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Formando cidadãos digitais: o que as crianças devem ser capazes de fazer em um mundo cada vez mais tecnológico

Habilidades trazem autonomia e criticidade para usar as ferramentas disponíveis e se comunicar com mais clareza pelos meios tecnológico

26 ago 2024 - 09h00
(atualizado às 09h21)
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A tecnologia está presente em praticamente todas as frentes da nossa vida, e a tendência é fazermos uso cada vez maior dela sem perceber
A tecnologia está presente em praticamente todas as frentes da nossa vida, e a tendência é fazermos uso cada vez maior dela sem perceber
Foto: iStock / iStock

Quantas vezes você já usou a internet hoje? Quantos dispositivos tecnológicos você usa desde o momento em que acorda? A gente nem percebe, mas a tecnologia está presente em praticamente todas as frentes da nossa vida, e a tendência é fazermos uso cada vez maior dela mesmo sem perceber. Por esse motivo, o desenvolvimento de competências digitais na educação básica tornou-se fundamental. Quando pensamos na formação dos estudantes, gosto de ressaltar que os conhecimentos básicos, como leitura, escrita e matemática, continuam fundamentais e que essas áreas também vêm se modificando. Além dessa base, as crianças e adolescentes também precisam de outras habilidades para aproveitarem todas as possibilidades que esse mundo digital oferece, de forma analítica, crítica e ética.

Nesse sentido, a Base Nacional Comum Curricular, BNCC, estabelece normas para o ensino da computação na educação básica, que deveriam integrar os currículos das redes de ensino públicas e privadas nessa temática digital. Essa normativa está dividida em três eixos: cultura digital, mundo digital e pensamento computacional. A ideia é que durante toda a trajetória escolar os estudantes possam adquirir fluidez no uso de recursos digitais, entendimento de como a tecnologia funciona, desenvolver a capacidade para criar soluções tecnológicas, e resolver problemas complexos. Essas habilidades conferem autonomia e criticidade para lidar com as informações encontradas na internet, usar as ferramentas disponíveis e se comunicar com mais clareza pelos meios digitais, por exemplo.

Entretanto, apesar de a norma da BNCC-Computação ter sido aprovada em 2022, quase nenhuma rede, municipal e estadual, a implementou efetivamente no país. Dentre os motivos para essa demora está o fato de a tecnologia na educação ainda ser vista como garantia de infraestrutura e equipamentos apenas e que o ensino sobre tecnologia é tema secundário diante de tantos desafios na educação básica. Além disso, há a crença de que a geração dos nativos digitais, que nasceram com a tecnologia amplamente presente em suas vidas, já domina essas competências. Entretanto, embora crianças e adolescentes sejam bastante ativos no uso de tecnologia, eles não estão plenamente preparados para usá-la de forma produtiva e responsável.

Outro desafio é a formação de docentes para as demandas de sala de aula relacionadas a essas competências digitais, que já foi tema dessa coluna. Ao não contemplar o desenvolvimento docente neste quesito, os novos professores chegam à escola para desempenhar a docência sem essas habilidades e encontram os professores já em exercício também sem terem essas experiências em seus planos de formação. Um estudo com redes municipais de ensino, divulgado pela Fundação Telefônica Vivo no ano passado, identificou que quase a metade delas não tem formação continuada para educadores nessa temática.

Tão importante quanto desenvolver as competências digitais é mensurar se os alunos estão, de fato, desenvolvendo essas habilidades e conhecimentos, sob o risco de o país não avançar nessa questão. A partir das avaliações, obtém-se uma base de dados educacionais essencial para a orientação de políticas públicas ou iniciativas que vão preparar nossos jovens para um futuro cada vez mais tecnológico e digital. Além disso, o Brasil precisa acompanhar o movimento global, já que essas competências integram o indicador 4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), que assegura a educação inclusiva, equitativa e de qualidade.

É, portanto, fundamental buscarmos um modelo de monitoramento e avaliação que possa se inspirar em experiências internacionais e contemplar as diretrizes nacionais. A partir do próximo ano, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) passará a medir a competência de aprendizagem no mundo digital, além das três áreas de conhecimento já avaliadas: leitura, matemática e ciências. O critério da avaliação internacional considera a transformação no processo de aprendizagem, que deixa de ser passivo, baseado no consumo de conteúdo, para ser ativo e interativo, com uso de recursos tecnológicos em contextos digitais.

No âmbito nacional, o Projeto de Lei do Novo Plano Nacional de Educação enviado pelo governo ao congresso, prevê 18 objetivos a serem cumpridos até 2034, inclui a meta de “Assegurar o nível adequado de aprendizagem em educação digital para 60% dos estudantes da educação básica até o final da vigência do PNR”. Para isso, é necessário saber o quanto antes qual será a linha de base, para que se possa aferir este resultado.

Alternativas que também podem ser consideradas para a adoção de um processo de avaliação dos estudantes brasileiros são aquelas já testadas por outros países. O Chile, por exemplo, desde 2013 adotou o ICILS (Estudo Internacional de Alfabetização em Computação e Informação, em português), método desenvolvido pela Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional, na Alemanha. Aplicada a cada cinco anos, a avaliação contempla uso do computador, gestão de informação e pensamento computacional. A comparação dos resultados de 2013 e 2018 forneceu ao governo chileno dados relevantes para a formulação de iniciativas voltadas para a capacitação de professores para o uso pedagógico das ferramentas digitais.

Outro método é o PIX, uma plataforma open source adotada por cerca de 30 países da Europa e da África. Ela é baseada em 16 competências e cinco dimensões como informação e dados, comunicação e colaboração, criação de conteúdo, proteção e segurança e ambiente digital. Essas metodologias foram, inclusive, apresentadas na série de webinários que a Fundação Telefônica Vivo realizou em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Cetic.br e o NIC.br. Os eventos reuniram especialistas para gerar e promover o debate sobre a importância de se avaliar o desenvolvimento das competências digitais de estudantes. O último encontro da série aconteceu na última semana em Brasília, com representantes de importantes atores da educação, como OCDE, MEC, INEP, Consed e Undime, e discutiu caminhos possíveis para o Brasil, levando em consideração que o PISA passará a avaliá-las a partir de 2025. Os episódios estão disponíveis no Youtube da Fundação Telefônica Vivo.

Garantir que essas competências digitais sejam desenvolvidas, a partir dos pressupostos da BNCC, e adequadamente avaliadas é uma demanda da atualidade – e que não pode ser menosprezada. Não existe paradoxo entre enfrentar os desafios muito básicos na educação e dar um salto para esse mundo que já está em transformação.  

Lia Glaz Diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo. Formada em Administração Pública pela FGV-EAESP e com mestrado na área de Desenvolvimento Econômico e Político pela SIPA-Columbia University. Na Fundação Telefônica Vivo, já liderou a área de Educação, promovendo iniciativas inovadoras e o uso de tecnologia para apoiar o desenvolvimento de crianças e jovens. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra.
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