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Vencedora do Ciência para Todos nunca sonhou em ser professora, mas se apaixonou pela profissão ao pisar pela 1ª vez no EJA

Eloiza Linhares conduziu os alunos da EMEF Professora Thereza Maciel de Paula ao prêmio

4 set 2024 - 08h32
(atualizado às 08h33)
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Professora conduziu projeto vencedor do prêmio Ciência para Todos
Professora conduziu projeto vencedor do prêmio Ciência para Todos
Foto: Divulgação/Eloiza Linhares

Eloiza Linhares conduziu o projeto que levou a EMEF Professora Thereza Maciel de Paula ao topo da premiação Ciência para Todos. A iniciativa da docente da Educação de Jovens e Adultos (EJA) procurou mapear, detectar e conscientizar os estudantes sobre a existência de resíduos sólidos nas proximidades da unidade de ensino, no Jardim Santo André, bairro do extremo leste de São Paulo.

Aos 40 anos, ela viveu com a premiação um dos momentos altos de sua vida profissional, que começou de um jeito bem diferente das salas de aula e bem longe da escola em que leciona atualmente.

Nascida em Guanhães, no interior de Minas Gerais, Linhares mudou-se para São Paulo aos 15 anos. Em território paulista, concluiu o ensino médio e decidiu ingressar na faculdade de Ciências Biológicas. 

Ainda longe das lousas da sala de aula, a jovem mineira começou um estágio na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Diadema, região do ABC Paulista. Por lá, trabalhou por dois anos, antes de tomar a decisão de migrar para a carreira na educação. 

Inicialmente, essa mudança de segmento foi tomada com a ideia de dedicar a vida ao campo da pesquisa. Mas isso mudou quando ela pisou na sala de aula para lecionar pela primeira vez.

"Não era uma coisa assim que eu tinha muito interesse [ser professora], eu queria muito ir para a área da pesquisa, mas, depois, quando eu entrei na sala de aula a primeira vez, eu realmente vi que era ali que eu queria ficar, que eu me encontrei na profissão naquele local", conta em conversa com o Terra.

Há 16 anos atuando como professora, Linhares já deu aulas na rede estadual, mas hoje mantém o foco apenas nas escolas municipais, onde conquistou o Prêmio Ciência para Todos com os alunos do EJA.

Professora conduziu projeto vencedor do prêmio Ciência para Todos
Professora conduziu projeto vencedor do prêmio Ciência para Todos
Foto: Divulgação/Eloiza Linhares

A ideia premiada

De início, a ideia era um projeto cartográfico social de educação ambiental, em que os alunos tinham que desenhar um mapa representando o entorno do espaço. Embora quisesse que os estudantes notassem os problemas do descarte incorreto de resíduos sólidos na região, não foi o que aconteceu.

"Eu comecei com eles fazendo uma cartografia social dentro da minha disciplina. Quando fiz isso com eles, eles tinham que desenhar esse mapa para representarem o que viam no dia a dia, no entorno do espaço escolar. Quando peguei esses mapas, vi que eles não percebiam o resíduo como um problema socioambiental. Por mais que eles passassem ao lado desses resíduos, eles não viam esse resíduo, este resíduo era invisível", diz a professora.

Com os resíduos parecendo até "invisíveis" perante os olhos da turma, Linhares começou a trabalhar temáticas como os problemas e consequências do descarte incorreto. Em uma saída de campo, ela então passou aos alunos a missão de, por meio de questões de múltipla escolha, "diagnosticar quais eram os tipos de resíduos, as fontes geradoras e a gestão de resíduos sólidos do município".

Um dos problemas encontrados foi uma caçamba repleta de resíduos nas proximidades da escola, que, muitas vezes, caíam dentro do parquinho da instituição de ensino. Diante da situação, Linhares e os alunos tiveram iniciativas como a criação de um abaixo-assinado pela retirada do equipamento e o estudo das políticas públicas da prefeitura em relação ao problema.

Professora conduziu escola ao prêmio Ciência para Todos
Professora conduziu escola ao prêmio Ciência para Todos
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Em um primeiro momento, a professora notou até uma certa resistência dos alunos, mas que rapidamente deu lugar ao entusiasmo pelo projeto. 

"No começo, não foi uma coisa fácil de trabalhar essa questão com eles, porque eles são mais resistentes por serem pessoas com mais idade e, assim, terem passado muito tempo fora da escola. Então, eles tinham a visão daquele ensino de aprender a ler, escrever, fazer continha. E dentro do ensino de ciências, responder às questões. Mas, depois que o projeto foi ganhando vida, eles perceberam que, realmente, aquilo era uma forma de aprendizagem", explica a docente de 40 anos.

Mesmo com a aceitação dos alunos, Linhares ainda enfrentou outros desafios no caminho. Falta de materiais e de tempo estavam entre esses possíveis empecilhos: "Os desafios foram bastantes, porque, apesar da equipe gestora estar sempre apoiando, ainda sempre faltava algum material".

Para não deixar que o horário curto atrapalhasse os planos do projeto, a professora contou com a ajuda de outros docentes: "Dentro do projeto, eu elaborei sequências didáticas dentro do meu conteúdo. Trabalhei junto com os professores de História, Português e Inglês. A gente trabalhou de forma interdisciplinar. A professora de História trouxe as questões históricas do resíduo, do consumo, do descarte e a política de resíduos sólidos. O professor de Português trabalhou as questões mais da escrita, do desenvolvimento de redação, da leitura e análise de alguns textos. A professora de Inglês conseguiu um palestrante que trabalha com a ONG chamada Varre Vila, que é voltada também para essas questões, o descarte e o acúmulo de resíduos sólidos em regiões periféricas."

Além do apoio dos colegas de escola, a professora teve a ajuda de uma amiga artista plástica, que trabalha com esculturas que utilizam resíduos sólidos durante a produção de suas obras.

"A gente fez uma dinâmica. Nós distribuímos sacos de lixo para eles fazerem essa coleta desses resíduos em casa. E teve uma amiga minha, que é arquiteta e também artista plástica, do Rio de Janeiro. Ela fez uma aula com eles, onde ensinava a fazer desenhos com colagem. Então, eles recortavam os saquinhos, eles podiam desenhar um desenho pronto, e eles colavam esses saquinhos. Depois, a gente expôs esse trabalho deles", explica.

Com a etapa finalizada, o projeto deixou três composteiras minhocarias em funcionamento na escola. Também houve uma tentativa de fazer uma horta no local, mas a ideia não deu certo. 

Além dessa melhoria na estrutura, a iniciativa deixou um legado importante para a mentalidade da comunidade em torno da escola, inclusive com a percepção de problemas ambientais.

"O projeto deixa um legado de aprendizagem, de reconhecimento, de pertencimento. E que cada um dos educadores, dos alunos e dos moradores tem um papel fundamental na preservação do meio ambiente, do entorno. E o legado que deixou que foi muito importante é que o tema meio ambiente não era tratado na escola. E esse ano a gente trabalhou muito. Nós tivemos a enchente do Rio Grande do Sul. Quando teve a enchente, todos já sabiam por que tinha acontecido a enchente, qual era o impacto dessa enchente para o meio ambiente quanto para a saúde da população. E o engraçado é que esse ano nós fizemos o mesmo mapeamento com os alunos, e eles já reconheciam o lixo como uma questão socioambiental do entorno”, conta.

Professora conduziu escola ao prêmio Ciência para Todos
Professora conduziu escola ao prêmio Ciência para Todos
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Neste ano, a professora trabalha com os alunos em uma espécie de continuidade do projeto premiado. Agora, os resíduos sólidos deram lugar aos resíduos têxteis no estudo. 

"Agora, a gente está tentando conscientizar com relação ao descarte de roupa. Trabalhar com eles na economia circular e consumismo. Se eu tenho uma determinada roupa em casa que eu não utilizo mais, eu posso transformar, posso modificar, posso criar no Instagram um ambiente de troca dessas roupas e não destinar elas de forma incorreta para impactar o meio ambiente", completa Linhares.

Fonte: Redação Terra
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