Após sancionar, em setembro deste ano, a lei que destina 75% dos recursos dos royalties do petróleo à educação, a presidente Dilma Rousseff garantiu que o dinheiro será investido no aumento da remuneração dos professores. A presidente chegou a destacar a necessidade do valorização do corpo docente, ao afirmar que o Brasil não será um País desenvolvido sem pagar bem os seus professores.
De acordo com o relator do projeto, deputado André Figueiredo (PDT-CE), seriam destinados cerca de R$ 2 bilhões em 2014 e R$ 4 bilhões em 2015. Em 2011, o Brasil investiu cerca de R$ 233,4 bilhões na educação pública. Em pouco tempo, entretanto, dificilmente se verá uma evolução grande na situação dos professores, acreditam especialistas.
Segundo a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, os recursos do petróleo para a educação não são tão grandes e podem variar por conta do custo de extração. Os recursos colaborariam com 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, enquanto o prometido pela presidente Dilma Rousseff é destinar 10% do PIB para o setor.
Já que as verbas não são suficientes, Priscila afirma que elas devem ser focadas. "O fator mais importante para a qualidade da educação é o professor. Então o que seria estratégico é investir no salário inicial dos professores para atrair para a carreira", diz. Ela acredita que desta forma os melhores alunos serão atraídos para a docência.
O fenômeno acontece em países que estão no topo do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) - sistema avaliativo que colocou o Brasil em penúltimo lugar entre os 40 países analisados. Na Finlândia, por exemplo, a qualidade dos professores se inicia com a seleção criteriosa para a formação docente: apenas os melhores estudantes ingressam na carreira, bastante prestigiada, apesar dos salários não muito altos.
“Ninguém deveria pagar para se formar professor e deveria haver uma bolsa para quem opta por licenciatura", defende Ocimar Alavarse, professor da faculdade de educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Alavarse, os recursos do pré-sal poderiam ser investidos nisso. Aumentar os pagamentos é mais complexo, acredita. Para que isso aconteça, é fundamental haver uma federalização dos salários, já que grande parte dos municípios e estados alega não ter condições de cobrir o piso de R$ 1.567.
Para além da questão salarial
Entretanto, não é somente no salário que os investimentos devem se voltar. Dar melhores condições de trabalho e incentivar a valorização social do professor são outros dois pontos apontados por Priscila como essenciais. Ela ressalta a grande desigualdade da educação no país. "É preciso aumentar os investimentos nos locais de maior vulnerabilidade". O investimento em locais pouco desenvolvidos social e economicamente é necessário para atrair profissionais para as escolas. Envolver a comunidade na formação escolar e proporcionar uma boa infraestrutura também auxiliam o professor no ensino.
A curto prazo, porém, parece ser difícil acreditar em melhoras. "Essa desvalorização é uma construção histórica", diz Alavarse. Os constantes cortes de gastos públicos com educação são criticados pelo professor. Eles afetam não só direta, mas indiretamente a imagem do corpo docente, já que as más condições de trabalho levam a constantes greves. Aliadas a isso, estão as recorrentes notícias de baixo desempenho escolar do brasileiro e de violência na escola, que constroem uma visão negativa da profissão para os jovens.
Ana Maria Monteiro, diretora da faculdade de educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê a destinação dos recursos para a educação como necessária, mas questiona para onde irá o dinheiro. Para ela, ainda é preciso esclarecer se será aplicado em nível federal, estadual ou municipal, se na educação básica ou superior e que percentual será dirigido a cada área. "Necessidades de recursos existem, mas é preciso discutir com muito cuidado onde serão investidos".
Para os próximos anos, é difícil ter uma previsão otimista para os professores, acredita Ana Maria. A melhora é urgente, mas deve ser viável apenas a médio prazo. Considerando-se o Brasil como um todo, ainda há muitos desafios pela frente para que se ofereça condições de trabalho e a valorização necessária ao profissional da educação.
Dia do Professor: mestres relatam como é educar para a diversidade
No quadro-negro da sala de aula da professora Elieth Portilho estão fotos de pássaros e frutas do Cerrado
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
As cartilhas falam de temas rurais e práticas do campo e foram elaboradas pela professora e os alunos. É com esse material que ela alfabetiza as crianças no Centro de Ensino Fundamental Pipiripau 2, localizada em um núcleo rural em Brasília
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
Em mais de 20 anos de magistério, a professora chegou a atuar em escola da área urbana, mas percebeu que seu caminho estava mesmo no campo. As pessoas têm um preconceito: você vai fazer mestrado para continuar em uma escolinha do campo?, perguntam Aí é que temos que estudar para recuperar essa perda histórica de exclusão da escola do campo, que sempre foi relegada, defende.
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
As dificuldades que enfrentou na escola por ser surda despertaram o interesse de Adriana Gomes Batista em seguir o magistério para tornar mais fácil o aprendizado de crianças na mesma condição
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Atualmente, ela é professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e dá aulas na Escola Bilíngue Libras e Português Escrito
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Policiais na porta da sala de aula, portões trancados e muros altos. Esse é cenário das aulas de português do professor Alan Araújo da Silva aos adolescentes que cumprem medida socioeducativa na Unidade de Internação de Planaltina
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
O professor Alan é um dos 5.036 educadores que dão aulas a pessoas privadas de liberdade em todo o país, conforme determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Foto: Agência Brasil
Com muitos alunos com histórico de abandono escolar, o professor busca alternativas para despertar o interesse dos jovens
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
Na unidade de internação a atenção à segurança é maior e é preciso estar preparado para eventualidades
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
O professor Solon da Nóbrega não nasceu em uma comunidade quilombola, mas desde 1997 se dedica a esse trabalho. Ele é responsável pela formação técnica no Centro de Alternância Ana Moreira. Este ano, desenvolveu o projeto Coisa de Preto, levando a dança, a religiosidade e a cultura afrodescendente para a sala de aula
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
O projeto será permanente e o objetivo é aumentar a autoestima dos alunos e resgatar a cultura que está se perdendo
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/quanto-ganha-um-professor-no-brasil/iframe.htm" href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/quanto-ganha-um-professor-no-brasil/iframe.htm">veja o infográfico</a>
Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra