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Português falado não é mais instrumento de opressão, avalia professora da USP

Linguista celebra Dia Internacional da Língua Portuguesa, nesta sexta-feira, 5, e relembra como idioma foi absorvido pelos brasileiros

5 mai 2023 - 13h59
(atualizado às 17h35)
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Professora Rita Chaves, da Universidade de São Paulo (USP)
Professora Rita Chaves, da Universidade de São Paulo (USP)
Foto: Arquivo pessoal

O vocabulário brasileiro já virou meme nas redes sociais por diversos motivos. Se por um lado existe uma grande variedade de palavras e complexidade em torno de sua gramática, a variação regional volta e meia cai nas graças da web por causa da multiplicidade de sentidos que um mesmo vocábulo pode assumir.

Essa língua tão rica é celebrada nesta sexta-feira, 5, com o Dia Internacional da Língua Portuguesa. Ao menos oito países têm o português como língua materna. Além do Brasil, um dos que possuem mais falantes desse idioma, também celebram a data: Portugual, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, além do Timor-Leste. 

Mas a forma de falar dos brasileiros se destaca dos demais "irmãos" de língua, devido ao que caracteriza a constituição do País enquanto nação: a mistura das culturas indígenas, portuguesas e africanas. Trazida pelos europeus no século XVI, a língua portuguesa foi imposta como língua materna durante o período de colonização, mas palavras do tupi-guarani e vernáculos africanos também foram incorporados ao nosso idioma. 

"O que eu acho muito interessante é pensar como nós incorporamos essa língua e acabamos por transformá-la num instrumento de libertação também, já que a língua portuguesa foi imposta por uma colonização muito violenta pelos portugueses", observa Rita Chaves, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP).

O resultado da mistura linguística desses três povos deu origem à definição reconhecida como Língua Negra Lusoafrobrasileira. A disseminação cultural das línguas locais trouxe o surgimento de algumas palavras usadas ainda no nosso cotidiano, como "anhangabaú", "morumbi", "anhanguera", "quitanda", "fubá" e "caçula", entre outras.

O "jeitinho" brasileiro de falar

Para a professora Rita Chaves, os frutos do fenômeno sociolinguístico estão presentes na atualidade e são observadas por um comportamento típico brasileiro: nós não falamos como escrevemos, e não necessariamente escrevemos como falamos. Um professor universitário, por exemplo, não segue à risca a gramática ao se expressar oralmente. 

"Hoje o português brasileiro falado é um bem cultural, não mais um instrumento de opressão, mas sim de expressão de todas as identidades com várias palavras que não vem dos portugueses", destaca. 

Como celebrar o Dia Internacional da Língua Portuguesa

Sendo a cidade com maior população de falantes da língua portuguesa em todo o mundo, São Paulo será palco de uma programação especial para reverenciar o idioma. Nos dias 5 e 6 de maio, o Museu da Língua Portuguesa, no bairro da Luz, receberá encontros e shows com entrada gratuita.

"Serão dois encontros, um sobre a língua portuguesa viva na literatura negra contemporânea (Portugal-África-Brasil) e outro sobre a língua brasileira nordestina. Outra camada são os shows: da música caipira ao funk de São Paulo, passando pelo rap e emboladas. Por fim, duas performances acontecerão junto ao público do Museu, trazendo as línguas dos povos originários e um remix da literatura e de canções da língua portuguesa",  comenta o curador, historiador e cantor Cacá Monteiro. 

A programação com recorte na ancestralidade dos povos que influenciaram a língua portuguesa no Brasil, do passado até sua contemporaneidade, pode ser conferida no site do Museu da Língua Portuguesa.

Mas também há outras formas de aproveitar o Dia Internacional da Língua Portuguesa, sem sair de casa. E, se preferir, dá até para reunir amigos e familiares. Confira:  

• Assistir a filmes, documentários e séries que demonstram a pluralidade e história da língua portuguesa. Um clássico é o filme Central do Brasil (1998), com a atriz Fernanda Montenegro no papel de Dora, uma professora de português que escreve e lê cartas para pessoas não alfabetizadas.

• Fazer desafio de trava- língua (jogo de palavras que faz parte da literatura e cultura popular) entre os amigos e família. Por exemplo: "O rato roeu a rica roupa do rei de Roma! A rainha raivosa rasgou o resto e depois resolveu remendar!".

• Reunir os amigos para fazer a noite ou dia do poema, ou ainda propor encenações teatrais sobre o assunto. 

Fonte: Redação Terra
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