Perca a vergonha e ‘speaking’: 7 dicas para aprender inglês com quem entende do assunto
A principal dificuldade dos brasileiros que querem aprender o idioma é a vergonha na hora de praticar, apontam professoras
Na infância, um dos momentos preferidos do dia de Henrique Migotto era a hora de jogar Yu-Gi-Oh! e trocar as cartas repetidas com os amigos após os “duelos”. O único problema é que algumas vinham com a descrição em inglês. “Para conseguir ler, eu comparava as cartas. Com o tempo, comecei a entender o que aquelas palavras significavam”, lembra. Foi assim, através de um jogo de cartas, que o paulistano começou a ter contato com o idioma.
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A estratégia de aprender com diversão começou com a franquia japonesa e se seguiu com os jogos online e vídeos no Youtube. “Jogava com chat de voz, falando com as pessoas de fora, e acabei pegando a gíria, o jeito deles de falar. Depois fui para o YouTube, vi que tinha muito conteúdo que eu não conseguia alcançar e fui me acostumando com a pronúncia”, explica.
“Chegou um momento em que eu entendia o indiano falar [em inglês], o australiano, o britânico, vários tipos de sotaques de pessoas diferentes do mundo”, completa. Hoje aos 25 anos, o aprendizado que começou com o interesse pela franquia Yu-Gi-Oh! é posto em prática por Migotto todos os dias. Isso porque o paulistano é desenvolvedor de software e o inglês é o idioma utilizado nas linguagens de programação.
No entanto, nem todo brasileiro tem essa ‘sorte’ e facilidade com o inglês. Segundo a instituição EF Education First, o Brasil ocupa a 60ª posição em ranking de proficiência em inglês, atrás de países vizinhos como a Argentina e o Chile.
Por outro lado, dados da pesquisa Learning English in Brazil, da Data Popular Institute para a British Council, mostram que 91% dos executivos de empresas em 77 países acreditam que o inglês é a língua dominante nos negócios.
Para entender a dificuldade dos brasileiros com o idioma, o Terra conversou com quem lida com alunos de línguas todos os dias. As professoras Péthala Pequeno e Ana Isabelle Baptista ainda deram dicas práticas para turbinar o aprendizado.
Todo mundo já começou do zero
Ver um amigo ou um artista do Brasil falando em inglês de forma tão segura e fluida pode ser inspirador, mas também é normal que surja o questionamento: “será que eu consigo falar tão bem assim?”. Quando esse tipo de pensamento aparece, é importante lembrar que até mesmo os professores precisaram passar pelo processo de aprendizagem.
Se hoje Péthala Pequeno dá aulas de língua inglesa, é porque teve curiosidade em aprender muito antes de escolher o inglês como carreira. No caso dela, ainda houve uma ajudinha familiar.
“Meu pai é intérprete e sempre o ouvi falando inglês em casa e no trabalho. Eu gostava muito e me esforçava muito para entender o que ele estava dizendo. Então a minha primeira prática foi com a habilidade que chamamos de ‘listening’ (compreensão auditiva do idioma), mesmo quando eu ainda nem sabia que já estava praticando”, relembra.
Nascida em Campo Formoso, no interior da Bahia, ela deu um jeito de progredir no aprendizado mesmo sem se matricular naqueles cursos tradicionais de inglês. “Por não dispor de muitos cursos na minha cidade, boa parte do meu aprendizado foi na prática. Meus maiores aliados foram as músicas, os filmes e as séries. Aprendi me divertindo, mas a prática é contínua”, destaca.
A arte também foi a responsável pelo pontapé inicial da professora Ana Isabella Baptista no inglês. Apaixonada por músicas internacionais e fascinada pelos videoclipes que passavam na televisão, ela conseguia reproduzir os sons das palavras mesmo sem ter noção das traduções. “Vendo essa minha facilidade, meus pais me colocaram em um curso de inglês particular para me estimular, tive esse privilégio”, argumenta.
Para Ana Isabelle, formar uma rede de apoio que te estimule a seguir aprendendo é essencial. “É muito importante! Muitas vezes a gente acaba desistindo, desanimando um pouco, porque no início tem algumas dificuldades. É completamente natural”, pontua.
Ambas foram tão envolvidas na paixão pelo idioma que garantiram manter o inglês em suas vidas para sempre. A princípio, Péthala pensou em ser intérprete, como o pai, mas se encantou pelo ensino. “Ajudar as pessoas a alcançar novos lugares e vê-las desenvolvendo novas habilidades é incrível”, destaca.
Já Ana Isabelle aproveitou uma oportunidade que seu curso de idiomas ofereceu: “Tinha a opção de estender o curso depois do nível avançado por mais de dois anos e conseguir a licenciatura para poder dar aula de língua inglesa. Eu gostava muito de ter esse contato com o inglês, então pensei que talvez fosse uma forma de garantir uma continuidade desse contato”, relembra.
