudantes, a quadra é lugar de alegria. A diversidade de práticas esportivas, se oferecida desde cedo e bem trabalhada nas aulas e períodos extraclasse, aumenta as chances das crianças se encantarem com um esporte que tenha mais relação com elas. Em muitos casos, essas atividades esportivas também servem como refúgios seguros em ambientes mais vulneráveis, podendo reduzir a evasão escolar e até mesmo melhorar a aprendizagem.

A atividade física deve ser estimulada desde cedo entre crianças e adolescentes. O movimento do brincar livre, como correr, pular e subir em árvore, ajuda na criatividade, autonomia e individualidade. As práticas esportivas introduzem conceitos de regras e trabalho em equipe, além de ensinar a lidar com vitórias e derrotas. Aprender a competir contribui para o autoconhecimento, favorecendo a autoconfiança e a capacidade de se recuperar de fracassos, habilidades imprescindíveis para diversas situações da vida.

O esporte torna-se ainda mais relevante em um mundo digital como o nosso, em que as telas assumiram o protagonismo na vida cotidiana. Por esse motivo, é importante incentivar, desde cedo, uma rotina saudável e equilibrada, que inclua tempo para todas as atividades, com o exercício físico inserido como parte habitual da rotina da criança e usar as ferramentas digitais como apoio.

Como exemplo, destaco a iniciativa do professor de Educação Física, Astolfo de Goes Silva, de Várzea Grande, no Mato Grosso, vencedor do Prêmio Cidadão Digital 2023. Por meio de ferramentas digitais com finalidade pedagógica, ele elaborou plano de aula, vídeo, mural virtual e link de recurso digital educacional e conduziu uma aula inovadora para estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Governador José Garcia Neto. Ao mesmo tempo em que criaram sites online sobre as diferentes modalidades de lutas marciais, os alunos aprenderam sobre aspectos de Cidadania Digital, como a importância de dar créditos à produção, licenças online e propriedade intelectual. A iniciativa revela uma entre as muitas possibilidades de se trabalhar o conhecimento sobre esportes de maneira criativa e tecnológica, de forma agregadora.

No currículo escolar, as aulas de educação física têm a missão de oferecer aos alunos a oportunidade de conhecer e experimentar diversas atividades. Nem todas as escolas, porém, possuem estrutura adequada para essa disciplina, e a rede pública de ensino, como previsível, é a mais afetada. O mais recente Censo Escolar da Educação Básica mostrou que praticamente metade das instituições de Ensino Fundamental e Médio não possui quadras poliesportivas nem materiais, tais como bolas, redes e raquetes. Entretanto, professores bem instruídos e preparados conseguem promover aulas enriquecedoras mesmo em contextos adversos – como sempre, o docente bem-preparado é fundamental.

Em paralelo, existem iniciativas que visam facilitar o ensino de variadas modalidades esportivas e o desenvolvimento dos alunos, como as do Instituto Esporte & Educação (IEE), fundado pela atleta Ana Moser. As ações se concentram em programas educacionais que promovem a inclusão, o desenvolvimento integral e a autonomia das crianças e jovens. O Projeto Rede de Núcleos, por exemplo, tem mostrado resultados na melhora da integração social e da saúde mental e física das crianças. Outro exemplo é a formação continuada de professores, o que reflete no desenvolvimento dos alunos. Iniciativas como essas destacam a relevância do esporte como ferramenta educacional e de desenvolvimento integral.

Aproveitar momentos como este, em que as Olimpíadas estão em evidência, para despertar o interesse de crianças e adolescentes pelo esporte pode fazer a diferença em suas vidas. Os princípios olímpicos que regem as competições são referência para a formação de cidadãos comprometidos com a sociedade. Os próximos dias de competições devem trazer muita vibração das torcidas de todas as nações participantes, mas também são uma oportunidade de relembrar a importância de formar gerações mais ativas, saudáveis e inclusivas.

Lia Glaz Diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo. Formada em Administração Pública pela FGV-EAESP e com mestrado na área de Desenvolvimento Econômico e Político pela SIPA-Columbia University. Na Fundação Telefônica Vivo, já liderou a área de Educação, promovendo iniciativas inovadoras e o uso de tecnologia para apoiar o desenvolvimento de crianças e jovens. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra.
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