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Plataforma de petróleo: como é trabalhar em alto-mar

Fique por dentro de como funciona e como é a realidade em uma plataforma de petróleo. Conheça a P-57, plataforma FPSO da Petrobras em Vitória, Espírito Santo.

18 mar 2024 - 16h12
(atualizado em 20/3/2024 às 17h51)
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Já imaginou como funciona uma plataforma de petróleo? Por lá, dezenas de profissionais vivem dias embarcados em uma verdadeira 'cidade em alto-mar' que realiza a extração e produção de óleo e gás, retirados do fundo do oceano. 

Em busca de conhecer e entender o funcionamento dessa engenharia, a equipe do Brasil Escola viajou para Vitória, no Espírito Santo, e embarcou em uma aventura que mostra a realidade dos profissionais que vivem e trabalham em uma plataforma de petróleo no meio do mar, a 80 quilômetros do continente.

O trajeto para a plataforma P-57, localizada na Bacia de Campos no Campo de Jubarte, começa no Aeroporto de Vitória. A viagem é feita de helicóptero e dura em torno de 35 minutos de voo sobre o mar.

As dimensões da plataforma impressionam pela grandiosidade. O complexo possui cerca de 300 metros de comprimento e o ponto mais alto chega a 100 metros de altura. 

Na unidade, ocorre o processo de produção do petróleo que é extraído do fundo do mar. A profundidade da água é de 1.261 metros (chamada de profundidade de lâmina d'água), embora o óleo extraído na plataforma, localiza-se a 2.000 metros mais profundos. A P-57 atua na camada de pós-sal e começou sua operação em dezembro de 2010. 

Veja, no vídeo abaixo, o relato de alguns profissionais que trabalham em uma plataforma de petróleo:

Como é trabalhar em uma plataforma de petróleo

A plataforma de petróleo P-57 é do tipo FPSO (do inglês Floating, Production, Storage and Offloading) que é uma unidade flutuante capaz de produzir, armazenar e escoar óleo e gás extraídos do fundo do mar

Atualmente são em média 157 pessoas que trabalham embarcadas na plataforma. Algumas com escala de trabalho de 14 dias na plataforma e os outros 14 dias de folga no continente. E outras, ficam embarcadas 14 dias e 21 dias em terra firme.

São diversos os profissionais que atuam em uma plataforma de petróleo. É como se fosse uma cidade em alto-mar, com espaço para as refeições, lazer, treino e descanso. Por isso, há demanda para que diferentes profissões estejam presentes no dia a dia da plataforma.

Plataforma de petróleo P-57 da Petrobras.
Plataforma de petróleo P-57 da Petrobras.
Foto: Lucas Afonso. / Brasil Escola

Os colaboradores que conversaram conosco relatam sobre a relação que se cria dentro da plataforma. "Formamos uma família aqui a bordo", afirma Humberto Kunsh de Melo (37), supervisor de manutenção mecânica. Entre os maiores desafios apontados pelos trabalhadores está o fato de não estarem sempre presentes com os amigos e familiares em momentos importantes. Já que ficam a bordo 14 dias seguidos. 

No caso da P-57, ela já funcionou um dia como navio cargueiro e atualmente está totalmente adaptada para executar as atividades de uma plataforma de petróleo.

Bruno Ferreira é gerente de plataforma na P-57.
Bruno Ferreira é gerente de plataforma na P-57.
Foto: Lucas Afonso. / Brasil Escola

Bruno Ferreira (39) é o atual gerente de plataforma que para Marinha é visto como comandante da embarcação, profissional que responde pela integridade de todos que estão a bordo. Natural da Bahia, Bruno trabalha na Petrobras há 16 anos, desde sua aprovação no concurso público para Engenheiro de Processamento em 2008. 

