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Pais podem ou não podem beijar os filhos na boca? Entenda

Especialistas alertam que contato pode confundir a mente das crianças na hora de identificar se o gesto teve ou não um 'duplo sentido'

28 mai 2023 - 05h00
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Como fazer com que os pequenos entendam ou identifiquem um possível pedido disfarçado de abuso?
Como fazer com que os pequenos entendam ou identifiquem um possível pedido disfarçado de abuso?
Foto: istock

Beijar a boca do filho ou da filha pode ser entendido para alguns como mais uma demonstração de carinho e amor. Mas o assunto é cercado por muitas nuances. Não à toa é comum famosos serem criticados ao serem flagrados beijando seus herdeiros na boca --como é o caso de Thais Fersoza, Gabi Brandt, David Beckham, Jennifer López, Beyoncé e Will Smith.  

O Terra conversou com especialistas para saber se a prática é ou não recomendada, bem como para entender de que forma o hábito impacta a formação das crianças. E, como aponta a psicóloga e psicanalista Juliana Hampshire, o costume pode os menores mais vulneráveis e suscetíveis à confusões sobre questões relacionadas ao consentimento.

"Desde cedo precisamos ensinar sobre autonomia e consentimento, isso é um fator de proteção à infância. Apesar de entendermos o beijo na boca do filho como um gesto inocente, transmitimos com ele que algumas pessoas adultas podem beijar na boca da criança", explica Hampshire, psicóloga e psicanalista.

Geralmente, o vínculo entre um adulto e uma criança é uma relação de poder, ou seja, existe uma hierarquia. Como explica a psicóloga, o adulto é entendido como aquele que sabe mais e, por isso, é alguém da confiança da criança. Porém, a maior parte dos abusos cometidos contra crianças e adolescentes são feitos por adultos de confiança, que frequentam a casa, que a família conhece e confia.

E como discernir quem são as pessoas confiáveis ou não? Como fazer com que os pequenos entendam ou identifiquem um possível pedido disfarçado de abuso? "Para que a criança possa começar a se reconhecer como sujeito autônomo, é fundamental que mães e pais possam transmitir que existe uma diferença entre eles e, apesar de parecer óbvio, isso nem sempre é vivido dessa maneira: meu filho não é uma extensão de mim. É outra pessoa e, mais que isso, outra pessoa no mundo", acrescenta.

A psicanalista ressalta que é preciso que os pais conversem rotineiramente com seus filhos para qualificar os tipos de violência e toques que o adulto (ou outra criança ou adolescente) não devem fazer. "Criar ferramentas para que elas possam identificar aquilo que gostam ou não, que pode ou não, e entender que seu corpo não pode ser manipulado ou invadido é fundamental", realça.

Outro risco do gesto praticado pelos pais é que as crianças podem acabar adotando a forma de carinho na hora de cumprimentar outras pessoas.

"A criança pode querer repetir o gesto com outras pessoas, o que pode levar o aumento da vulnerabilidade a potenciais situações de riscos", pontua a psicóloga clínica Ana Carolina Boesch. Segundo ela, a prática pode induzir os menores a acreditarem que todas as relações são iguais, ou seja, com as mesmas intimidades e expressões de afeto.

"Já em crianças maiores (de 5 a 10 anos), pode ser considerado um comportamento invasivo praticado pelos pais, e, ainda, estimular a sexualidade precoce", completa Boesch, que sugere que os pais não mantenham esse hábito. 

Caso a prática já faça parte da rotina familiar, a sugestão é romper com ela. "Nesse caso, é necessário o encaminhamento para psicoterapia, para que haja a reorganização da dinâmica familiar", recomenda a psicóloga.

Fonte: Redação Terra
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