'Sustentabilidade tem de ser ensinada desde o ensino fundamental', diz Carlos Nobre
Cientista é o primeiro do País eleito membro da Royal Society
O planeta só vencerá os desafios ambientais se houver uma nova geração que não aceite mais um mundo insustentável. A opinião é do meteorologista Carlos Nobre, o primeiro cientista brasileiro a ser eleito membro da academia científica da Royal Society. A instituição britânica é uma das mais antigas e prestigiadas sociedades científicas do mundo.
Qual é o papel da escola na construção de um cidadão preocupado com a Terra?
Eu julgo que é muito importante que os estudantes tenham aulas sobre o que é uma vida sustentável, um ambiente sustentável, para construir trajetórias sustentáveis para vida individual, da família, da localidade, mas também de um país e de um planeta. Sustentabilidade tem de ser ensinada de forma obrigatória desde o ensino fundamental. É muito difícil você imaginar que vamos vencer os desafios - seja o combate às emergências climáticas, seja o combate à poluição urbana, que mata entre 4 e 7 milhões de pessoas por ano - sem que apareça uma nova geração que não aceite mais um mundo insustentável.
Inspirados talvez na Greta Thunberg…
Exatamente. A Greta (ativista ambiental sueca) tinha 13 anos quando começou a ficar sentada na frente da escola toda sexta-feira pela manhã como protesto pela inação da sociedade. Criar essa nova geração é essencial. Uma geração para a qual sustentabilidade vire um valor como é o conceito de felicidade. Todos nós queremos felicidade. Sustentabilidade tem de se tornar um conceito filosófico como felicidade.
Entidade britânica é uma das mais tradicionais e prestigiadas instituições científicas do mundo; pesquisador é conhecido pelos seus estudos sobre mudanças climáticas e Floresta Amazônica; diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, também está na lista
Medalha de Oficial da mais Excelente Ordem do Império Britânico foi entregue por Embaixada do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, em cerimônia em Brasília
E isso vale do fundamental à graduação?
Há dez anos, em 2013, visitei o MIT (onde fez doutorado em 1983) e acabei vendo que já naquela época havia a cadeira de sustentabilidade para todos os cursos de engenharia - não era eletiva, todos os alunos, de qualquer engenharia, tinham de aprender sobre sustentabilidade.
Conte-nos sobre o projeto que prevê a criação de um instituto de tecnologia na Amazônia, o AMIT.
A ideia é criar condições para integrar o conhecimento ancestral dos povos originários e o conhecimento científico. Convidamos cinco indígenas para o grupo que estamos montando para avançar com o estudo pleno de viabilidade.
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