Mulheres em uma plataforma de petróleo

A enfermeira Iasmin Leite (25) é a única profissional de saúde embarcada na P-57 e atua em atendimentos clínicos, de emergência e urgência, dos profissionais que trabalham na plataforma. Movida pela curiosidade, Iasmin que antes trabalhava com enfermagem em unidades de saúde, decidiu se aventurar para exercer sua função em alto-mar. 

Iasmin Leite é enfermeira na plataforma de petróleo P-57 da Petrobras.
Iasmin Leite é enfermeira na plataforma de petróleo P-57 da Petrobras.
Foto: Lucas Afonso.  / Brasil Escola

Ela reforça a importância das mulheres ocuparem espaços como a plataforma de petróleo. "Nós mulheres precisamos fortalecer nossa presença no meio industrial", enfatiza.

A capixaba Dédima Oliveira (35) ocupa um cargo de liderança na plataforma atuando como supervisora de produção. Formada nos cursos Técnico em Automação e Engenharia de Produção, seu ingresso na Petrobras ocorreu em 2010. 

Dédima Oliveira é supervisora de produção na P-57 da Petrobras.
Dédima Oliveira é supervisora de produção na P-57 da Petrobras.
Foto: Lucas Afonso.  / Brasil Escola

"É uma área que fascina muito. Olhamos para uma plataforma de petróleo e questionamos: como vou trabalhar aí? É muita tubulação, é muita linha, muito equipamento, muito metal! Mas, temos oportunidade para todos. Trabalhamos com uma sinergia muito boa. E esperamos que mais mulheres possam vir trabalhar conosco para fazer com que o ambiente seja mais diverso."

Dédima Oliveira

O objetivo da equipe, enfatiza Dédima, é trabalhar para que as mulheres compreendam que esse ambiente também é para elas.

Realidade de uma pessoa com deficiência na plataforma de petróleo

Aos 13 anos, um acidente tornou Vinicius Martinelli, hoje com 45 anos, uma pessoa com visão monocular. A condição é definida, de acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), quando a pessoa tem visão igual ou inferior a 20% em um de seus olhos e no outro mantém a visão normal.

Vinicius Martinelli Sperandio é coordenador de produção da plataforma P-57 da Petrobras.
Vinicius Martinelli Sperandio é coordenador de produção da plataforma P-57 da Petrobras.
Foto: Lucas Afonso. / Brasil Escola

Vinicius é capixaba e desde que se tornou uma Pessoa com Deficiência (PcD) buscou por meio dos estudos alternativos de crescimento pessoal e profissional. Se formou em uma escola técnica no curso de Eletrotécnica e no curso de Engenharia Eletrônica.

"É uma mudança radical em sua vida quando você se torna uma pessoa com deficiência. Paramos para pensar muito fortemente na vida. Quem é PcD sabe disso, é um divisor de água."

Vinicius Sperandio

Entenda o que é inclusão social, sua aplicação e leis neste artigo. 

Como funciona uma plataforma de petróleo

O processo de exploração e produção de petróleo em alto-mar é conhecido como off-shore. Existem tipos diferentes de plataformas de petróleo. A do tipo fixa estão localizadas em regiões com menor profundidade (lâmina d'água de até 300 metros), enquanto as do modelo FPSO, flutuantes, podem atuar em águas ultraprofundas. 

A primeira plataforma de petróleo do tipo FPSO da Petrobras foi inaugurada de forma oficial em 1992, no entanto, desde a década de 1980 essas unidades já estavam em operação. 

Entre as etapas que fazem parte produção e exploração de petróleo em alto-mar, estão:

  1. Perfuração de poços por navios sondas;

  2. Extração de óleo e gás do fundo do mar por meio dos poços a partir da plataforma de petróleo;

  3. Injeção de água e gás para o preenchimento de reservatórios;

  4. Processamento de óleo e gás em módulos específicos distribuídos na plataforma de petróleo;

  5. Transferência do óleo para navios aliviadores e do gás através de gasodutos.

A perfuração dos poços de extração de petróleo é realizada por um navio sonda e não pela plataforma. Com os poços perfurados, a plataforma atuará na extração do óleo e gás do fundo do mar. Nesse processo, haverá poços específicos para a retirada dos materiais e outros com a função de injetores, que completam os reservatórios com gás e água na medida que o óleo é retirado.

