Pandemia: USP, Unesp e Unicamp perdem ao menos R$ 1,2 bilhão
Em maio, recursos já foram insuficientes para pagar salários de professores e funcionários, e as instituições tiveram de usar fundo de reserva
"Isso afeta muito. O governo do Estado está falando muito em valorização da ciência, seria interessante manter o reconhecimento às universidades", diz o reitor da Unesp, Sandro Valentini, sobre a possibilidade de recursos extras. As universidades pedem ao Estado uma fatia dos R$ 6 bilhões que foram destinados pelo governo federal para o enfrentamento ao coronavírus e que podem ser usados para compensar perdas. Outro R$ 1 bilhão precisa ir para ações de saúde e assistência social.
Além das contratações, foram suspensos pagamentos de vale-transporte e adiados os recolhimentos de FGTS e investimentos em obras civis. As instituições fizeram ainda reestruturação de contratos de serviços terceirizados e economia em limpeza e eletricidade. As três universidades juntas conseguiram reduzir cerca de R$ 300 milhões.
Para se ter uma ideia da situação atual, em maio, o repasse do governo para a USP foi de R$ 328 milhões, mas a folha de pagamento é de cerca de R$ 400 milhões. São 5 mil docentes e 13 mil funcionários. Isso significa um comprometimento de 122% do orçamento com pessoal. Na Unicamp, foi de 125% e na Unesp, de 118%.
Elas precisaram usar seus fundos de reserva, que hoje têm R$ 220 milhões (Unesp), R$ 400 milhões (Unicamp) e R$ 700 milhões (USP). Mas, pela despesa que as universidades têm com salários, esses valores não duram mais que dois meses.
Pesquisas
As três instituições enfrentaram a maior crise financeira da história há cerca de três anos. A USP fez um inédito plano de demissão voluntária, algo impensável há pouco tempo. A Unesp deixou até de pagar o 13.º dos professores. Depois de diversos planos de redução de custos, elas conseguiram se reerguer e puderam voltar a investir. Em janeiro deste ano, o comprometimento do orçamento com folha de pagamento estava em 75%, considerado muito positivo. E aí veio a pandemia.
"A nossa área administrativa está a todo tempo estudando cenários, que mudam muito. Nossa preocupação é que vamos viver uma crise econômica e não estamos conseguindo lidar com ela como País", diz o reitor da USP, Vahan Agopyan.
Além das despesas com pessoal e manutenção da universidade, ele se preocupa com a queda do investimento em pesquisas, que vem da indústria e de agências de fomento, e na USP chega a R$ 1,5 bilhão. "Já temos visto agências internacionais reduzirem investimento por precaução. Os valores podem diminuir drasticamente", diz. "Aí a universidade deixa de fazer a sua função fundamental, que é pesquisa, o que forma profissionais que possam vencer desafios."
Posição do governo
O governo do Estado de São Paulo informou, por meio de nota, que "acompanha o comportamento da arrecadação pública com extremo rigor para avaliação das demandas setoriais de acordo com a capacidade orçamentária futura." O orçamento que estava previsto para as universidades antes da pandemia era de R$ 10 bilhões. A previsão agora é que a USP perca R$ 632 milhões, a Unesp, R$ 296 milhões e a Unicamp, R$ 277 milhões.
Os reitores das universidades estaduais paulistas têm tido reuniões com representantes do governo, entre eles o vice-governador, Rodrigo Garcia, e a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen.
No fim de maio, o governador João Doria (PSDB) criou uma nova secretaria, a de Orçamento, Gestão e Projetos do Estado, com Mauro Ricardo Costa como titular, que agora também entrou nas conversas com as universidades. Costa esteva recentemente na Prefeitura, já foi do governo de José Serra e ainda de Beto Richa, no Paraná, onde fez um polêmico ajuste fiscal.
O Estadão apurou com técnicos do governo que não há planos traçados para repasses extras para as universidades diante da falta de recurso. A previsão de perda de arrecadação este ano está estimada em cerca de R$ 20 bilhões. A ajuda do governo federal para enfrentamento ao coronavírus para São Paulo será de R$ 7,69 bilhões, repassados em quatro parcelas.
COLABOROU BRUNO RIBEIRO