Script = https://s1.trrsf.com/update-1732903508/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Revolta da Vacina: o que foi e como aconteceu

A Revolta da Vacina ocorreu há mais de 100 anos no Rio de Janeiro e tem relação com diversos aspectos sociais e políticos.

3 dez 2024 - 05h00
Compartilhar
Exibir comentários
Resumo
A Revolta da Vacina foi um episódio histórico no Rio de Janeiro em 1904, em resposta à obrigatoriedade de vacinação contra varíola.
A Revolta da Vacina foi um dos marcos no combate à doença no Brasil; acima, bonde virado na praça da República, no Rio de Janeiro, em protesto contra a lei da vacinação obrigatória da varíola, em 14 de novembro de 1904
A Revolta da Vacina foi um dos marcos no combate à doença no Brasil; acima, bonde virado na praça da República, no Rio de Janeiro, em protesto contra a lei da vacinação obrigatória da varíola, em 14 de novembro de 1904
Foto: Acervo Fiocruz / BBC News Brasil

Um dos episódios históricos mais lembrados quando o assunto é vacinação foi a Revolta da Vacina, fato ocorrido há mais de 100 anos e que ainda é lembrado atualmente, especialmente após a pandemia de COVID-19 iniciada em 2020. 

O marco histórico ocorrido na então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro, foi causado pela combinação de diferentes fatores de ordem social, política e econômica, além de aspectos relacionados à saúde da população no começo do século XX.

Além da importância histórica, a Revolta da Vacina também ajuda a entender algumas das origens da descrença de parte da população na vacinação, mesmo com esse recurso considerado altamente eficaz para a prevenção de doenças diversas desde a sua criação, na Inglaterra, em 1796, a partir do trabalho do médico Edward Jenner contra a varíola.

O que foi a Revolta da Vacina?

A Revolta da Vacina foi um levante popular que aconteceu em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República Federativa do Brasil, proclamada poucos anos antes, em 1889. 

A ação foi uma resposta à aprovação e regulamentação de uma lei que tornava obrigatória a apresentação de comprovantes de vacinação contra varíola para diferentes atividades, como contratações e casamentos.

A rebelião da população da capital federal teve duração de 5 dias e envolveu a destruição de bondes, carros, árvores e de parte do sistema público de iluminação. Também foram registrados confrontos entre revoltosos e forças de segurança. A revolta popular deixou como saldo 30 pessoas mortas, 110 feridas e 945 prisões.

O cenário caótico na capital federal fez com que a lei fosse revogada no dia 16 de novembro, apenas uma semana após a sua regulamentação. 

Por que a Revolta da Vacina aconteceu?

A Revolta da Vacina é considerada o estopim de uma série de mudanças sociais, políticas e econômicas que aconteciam no Brasil e, especialmente, no Rio de Janeiro. A cidade era conhecida por lidar com epidemias de diversas doenças, como febre amarela, tuberculose, malária e varíola. Esta última enfermidade matou mais de 3.500 pessoas na capital federal em 1904.

Apesar da vacina contra varíola ser obrigatória para crianças e adultos, a aderência era baixa, tanto devido à produção tardia do imunizante em larga escala quanto à falta de conhecimento da população sobre a vacinação, sendo que existiam boatos sobre efeitos colaterais da vacina que deixariam as pessoas com aspecto bovino.

Além disso, a falta de políticas sociais para a população negra escravizada após a abolição, em 1888, fez com que muitos ex-escravizados superlotar cortiços da área central da cidade, que também lidavam com problemas de infraestrutura, como falta de saneamento e limpeza, circulação de animais e ruas estreitas.

Outra razão por trás da Revolta da Vacina tem cunho político, já que monarquistas e militares estavam descontentes com o sistema republicano e com os governos que ocuparam o poder após a Proclamação da República de 1889.

Quando o recém-eleito presidente Rodrigues Alves iniciou um projeto para alterar a cidade do Rio de Janeiro, em conjunto com o então prefeito Pereira Passos, diversas obras para remodelar a cidade foram iniciadas. Isso envolveu a destruição de cortiços e o deslocamento dos antigos moradores para morros, o que deu origem ao processo de favelização carioca.

Outras medidas, como a proibição de circulação de animais como cães, vacas e porcos, restrições ao comércio de carnes em bancas, e a proibição de aglomerações também contribuíram para o aumento da insatisfação popular. 

Por fim, o então diretor-geral de Saúde Pública, o médico Oswaldo Cruz, sugeriu a medida que exigia a comprovação vacinal contra varíola para atividades como contratações profissionais, matrículas escolares, permissões de viagens e emissões de certidão de casamento, além de multa para quem não tomasse a vacina. Essa lei foi o estopim para a Revolta da Vacina.   

Quem liderou a Revolta da Vacina?

A Revolta da Vacina foi incentivada por diferentes setores que estimularam a rebelião da população contra o governo. Além de boatos sobre a vacinação, figuras intelectuais, como o político e jurista Ruy Barbosa (1849-1923), realizavam discursos que contestavam a intervenção do governo na vida dos cidadãos e contra a obrigatoriedade da vacina.

A imprensa também foi utilizada para desacreditar Oswaldo Cruz e a vacinação, por meio de charges, que tinham aderência na população, na maioria semianalfabeta. 

Outro recurso contra a vacina foi a disseminação de boatos ou mesmo marchinhas de carnaval para inflamar a população a questionar e se revoltar contra a medida. 

A rebelião contra a vacina passou a explorar também a insatisfação com o governo de forma geral e, a partir da revolta, setores insatisfeitos com o governo tentaram um golpe de Estado. A tentativa, liderada pelo marechal Hermes da Fonseca, foi frustrada. Após o decreto do estado de sítio e a mobilização do Exército, a Revolta da Vacina foi encerrada após 5 dias de duração.

O que aconteceu após a Revolta da Vacina?

Apesar da revogação da obrigatoriedade da vacina contra a varíola, uma nova epidemia da doença provocou mais de 6.500 casos na cidade do Rio de Janeiro dois anos após a Revolta da Vacina, em 1908. Diante da situação, a população passou a procurar os postos de saúde da então capital federal em busca da vacinação. 

A varíola foi considerada erradicada do Brasil em 1973 e, durante o século XX e XXI, o Brasil se estabeleceu como uma das grandes referências mundiais em vacinação. 

Além de contar com duas instituições de referência na pesquisa de doenças e produção de vacinas, caso da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e do Instituto Butantan, em São Paulo, o Brasil criou uma série de estratégias em prol da vacinação, com destaque para o Plano Nacional de Imunização e a criação do SUS (Sistema Único de Saúde).

Por que a vacinação é importante?

A vacinação é fundamental para manter a imunidade do organismo e proteger tanto quem se vacina quanto grupos vulneráveis que podem ou não ter sido imunizados, como gestantes, crianças e idosos. 

As vacinas estimulam o organismo a produzir com mais rapidez as defesas naturais contra doenças, antes do desenvolvimento de quadros graves de saúde. Além disso, os imunizantes combatem a disseminação de doenças, reduzindo a transmissão de enfermidades infecciosas diversas.

A vacinação ajuda a diminuir a mortalidade infantil ao redor do mundo e a de outros grupos vulneráveis, como idosos, gestantes e pessoas imunossuprimidas. Isso porque a vacina atua para enfraquecer infecções e incentivar a produção de defesas que eliminem vírus e bactérias causadores de doenças.

Para saber mais curiosidades geográficas sobre o Brasil e o mundo e aprender temas importantes para o aprendizado, navegue pelo site Terra Educar!

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade