Soroban: conheça a técnica japonesa de Cálculo Mental que viralizou no TikTok
Com dedos rapidinhos e números que passam em flash, método impressiona por parecer ser coisa de 'gênio'
Navegando por qualquer uma das redes sociais, você já deve ter visto um ou outro vídeo de crianças calculando números que passam rapidamente em uma tela. Com auxílio dos dedinhos e da mente, elas calculam números com uma velocidade impressionante e acumulam milhares de visualizações de internautas impressionados ou apenas curiosos em desvendar o mistério. Nos comentários, a conversa é quase sempre a mesma: "como fazem isso?", "gênios mesmo", "será que é só de cabeça mesmo?".
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A resposta é sim, é só de cabeça. Ao Terra, Sabrina Kanashiro, de 23 anos, que é bicampeã brasileira de Cálculo Mental e campeã brasileira de Soroban, explica que a técnica que viralizou é um tipo de cálculo mental, o Soroban, e que não é coisa de gênio.
"O termo cálculo mental se refere, no geral, a você realizar contas de cabeça. Dentro dessa prática existem técnicas diferenciadas, essa é com base na visualização do Soroban", contou.
O nome do método vem do ábaco japonês e conta com várias peças usadas para auxiliar nas contas. É um equipamento originalmente chinês, mas que foi levado para o Japão.
Segundo Sabrina, as peças permitem trabalhar todas as operações matemáticas simples --adição, subtração, multiplicação e divisão--, bem como as mais complexas como raiz quadrada e cúbica, por exemplo.
"E qual é a consequência disso? É só cálculo? Ficar bom de conta? O fato de você aprender a fazer cálculos usando o Soroban é melhorar a sua capacidade de memória, concentração e raciocínio lógico e, consequentemente, o cálculo mental", explica.
Como funciona?
Sabrina explica que, com o ábaco japonês em mãos, é preciso escolher uma das colunas como a casa da unidade.
"O Soroban tem a mesma estrutura que aprendemos na escola. Então, quando a gente é criança, aprendemos que tem a unidade, centena, dezena, unidade de milhar. O sistema tradicional do nosso país tem a mesma base que é o sistema decimal", explica.
Se escolhemos uma como unidade, ao lado dela estará a dezena. Ao lado da dezena, a centena e, ao lado da centena, a unidade de milhar. O padrão seguirá o mesmo até os números que quisermos formar.
Embaixo da barra, cada pecinha vale um. As de cima da barra, cinco. E como realizamos os cálculos? "Tudo o que eu encosto na barra está valendo. Se está tudo zero, quer dizer que não tenho nada encostado na barra. Se eu acrescentar três peças encostando na barra, se cada uma vale um, tenho o número 3. Se eu retirar duas peças, resta 1. Se a de cima tem o valor de cinco, quando junto ela com a de baixo, tenho 6", diz Sabrina.
Seguindo a lógica, assim se faz os números até o dez. E o dez como fazemos? Para chegarmos a esse número, vamos para a casa ao lado, que é a da dezena. “Uma pecinha na parte de baixo vale um, certo? Na dezena, ela vale dez”, conta. “Na parte de cima, a que vale cinco, na dezena, vale 50”.
Para os outros números é a mesma lógica: o valor é o mesmo, você só transfere a casa em que ele está. "Se ele está na dezena, ele vai valer 100. Se ele está no milhar, vai valer 1 mil. Se ele está no milhão, ele vai valer 1 milhão. Uma pecinha só tem o poder de representar 1 milhão", explica Sabrina.
Como calculam tão rápido?
Depois de entender como funciona o Soroban, fica mais fácil entender o que é o movimento feito pelas crianças nos vídeos. De acordo com Sabrina, após tanto tempo de estudo utilizando o instrumento, você passa a visualizá-lo mentalmente e fazer as contas apenas com o mover dos dedos.
“A partir do momento em que o aluno consegue criar a imagem do Soroban, ele não precisa de mais nada na mão. Você carrega na sua memória uma calculadora milenar e é uma calculadora rápida prática e que te proporciona outros benefícios da memória, concentração e raciocínio”, conta.
É só para gênio?
A resposta é não e não tem idade máxima para começar a aprender. Para crianças, o Soroban é indicado, aqui no Brasil, a partir dos cinco anos. No Japão, no entanto, o é um pouco mais cedo. No país, a partir dos dois ou três anos já começam a ter contato com a ferramenta.
"Todo mundo pode aprender a ferramenta. Mas, quando uma criança começa, ela está no seu processo de desenvolvimento cognitivo e intelectual. Quando somos adultos, já temos essa parte formada. Então, pode acontecer de um adulto aprender, mas ele pode não alcançar a mesma velocidade de uma criança", explica a matemática.
Segundo Sabrina, que pratica a técnica desde os seis anos de idade, o aperfeiçoamento está ligado totalmente à dedicação ao método.
"Não é uma coisa de gênio. Basta você ter uma rotina e dedicação. Ele é uma prática que o treino leva a este resultado", explica. "Pode usar como exemplo o futebol. Ninguém nasce sabendo jogar, craque. Você treina essa habilidade, pode até descobrir uma aptidão para isso, mas você treina para alcançar um resultado bom ou excelente."
Mesmo sendo algo cultural, há escolas e empresas brasileiras que ensinam a técnica do Soroban. Quem tiver interesse, pode procurar na sua região, tentar uma aula experimental e descobrir se gosta.