Cursinhos populares têm alta taxa de aprovação no vestibular
Em curso de Santa Catarina, cerca de 60% dos alunos foram aprovados em três grandes universidades públicas
Em 2013, Ariane Santos, precisava estar no trabalho às 8h. Mas mesmo antes de se dirigir à rotina de 10 horas diárias como técnica em eletrônica, ainda achava tempo para estudar um pouco para o vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Por volta do meio-dia, em meio ao barulho da televisão e conversa dos colegas de trabalho, ela almoçava rapidamente – qualquer tempinho que sobrasse era destinado a dar uma lida no conteúdo que poderia cair no exame. Já em casa, com a mãe e os irmãos, o ritual em busca de silêncio se repetia.
A rotina de estudos da jovem era de cinco horas diárias durante a semana; aos sábados ela frequentava, das 7h às 18h, as aulas do cursinho pré-vestibular popular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Feausp). Aos domingos, Ariane estudava o dia inteiro para conseguir dar conta do conteúdo. Chegou então o vestibular para o curso de Engenharia Elétrica e, logo depois, a recompensa: a aprovação divulgada em 2014 foi fruto de um ano de dedicação e empenho.
A moradora do Parque Edu Chaves, zona norte de São Paulo, é a primeira integrante da família a ingressar no ensino superior. “Aqui em casa foi só alegria, porque viram que me esforcei para conseguir essa vaga. No trabalho, quando eles souberam, me pintaram com tinta”, lembra a universitária de 20 anos.
Além de Ariane, outros 141 alunos que fizeram o cursinho da Feausp foram aprovados em universidades federais e faculdades particulares em 2014. “Temos sempre quatro turmas com 120 pessoas cada e, geralmente, 120, 130 estudantes são aprovados”, diz o coordenador de marketing do pré-vestibular, Arthur Oliveira. Ele afirma que, em média, 1,5 mil pessoas se inscreveram para as 480 vagas disponíveis neste ano. A instituição oferece o módulo básico, para aqueles que estão retomando os estudos, outro com foco no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e um terceiro voltado ao pré-vestibular. Em todas as modalidades, é oferecido material didático gratuitamente graças à parceria com uma editora de livros. Os estudantes das turmas com um encontro semanal e de preparação especial para o Enem pagam uma taxa única de R$ 280 para todo o ano, já os das aulas diárias, R$ 360, enquanto os do básico, R$ 170. Em todos os casos, a quantia pode ser parcelada.
“Com essa quantia, pagamos um valor simbólico aos professores, já que não são os alunos de licenciaturas da universidade que expõem o conteúdo, mas profissionais formados”, justifica Oliveira que ressalta. “Temos procurado apoio de outras empresas para não sobrecarregar ninguém financeiramente, porque a ideia é que as aulas sejam gratuitas para que as pessoas que não tenham condições possam contar com essa opção.”
Na região Sul, disputa por vagas é concorrida
Em Porto Alegre, o embrião do curso pré-vestibular popular do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ceue/UFRGS) teve início há 60 anos ao oferecer, primeiramente, reforço nas disciplinas de matemática, física e química. Com a evolução do espaço, foi criado o cursinho focado no vestibular da própria universidade e, mais recentemente, também no Enem, visto a importância que o exame ganhou ao longo dos anos como porta de entrada ao ensino superior. Anualmente, são oferecidas 240 vagas distribuídas igualmente entre o turno da tarde e da noite. “Neste ano, tivemos quase 600 inscrições. Os alunos pagam uma mensalidade de R$ 60, que cobre os gastos das aulas, os custos das apostilas que fornecemos a cada módulo e a remuneração dos professores. Esses últimos são, na sua grande maioria, alunos ou ex-alunos da UFRGS”, afirma a coordenadora do cursinho, Carolina Ellwanger. Dos 150 estudantes que concluíram as aulas, 53 deles foram aprovados no vestibular da UFRGS.
Em Santa Catarina, o Pró Universidade, que nasceu como um projeto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tinha 120 alunos em 2003. Atualmente, a instituição está presente em 29 cidades com unidades físicas e em outras 25 com a modalidade à distância (EAD). “Ao todo, são 3,4 mil alunos presenciais e mais 2 mil de EAD. Esse ano, 8 mil pessoas se inscreveram para as aulas”, diz o coordenador do cursinho, Otavio Auler. Destinados a estudantes de escola pública, o Pró Universidade oferece a modalidade de curso extensivo, não cobra nenhuma taxa ou mensalidade dos estudantes e oferece material didático. Segundo Auler, a expansão e manutenção dessa estrutura é possível devido aos apoios estadual e federal.