Startups de educação têm potencial para crescer, dizem investidores
As oportunidades estão em EAD e projetos “mais divertidos e menos tradicionais”
Marcadas por inovação e alto potencial de crescimento, as startups brasileiras estão apostando em educação. O fundador da Anjos do Brasil e especialista em startups, Cassio Spina, vê um potencial muito grande no mercado brasileiro de startups de educação, embora reconheça que o Brasil tem um desafio muito grande na melhoria da qualidade do ensino. O CEO da EstudaVest, Carlos Pirovani Neto Netto, concorda. "Estamos tentando usar a tecnologia em prol da educação", afirma.
Para o investidor-anjo e fundador da Aceleradora, Yuri Gitahy, empresas tradicionais de educação a distância (EAD) costumam simplesmente transportar o professor para o vídeo e fornecer material para acesso online. Para uma startup dar certo no ramo, é preciso ir além e inovar. Ele acredita atualmente haver três grandes nichos explorados por startups de educação no Brasil: mercado de aulas, plataformas que apoiam o aprendizado e plataformas que simplificam a criação de escolas online.
Com investimento inicial de R$ 300 mil, empresa vale hoje R$ 20 milhões
Para ele, as oportunidades estão em projetos "mais divertidos e menos tradicionais", como acelerar o aprendizado por meio de gamificação ou ensinar via smartphone. Nesse sentido, o Qranio é um social game multiplataforma, que une educação e entretenimento e visa estimular o aprendizado por meio de quiz, uma forma mais lúdica de adquirir conhecimento.
A ideia da plataforma de perguntas e respostas nasceu em fevereiro de 2011 e, em outubro do mesmo ano, estava no ar. Hoje, a equipe do site conta com aproximadamente 30 pessoas. O CEO e fundador da Qranio, Samir Iásbeck, conta que quando criança não gostava de estudar. "Achava uma tremenda perda de tempo ir para escola, achava muito chato. Só que eu sempre gostei muito de aprender aquilo que era útil para mim", diz.
Usando a internet, via smartphone (iOS e Android) ou SMS para celulares regulares, o jogo baseia-se em um quiz com uma série de perguntas sobre temas como vestibular e cinema até tecnologia e esportes. A cada resposta certa, o usuário recebe uma quantidade de Qi$, uma espécie de moeda virtual que varia conforme o nível de dificuldade da questão. Acumulando a pontuação, o jogador pode trocar seus Qi$ por prêmios, que vão desde peças de vestuário, beleza e decoração, até produtos e serviços mais sofisticados, como vales-jantar para duas pessoas, vales-hospedagem, mp3 players, livros e smartphones. A plataforma hoje tem mais de 990 mil usuários, cerca de 13,8 milhões de perguntas respondidas e aproximadamente 4.700 prêmios distribuídos.
O empresário fez um investimento inicial de R$ 300 mil para criar o sistema. Ele conta que, ao longo dos anos, recebeu mais recursos de investidores-anjos e empresas privadas que ultrapassam a barreira dos milhões. Hoje, o valor de partida de mercado da empresa é estimado em R$ 20 milhões.
Ele é otimista frente ao cenário de startups de educação brasileiro. “Tem muita possibilidade de crescer. São poucas em um tema que é muito bem recebido pelos usuários e pelo mercado”, observa. A visão de Iásbeck é ambiciosa: até 2017, ele deseja que o Qranio se torne o aplicativo referência de educação presente na primeira tela de dispositivos móveis do mundo.
Plataforma tem versões grátis e paga
No mesmo caminho das startups de educação, o EstudaVest é uma plataforma que permite ao estudante responder questões, fazer testes de diversos vestibulares de universidades e também do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O usuário tem acesso ao seu desempenho, além de poder descobrir quais são seus pontos fortes e fracos e acompanhar estatísticas de sua evolução durante o período de estudos. O site já tem mais de 20 mil questões cadastradas, 400 mil questões resolvidas, 30 mil usuários e 170 provas cadastradas.
