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Álbum Tropicália será abordado no vestibular da UFRGS

Professores alertam para a importância de conhecer o contexto em que o disco foi lançado

15 abr 2014 - 07h29
(atualizado às 07h31)
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Tropicália será cobrado no vestibular da Ufrgs
Tropicália será cobrado no vestibular da Ufrgs
Foto: Reprodução

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) incluiu o disco Tropicália na lista de leituras obrigatórias para a prova de literatura do vestibular de 2015. Lançado em 1968, o álbum reúne artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa, Tom Zé e Nara Leão.

O professor de Literatura Brasileira do Instituto de Letras da UFRGS Luís Augusto Fischer diz que já faz alguns anos que a poesia da canção brasileira aparece no vestibular da Universidade. Segundo ele, já foram citados Gil e Caetano em questões de concursos anteriores.

Fischer diz que a canção popular é tão íntima de todos que é difícil olhar com a dignidade que ela merece ser tratada. Incorporar a canção com o romance e o conto, debruçar-se sobre o disco, ler as letras e buscar associações com as imagens e o contexto da época é o caminho apontado pelo professor para “ler o disco”.

Segundo ele, o Tropicalismo foi o último grande movimento de vanguarda no Brasil, e tinha o papel de se interpor entre duas grandes vertentes musicais na época: de um lado a Música Popular Brasileira (MPB), tradicional, e de outro lado a Jovem Guarda, um rock de expressão da juventude. “O Tropicalismo embaralhou a divisão simples da música naquele período”, diz. 

O movimento pode ser abordado de três modos: na análise das letras, na relação do Tropicalismo com a tradição modernista e como expressão da revolta jovem que aconteceu na França em 1968, uma época de mudança de comportamento, de uma geração em conflito no mundo todo.

Uma obra musical como o disco Tropicália pode ser objeto de um estudo desde que se faça uma relação com letra, música e a política da época do momento de lançamento do disco, segundo o professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da Unesp de Marília Rodrigo Czajka, que, desde 2003, pesquisa os intelectuais e artistas do Brasil nos anos 60 e 70.

Segundo o professor, para fazer a leitura da obra é necessário ter a informação que complemente a audição. O candidato deve pensar que o Tropicalismo foi um movimento de oposição a tudo que existia na época, feito por uma juventude que estava na fronteira da liberdade sexual e de uso de narcóticos. Saber o contexto em que a obra foi lançada é importante porque mostra que ela estava conectada a movimentos da juventude, questões sociais, políticas, além da estética musical. “Conectando a obra com o contexto em que ela foi produzida, pode-se entendê-la e dar a ela o seu devido valor”, diz.

Há várias questões possíveis ao se abordar Tropicália. Para Czajka, pode se relacionar o disco à literatura marginal que emergiu no Brasil a partir dos anos 70, como Torquato Neto e Paulo Leminski. Essa literatura parte da Tropicália como movimento contracultural e gera uma literatura marginal, que não pretende mais criticar a indústria e resolve ignorá-la. 

O objetivo da Tropicália era fazer uma crítica, uma ironia do mercado e sua capacidade de neutralizar toda inovação na arte e na cultura. “Foi um antiprojeto, que mostrou que a ideia da identidade nacional tinha sido inventada pela elite e que as gerações anteriores não tinham feito nada contra isso”, diz Czajka. Para ele, o aluno deve assimilar os valores políticos da época para entender o que significam na música.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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