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Pós-doutorandos negros defendem continuidade de programa de bolsas na USP

Pesquisadores promovem encontro aberto ao público com presença de pensadores, professores e representantes do governo para expor seus estudos

25 mai 2024 - 03h11
(atualizado às 07h47)
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Foto: Reprodução

Buscar mais oportunidades para pesquisadores negros e garantir a continuidade das pesquisas no programa de bolsas de pós-doutorado para esse segmento são alguns dos objetivos do "Encontro Sueli Carneiro e Kabengele Munanga de Pós-doutorandos Negros e Negras da USP", nesta segunda-feira, 27, na Cidade Universitária, em São Paulo.

O encontro é fruto de uma mobilização dos pesquisadores pela permanência do programa de bolsas oferecido pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) em 2023. Esse programa selecionou 50 cientistas negros de diversas áreas do conhecimento, como genética, educação, astrobiologia, neurologia, ciências sociais, história, farmácia, entre outras. Os pesquisadores argumentam que precisam de mais tempo para avançar nas pesquisas.

"Queremos expor as nossas pesquisas e o próprio programa como uma maneira de mobilizar a comunidade universitária, coletivos negros e outros movimentos para eles apoiarem e cobrarem da USP a renovação e a institucionalização desse programa", explica o pesquisador Alexandre Bortolini, de 43 anos, da área de Ciências Sociais.

A Universidade de São Paulo (USP) informou que está avaliando a continuidade da iniciativa. "No momento, estamos recebendo os relatórios do edital de 2023. Depois da fase de avaliação, iremos estudar as perspectivas futuras para o programa", afirmou o professor Rogério Monteiro de Siqueira, coordenador da Diretoria Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento ao Estadão.

A reitoria afirma ter investido cerca de R$ 5,5 milhões no programa, que recebeu 1.017 inscritos de vários lugares do País de 2023. "Há um grande contingente de negros e negras com boa formação, em condições de continuar suas carreiras como professores universitários e pesquisadores", avalia Siqueira.

Para incentivar a institucionalização do programa, o encontro vai reunir importantes nomes da luta por mais ações afirmativas, como a filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro, e Márcia Lima, secretária Nacional de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial.

Mais do que uma bolsa de pós-doutorado

O número reduzido de ações afirmativas na área da pesquisa também foi estímulo para a mobilização. De acordo com estudo do Observatório de Ações Afirmativas na Pós-graduação (Obaap), realizado a partir da análise dos editais de seleção dos cursos de mestrado e doutorado de universidades públicas até 2021, 1.531 programas já adotavam algum tipo de ação afirmativa em seus processos de admissão.

O cenário apresentou uma melhora em 2023, quando a Lei de Cotas Raciais incluiu ações afirmativas para os programas de pós-graduação. Para Bortolini, a aplicação de políticas dessa natureza se assemelha aos degraus de uma escada. "É uma atuação muito recente. Primeiro, a gente conseguiu cotas na graduação. Com a pressão dos movimentos, vieram as cotas na pós-graduação. Depois da pós-graduação, vem a pesquisa, o pós-doc. E a última etapa é a docência".

Comunicólogo e pedagogo, o bolsista estuda a construção de políticas de gênero na educação brasileira, com foco em ações para meninos negros. Segundo Bortolini, esse grupo possui os piores indicadores educacionais desde a década de 1990. "Até hoje não existe nenhuma política pública de educação direcionada para garantir o direito à educação desses meninos. A minha pesquisa busca entender as razões desse cenário", explica.

O programa de bolsas para doutorandos negros deve inspirar outras instituições de ensino, afirma o pesquisador. "Consolidar um tipo de política afirmativa na pesquisa na USP é muito simbólico pela sua dimensão, mas também porque reverbera em outras instituições".

O professor da USP adota argumentação semelhante. "O programa teve duas edições, de caráter indutor de políticas de diversidade nas ciências. Felizmente, as agências de fomento estão percebendo essa demanda e começaram a desenhar linhas similares". O professor cita, como exemplo, o programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

Bortolini destaca os benefícios dessas ações para o próprio avanço da ciência. Em sua visão, a produção de conhecimento inovador parte também da diversidade social de pessoas, vivências e particularidades.

"As mulheres negras foram capazes de pensar o conceito de interseccionalidade. As pessoas trans desenvolveram o conceito de cisgeneridade. Foram pesquisadores do sul global, que trouxeram o conceito de decolonialidade. O lugar social contribuiu muito para a produção de pesquisa", opina.

O grupo de pesquisadores é composto por 29 mulheres (58%), o que significa uma contribuição importante na temática étnico-racial. Dados do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) indicam que as mulheres pretas, pardas e indígenas são 2,5% da população de cientistas brasileiros.

* Este conteúdo por produzido em parceria com o coletivo de Bolsistas do Programa de Pós-Doutorado para Pesquisadoras e Pesquisadores Negros da USP

Serviço

Evento: Encontro Sueli Carneiro e Kabengele Munanga de Pós-doutorandos Negros e Negras da USP

Data: 27 de maio (segunda-feira)

Horário: 12h às 17h

Local: Instituto de Estudos Avançados

Endereço: Rua Praça do Relógio, 109 - Cidade Universitária - Butantã

Transmissão online: https://www.instagram.com/pdocsnegros.usp/

Estadão
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