Sem salas, pré-vestibulares periféricos fecham 500 vagas na zona leste de SP
Funcionando há mais de uma década, gratuitamente, dois cursinhos perderam as salas cedidas e não abrirão novas turmas
Mais do que expor uma dificuldade, fechamento mostra o quanto pré-vestibulares gratuitos ou a preços simbólicos atendem grande quantidade de estudantes. No estado de São Paulo, são 250 cursinhos. No interior, proliferam ao redor de universidades públicas; na capital, entram com força os movimentos sociais.
Os pré-vestibulares Mafalda e Laudelina, na zona leste de São Paulo, não abrirão novas turmas em 2025. Estão sem salas de aula, que eram cedidas por instituições particulares de ensino. Fecharão 500 vagas gratuitas.
As mulheres à frente das duas iniciativas estão em pleno corre atrás de espaço. “A gente gostaria de continuar na zona leste, nossa história se concentra aqui”, diz Manuela Simões, ex-aluna do Cursinho Laudelina, graduanda de História e uma das coordenadoras.
“A gente está atrás de escolas públicas”, diz Manuela, aluna da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O Cursinho Laudelina existe desde 2010. Funcionava próximo ao metrô Guilhermina-Esperança e estava preparado para oferecer até 200 vagas neste ano.
Também na zona leste, no Tatuapé, o Cursinho Mafalda não tem mais a sala cedida por uma universidade particular. Eram 300 vagas. Da última turma, 17 estudantes entraram em universidades públicas, mais da metade na USP.
Estão sendo realizadas ações como feijoada e vaquinha, que “teve uma resposta muito boa nos primeiros dias, mas, como era de se esperar, deu uma parada”, conta Maria Carolina de Andrade José, coordenadora.
No interior, cursinho reduz turma em sala menor
Garantir espaço físico para as aulas é uma dificuldade recorrente de pré-vestibulares gratuitos ou que cobram valores simbólicos. Em Hortolândia, com 236 mil habitantes, na Região Metropolitana de Campinas, o Cursinho Flor de Maio reduziu a turma à menos da metade por falta de espaço.
Funcionando desde 2013 no Jardim Nossa Senhora de Fátima, atendia 70 estudantes em pré-vestibular de um ano e meio. Agora, no Jardim Amanda, em espaço adaptado, atende 20. “Nossa maior dificuldade, desde a fundação, foi encontrar um lugar para realização das aulas”, relata Márcia Leite, ex-aluna e uma das gestoras.
Segundo Paulo Desiderio, integrante da Frente de Cursinhos Populares de São Paulo, além da falta de professores voluntários, sobretudo da área de Exatas, a evasão e a alimentação são os principais desafios.
“A alimentação é fundamental, evita a evasão, ela envolve não só obter comida, mas guardar e fazer. Por isso alguns cursinhos têm cozinhas coletivas”, explica Desiderio.
Quantos são e onde estão os pré-vestibulares populares?
O número mais atualizado sobre a quantidade de pré-vestibulares é de 2022, levantamento da Frente de Cursinhos Populares de São Paulo, cujo site cadastra instituições. Segundo Desiderio, que também é professor da Rede Ubuntu, uma atualização do mapeamento está sendo organizada.
Os dados disponíveis indicam que são 250 cursinhos em periferias pelo estado de São Paulo, sendo 110 na capital, para pessoas de baixa renda. “Mas a gente sabe que este número é maior”, diz Desiderio.
Esses pré-vestibulares cobram pouco ou nada para preparar para o Enem e vestibulares da USP, Unicamp, Unesp, entre outros. No interior, estão ligados a universidades públicas. Na capital, os movimentos sociais atuam com força.
Cursinhos de quebrada funcionam em espaços cedidos de escolas e até de igrejas, como o Cursinho Elza Soares, na favela São Remo, zona oeste – entre as aprovadas deste ano, uma aluna na USP e outra na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Do outro lado da cidade, em Americanópolis, zona sul, o Centro Popular de Defesa dos Direitos Humanos Frei Tito de Alencar Lima cede espaço ao Cursinho Construção. Ele acontece aos sábados, o dia inteiro. Na hora do almoço, estudantes esquentam suas marmitas na cozinha do local, o que é um enorme adianto.