O óleo é transferido para a plataforma por meio dos dutos, chamados de flow (no fundo do mar) e risers (quando chegam à plataforma). Já em circulação o óleo e gás são processados em módulos responsáveis por etapas específicas da produção. 

Módulo de processamento de óleo da plataforma P-57.
Módulo de processamento de óleo da plataforma P-57.
Foto: Lucas Afonso.  / Brasil Escola

Após o processamento, a plataforma estoca os produtos. O escoamento do óleo é feito por meio da transferência do líquido para navios aliviadores. Enquanto o gás é enviado ao continente através de gasodutos que estão no mar. O gás da P-57 é escoado para a Unidade de Gás Sul Capixaba (UTGSUL), localizada na cidade de Anchieta (ES), por meio do gasoduto Sul Capixaba que possui 83 quilômetros de extensão. 

Para garantir a manutenção dos equipamentos que estão trabalhando no fundo do mar, Vinicius Martinelli, coordenador de produção da P-57, explica que robôs atuam constantemente na inspeção e verificação de possíveis irregularidades.

Plataforma P-57 da Petrobras em Vitória, no Espírito Santo

Localizada aproximadamente a 80 quilômetros do continente, a plataforma FPSO P-57 da Petrobras possui a capacidade de produção diária de óleo de cerca de 180 mil barris de óleo e de gás em 2 milhões de Nm³. 

"Aqui na plataforma geramos a nossa própria água de consumo", Carlos Eduardo (38), gerente de operação da plataforma P-57. A unidade é capaz de tratar a água salgada do mar para a tornar própria para o consumo. O profissional explica que a plataforma funciona como se fosse um outro mundo. Entre as atividades importantes realizadas em alto-mar está o tratamento de esgoto na própria plataforma.

Plataforma P-57 da Petrobras, localizada a 80 quilômetros da costa do Espírito Santo.
Plataforma P-57 da Petrobras, localizada a 80 quilômetros da costa do Espírito Santo.
Foto: Lucas Afonso.  / Brasil Escola

Carlos Eduardo é baiano e se formou em Engenharia Química. Atualmente, sua função na P-57 como gerente de operações é administrar os processos realizados na unidade, visando manter a produção de óleo e gás de forma segura.

Entre suas atribuições é organizar as demandas necessárias dentro da plataforma como a necessidade de manutenção em equipamentos, garantir que os equipamentos de segurança estão em dia, bem como gerencia a logística de mantimentos e produtos do continente para a plataforma. 

Localização geográfica da plataforma P-57.
Localização geográfica da plataforma P-57.
Foto: Brasil Escola

Os mantimentos, comidas e produtos necessários para o funcionamento da unidade são enviados do continente para a P-57 por meio de embarcações. A frequência que a equipe recebe esses itens é de cinco dias em média, explica o gerente de operações.

A plataforma possui a capacidade de gerar sua própria energia por meio do gás contido na unidade. A potência da P-57 é de 75 MegaWatts, afirma Carlos.

Como trabalhar em uma plataforma de petróleo

Para trabalhar em uma plataforma de petróleo da Petrobras, uma possibilidade é prestar o concurso público realizado pela empresa. No último processo seletivoforam abertas 916 vagas para cargos de nível técnico. A remuneração mínima oferecida foi de R$5.878,82. As provas do concurso serão aplicadas no dia 24 de março.

A Petrobras possui reserva de vagas para pessoas negras e pessoas com deficiência. Neste último concurso, por exemplo, 20% das vagas reservadas disponíveis foram reservadas para cada um desses dois grupos.

A P-57 está a 1,2 mil metros de profundidade.
A P-57 está a 1,2 mil metros de profundidade.
Foto: Lucas Afonso. / Brasil Escola

Confira alguns cargos que atuam na plataforma P-57:

  • Gerente de Plataforma

  • Coordenador de Produção

  • Coordenador de Manutenção

  • Coordenador de Embarcação

  • Supervisor de Produção

  • Supervisor de Mecânica

  • Supervisor de Elétrica e Instrumentação

  • Operador de Produção

  • Técnico de Laboratório

  • Técnico de Mecânica

  • Técnico de Elétrica

  • Técnico de Instrumentação

  • Técnico de Automação

  • Técnico de Estabilidade

  • Técnico de Logística de Transporte

  • Técnico de Inspeção de Equipamentos

  • Técnico de Segurança do Trabalho

  • Técnico de Suprimentos

  • Técnico de Telecomunicações

  • Caldeireiro

  • Montador de Andaime

  • Pintor

  • Técnico de Planejamento

  • Operador de Rádio

  • Nutricionista

  • Chefe de Cozinha

  • Auxiliar de Cozinha

  • Taifeiro

  • Auxiliar de Movimentação de Cargas

  • Guindasteiro

  • Mestre de Cabotagem

  • Oficial de Náutica

  • Marinheiro

José Maique (30) é chefe de cozinha da plataforma P-57.
José Maique (30) é chefe de cozinha da plataforma P-57.
Foto: Guilherme Urbano.  / Brasil Escola

O que é e para que serve o petróleo?

O petróleo é um combustível fóssil formado por uma substância oleosa originada a partir da decomposição de matérias orgânicas, explica a professora Rafaela Sousa neste artigo. Localizado em bacias sedimentares, no fundo do mar, tornou-se um dos principais recursos naturais utilizados como fonte de energia hoje em dia.

Apesar de ainda representar influência significativa na economia como fonte energética, o petróleo está dando lugar a fontes alternativas de energia que geram menos impactos ao meio ambiente.

Óleo de petróleo.
Óleo de petróleo.
Foto: Lucas Afonso.  / Brasil Escola

O petróleo é utilizado como fonte de energia por meio de seus derivados, como também serve, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), de matéria-prima para a fabricação de plásticos, borrachas sintéticas, tintas, solventes e produtos cosméticos.

Entre os produtos derivados do petróleo estão:

  • Gasolina;

  • Querosena;

  • Óleo diesel;

  • Gás liquefeito de petróleo.

Curiosidades sobre uma plataforma de petróleo

Confira, abaixo, algumas curiosidades sobre uma plataforma de petróleo:

  • Algumas plataformas de petróleo chegam a ficar a 200 quilômetros do continente.

  • Os quartos em que residem os trabalhadores da P-57 são chamados de camarotes.

  • A plataforma possui vias na cor verde com sinalização de setas que indicam a direção para um ambiente do casario, onde todos devem se encontrar em situações de emergência.

  • Em alguns dos corredores da plataforma existem barras utilizadas para impedir a passagem de óleo caso ocorra algum tipo de derramamento.

  • É necessário utilizar macacões, botas, óculos e luvas nos ambientes de produção da plataforma.

  • Diversas âncoras gigantescas são fixadas a mais de 1 mil metros de profundidade para estabilizar a plataforma P-57;

  • Para chegar à plataforma P-57 é necessário ir de helicóptero. Um voo que dura em torno de 35 minutos sobre o mar;

  • A plataforma P-57 já atuou como navio cargueiro. A embarcação começou a navegar em 1987 e saiu de Cingapura;

  • Nem toda a plataforma do tipo FPSO já foi um navio cargueiro um dia. Modelos mais novos são produzidos do zero para a função de plataforma de petróleo;

  • Para se ter uma ideia, a plataforma P-57 é maior que o Titanic que tinha 269 metros de cumprimento.

* A equipe do Brasil Escola viajou a convite da Petrobras

Por Lucas Afonso

Jornalista

Brasil Escola
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