Vergonha paralisante
Em anos atuando como professoras de inglês, Péthala e Ana Isabelle não têm dúvidas na hora de nomear o maior ‘vilão’ da fluência: a vergonha. “Existe uma dificuldade das pessoas em superar essa barreira porque acham que serão julgadas, que o professor vai escutar uma palavra ou pronúncia errada e rir. É absolutamente oposto”, destaca Ana.
Na hora de aprender, é importante sempre se conscientizar de que os equívocos são naturais e que não tem como ‘se livrar’ deles de uma hora para outra, seja na gramática ou na pronúncia. Basta lembrar daquele gringo tentando falar em português com dificuldades, mas sem nenhuma vergonha, nas viagens ao Brasil. Quem não conhece um?!
Ainda é preciso entender que, no início, a jornada será tão desafiadora quanto foi na infância, ao aprender português. “Quando aprendemos a falar a nossa língua materna, nós também erramos muito e até já adultos e alfabetizados! É normal”, argumenta Ana Isabelle.
O fantasma do ‘sotaque neutro’ também assusta aos aprendizes. Em busca da perfeição, os alunos tentam se aproximar ao máximo da fonética dos nativos da língua, mas acabam se frustrando no caminho. O objetivo se torna impossível quando lembramos que existe uma infinidade de formas de falar inglês.
“O medo de não falar exatamente igual ao inglês que estamos acostumados a ver em filmes e séries, ergue uma barreira que ainda precisa ser desconstruída. Sempre tento mostrar o inglês falado de diversos países e em contextos diferentes, a fim de ajudar o aluno. Assim como em português nós temos diferentes formas de pronúncia e sotaque, no inglês não é diferente”, adverte Péthala.
Talvez pela busca irreal da perfeição na pronúncia, influenciadores dos Estados Unidos que prometem ensinar as pessoas a falarem inglês "como um nativo" façam sucesso na internet. No Youtube, o norte-americano Gavin Roy tem mais de 2,5 milhões de inscritos. Já Tim Cunningham tem 580 mil seguidores em seu perfil no Instagram, dedicado à dicas de inglês.
Além da vergonha e da exigência absoluta com a pronúncia, os alunos brasileiros também devem evitar traduções literais. Ferramentas como o Google Tradutor ajudam na hora de tirar uma dúvida rápida, mas podem ser uma armadilha no processo de aprendizado.
“A tradução ainda é vista como um conceito fixo. E precisamos levar em consideração vários tipos de contextos, culturais, geográficos, o registro - se falado ou escrito, por exemplo. Ver dessa forma nos ajuda a compreender o que uma expressão quer dizer da maneira mais adequada”, orienta Péthala.
Não tenho dinheiro para curso, e aí?
O interesse pelo idioma pode até aparecer e a necessidade da fluência pode ‘bater na porta’ no mercado de trabalho. Mas na realidade nem todo mundo tem dinheiro para investir em um curso tradicional. Se contarmos o tempo de aula, o suporte e os materiais didáticos, a conta pode não fechar para muita gente.
Para quem não consegue pagar aulas em grupo ou particulares, a saída é usar a internet a seu favor. “O uso de aplicativos de idioma ou redes sociais que conectam o aluno com outros falantes do idioma através de chat ou voz é uma alternativa”, recomenda Péthala.
A demanda por aplicativos gamificados de ensino pode ser comprovada ao abrir a Apple Store, a página de aplicativos dos usuários de iPhone. Por lá, a plataforma Duolingo é a principal escolha de quem quer aprender pelo celular e é um dos 100 apps mais baixados do Brasil.
“Se a pessoa tem acesso à internet, é uma boa aproveitar o material oferecido gratuitamente por lá. No YouTube, por exemplo, existem videoaulas gratuitas para o ensino da língua inglesa”, argumenta Ana. “Podcasts e vídeos de curiosidades e rotinas no exterior também podem ser uma opção”, complementa Péthala.
7 dicas para aprender inglês
Com base nas dificuldades dos alunos brasileiros, as professoras Ana Isabelle Baptista e Péthala Pequeno separaram algumas dicas para quem quer facilitar e acelerar o aprendizado em inglês. Porém, lembre-se: o processo é contínuo, não existe milagre!
- Faça do aprendizado do inglês um momento de diversão: tente assistir séries, filmes, partidas esportivas e ler no idioma;
- Reveja uma série ou filme que gosta e experimente deixar o áudio e a legenda em inglês;
- Tenha um caderninho ou utilize um bloco de notas digital para anotar dúvidas e expressões novas;
- Faça uso do “journaling”. Esta é uma técnica de escrita diária que consiste em registrar ideias, reflexões, ou apenas falar do que gosta;
- Troque experiências com outras pessoas que estão aprendendo o idioma. Isso torna o processo mais dinâmico;
- Fale! Se não for possível conversar em inglês, cante as músicas que você gosta e repita falas dos personagens nos filmes
- Mantenha esses estímulos em sua rotina todos os dias. O processo de aprendizado é contínuo!