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Para preservar idiomas, Brasil mapeia diversidade linguística

"Praticamente todas as línguas indígenas estão em processo de extinção", afirma antropólogo

21 fev 2013 - 16h55
(atualizado às 18h04)
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<p>"Trabalho realizado atualmente está restrito mais ao campo acadêmico, à pesquisa, do que focado em ações", disse pesquisador do Iphan</p>
"Trabalho realizado atualmente está restrito mais ao campo acadêmico, à pesquisa, do que focado em ações", disse pesquisador do Iphan
Foto: Getty Images

As línguas indígenas passam por uma fase apocalíptica no Brasil: praticamente todas estão em processo de extinção, dando lugar a outros idiomas ou simplesmente desaparecendo, em um processo irreversível. A avaliação é do antropólogo Marcus Vinícius Carvalho Garcia, membro do Departamento do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela valorização do patrimônio linguístico nacional.

De acordo com o pesquisador, diversos fatores tornam essas línguas cada vez menos valorizadas pelos próprios indígenas, o que causa um processo de degenerescência - termo técnico que designa a perda de qualidades originais. A competência linguística tem diminuído dentro dos próprios grupos à medida que os mais velhos falantes de uma língua pouco difundida morrem e os mais novos falam outros idiomas - ou uma versão "corrompida" do original.

A fim de combater essa realidade, foi criado em 2010 o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), que analisa, além dos riscos de extinção, também o movimento das línguas com o tempo. Entre suas atividades está o financiamento de projetos-piloto para o estudo de idiomas no Brasil, trabalho em que conta com a contribuição de universidades nacionais. Agora, depois de definir aspectos técnicos e aprovar um plano de ação, o INDL trabalha na construção de uma metodologia e abordagem padrão para o reconhecimento das línguas que compõem a diversidade brasileira, para assim promover sua preservação.

A demanda pela inclusão das línguas como uma das dimensões de patrimônio imaterial surgiu em 2006 através de mobilização da sociedade, comunidades civil e militar, além de organizações como o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (Ipol). Nesse ano, foi criado um protocolo de intenções e ações para serem realizadas no âmbito federal para preservação das línguas – assim como reconhecimento delas. Um seminário determinou ações com o intuito de mapear, caracterizar, diagnosticar e dar visibilidade à pluralidade linguística brasileira.

"Esse é um trabalho que não acaba. É muito extenso. Ainda existem muitas línguas que não foram catalogadas e vão ser estudadas com o tempo – não por falta de vontade, mas por carência de cientistas e até dificuldades de relação com os grupos envolvidos”, afirmou o antropólogo em entrevista ao Terra. “Ainda há muito a ser feito, não tenho dúvidas”, ressalta Garcia.

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“O trabalho realizado atualmente está restrito mais ao campo acadêmico, à pesquisa, do que focado em ações. A preservação envolve muitos fatores, tem a ver com condições materiais de existência, do sujeito; não tem a ver com política linguística, mas sustentabilidade e uma manutenção mais ampla”, garante o antropólogo Marcus Vinícius Carvalho Garcia.

<p>Mapa etno-histórico desenvolvido pelo etnólogo Curt Nimuendajú e publicado em 1981 reúne registros de grupos e línguas indígenas no Brasil</p>
Mapa etno-histórico desenvolvido pelo etnólogo Curt Nimuendajú e publicado em 1981 reúne registros de grupos e línguas indígenas no Brasil
Foto: Reprodução

Ele explica que o plano do inventário nacional é instaurar processos de reconhecimento linguístico em idiomas específicos, até um dia em que se possa – em um plano utópico - fazer isso com todas as línguas brasileiras. O trabalho de catalogação já existe, fruto dos esforços de pesquisadores, mas o inventário oficial deve corrigir os diversos tipos de material produzido e formar acervos, estabelecer prioridades e área de atuação que ainda não foram padronizadas.

"Não é nossa preocupação ficar quantificando o número de falantes de uma língua. Enfrentamos alguns dilemas: o que vai ser reconhecido, a língua mais potente, com toda sua pujança, ou a língua em processo de extinção? Ou todas têm o mesmo grau de importância? A ideia do inventário é esta: não diferenciar ou hierarquizar uma língua em detrimento de outra; afinal, todas são importantes", concluiu.

Preservação de línguas em risco de extinção

O processo de inclusão de línguas no inventário nacional começa com seu reconhecimento, passando em seguida para ações de preservação, que variam conforme a especificidade de cada uma. Esse reconhecimento serve para determinar a pluralidade linguística do País e identificar os falantes do idioma, tornando possível políticas patrimoniais que colaborem para sua continuidade e valorização.

Através da documentação e identificação das línguas como patrimônio imaterial, é garantida aos seus falantes valorização de identidade e memória como parte integrante dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. “Talvez nossa papel seja de mostrar que uma língua, mesmo pouco conhecida, é vital: que ela existe, que há falantes, e que essa cultura deve ser preservada”, afirmou Garcia.

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Fonte: Terra
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