De olho neste nicho de mercado, o CEO da plataforma conta que viu a oportunidade de criação da plataforma em meados de 2012 e começou a amadurecer a ideia. No início de 2013, sentou com o amigo Vitor Pereira de Freitas e começou a desenvolver o site. Em maio do mesmo ano, já tinha disponível uma versão teste e, em julho, ela estava no mercado. Atualmente, já são quatro pessoas trabalhando na equipe. A tecnologia da plataforma é adaptada para dispositivos móveis. Assim, acredita Netto, é possível que o usuário estude onde quiser, aumentando o engajamento do aluno.
O usuário que se cadastra de forma gratuita pode resolver no máximo 10 questões por dia ou então, se divulgar a entrada no dispositivo em redes sociais, pode resolver 20 questões. Entretanto, na versão grátis não tem acessos a gráficos e tabelas de desempenho da plataforma que um assinante normalmente teria. O custo da assinatura é de R$ 9,90 por mês.
Cenário no Brasil
No País, os setores que aproveitam o crescimento da classe média são os mais promissores, segundo o fundador da Aceleradora. Startups de comércio eletrônico, aplicações que aproveitam a adoção de smartphones e o crescente mercado de entretenimento vem obtendo bons resultados de acordo com o especialista. "Serviços para micro e pequenas empresas também têm tido muito sucesso", diz Gitahy.
Como primeiro passo parar criar uma startup, Spina recomenda que se conheça muito bem o mercado. "É no que mais falham", aponta. O empreendedor deve avaliar se a solução proposta realmente vai resolver o problema de uma forma que o mercado queira e não da forma que o empreendedor acha que resolva. Para Gitahy, o primeiro passo para criar qualquer startup é pesquisar negócios existentes que realizem coisas iguais ou similares. “Startups que crescem muito sempre apresentam uma inovação, e repetir algo já existente reduz muito as chances de sucesso”, aponta. Para que uma startup cresça e se consolide como empresa, Spina diz que é fundamental ter inovação e aderência. "É preciso que o cliente potencial tenha interesse em adotá-la", observa.
Normalmente, é preciso conquistar seu primeiro milhão em vendas ainda no primeiro ano e multiplicar esse crescimento no segundo, afirma Gitahy. Por volta do segundo ano é possível “sentir” que a startup começa a cruzar a fronteira de um projeto promissor para um negócio que cresce acima da média.
Dados da Startupbase, da Associação Brasileira de Startups, mostram que, atualmente, há 2.564 startups de todos os tipos cadastradas na instituição. Para estimular novas empresas inovadoras, o programa Start-Up Brasil, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), teve sua primeira rodada em 2013, quando o setor de educação foi um dos que teve mais inscritos, segundo o MCTI, que não soube precisar o número.
Cada startup escolhida contará com R$ 200 mil na forma de bolsas para pesquisa, desenvolvimento e inovação e concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI). Além disso, a aceleradora poderá investir recursos adicionais no projeto, que variam de R$ 20 mil a R$ 1 milhão. Duas novas edições estão previstas.
Programa recebe inscrições até dia 14
A Fundação Lemann lançou o Start-Ed nas Escolas, programa de estímulo a startups educacionais que já tenham um produto pronto para utilização. O programa oferece um aporte de R$ 100 mil a R$ 300 mil para o piloto da ferramenta em escolas públicas, além de uma avaliação de especialistas sobre o impacto na aprendizagem e apoio para a elaborar a estratégia de distribuição do produto.
Para participar é preciso ser empresa ou organização sem fins lucrativos que tenha a ferramenta apoiada como principal projeto da instituição. É preciso ainda estar apto a prestar serviço para escolas públicas e ter um produto ou ferramenta totalmente finalizado para ser usado por no mínimo 500 alunos, ainda em 2014. As inscrições vão até o dia 14 de março e podem ser feitas por meio do formulário: https://pt.surveymonkey.com/s/StartEdnasEscolas. A divulgação dos selecionados será realizada por meio do site da Fundação Lemann, em 11 de abril.