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Saiba mais sobre os dois ciclos do café

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Homem colhe café no Instituto Biológico, a mais antiga plantação de café urbano do Brasil, localizada na Vila Mariana, bairro da região sul da cidade de São Paulo
Homem colhe café no Instituto Biológico, a mais antiga plantação de café urbano do Brasil, localizada na Vila Mariana, bairro da região sul da cidade de São Paulo
Foto: iStock

Conheça a história dos ciclos do café no Vale do Paraíba e no Oeste Paulista (1830-1930).

Vale do Paraíba

O café foi trazido para o Brasil em 1727, por Francisco de Melo Palheta, que levou as mudas para o Pará. No início, era utilizado apenas no consumo doméstico, e acredita-se que, por volta de 1760, já existissem pequenos cultivos no Rio de Janeiro.

Foi ao longo do Vale do Paraíba, região que abrange terras do Rio de Janeiro e de São Paulo, que o café, considerado um artigo de sobremesa, se tornou o principal na pauta de exportação brasileira. Desde o período regencial, o café já propiciava grandes lucros para o país, mas foi no Segundo Império que a produção atingiu seu apogeu.

A região do Vale do Paraíba era bastante apropriada para a cafeicultura, pois era abundante em terras virgens e tinha um clima favorável. A implantação das fazendas se deu pela tradicional forma de plantation, ou seja, grandes propriedades, cultivo para exportação e uso de mão-de-obra escrava.

Para começar a produção de café era necessária uma boa quantidade de recursos, pois se tinha de comprar escravos, derrubar a mata e preparar a terra. O cafeicultor não teria um lucro imediato com a plantação, já que os cafezais só produzem depois de quatro anos. Por isso, acredita-se que os primeiros cafeicultores já tinham um capital de reserva, provavelmente oriundo da expansão do comércio que houve após a vinda de Dom João VI, em 1808.

A produção era feita através do uso extensivo do solo, ou seja, somente quando a terra não tinha mais nutrientes necessários é que se trocava de região, deixando a antiga abandonada ou para pequenas plantações. Os instrumentos de trabalho eram, praticamente, apenas a enxada e a foice. Quando a planta começava a produzir, os escravos colhiam o café manualmente.

Depois da colheita, o café deveria passar de 30 a 90 dias secando ao sol. Em seguida, retiravam-se os grãos de seus revestimentos, era o chamado beneficiamento. O instrumento mais comum usado para a realização do beneficiamento do café era o monjolo, formado por pilões socadores, movidos a água, tração animal ou as duas. Dessa forma, podemos caracterizar a produção existente no Vale do Paraíba como pré-industrial.

O transporte nessa primeira fase produtiva era, também, bastante precário, sendo realizado até em tropas de burros. Somente com o tempo o governo investiu na construção de ferrovias. A exportação do café era realizada por grandes corporações norte-americanas e inglesas. Com o tempo, os Estados Unidos tornaram-se os maiores consumidores, mas também era importante a venda que se fazia para os Países Baixos, Alemanha e Escandinávia. A Inglaterra era a principal credora para a cafeicultura brasileira, aumentando enormemente a dívida externa.

Aos poucos, a riqueza vinda do café foi realizando uma grande transformação na estrutura da região Centro-Sul. Foram criados empregos, melhorou-se a condição dos portos e instalaram-se novas formas de transporte. Os grandes fazendeiros do Vale receberam títulos de nobreza, e passaram a ser a principal base de apoio para o Imperador. Eram os "Barões do Café".

Por volta de 1850, a cafeicultura no Vale atingiu seu auge. Vassouras foi considerada a "capital do café". Solucionou-se os problemas de transporte com a construção da ferrovia Dom Pedro II, tempos depois chamada de Central do Brasil.

Oeste Paulista

O café passou a ser cultivado em São Paulo devido ao esgotamento do solo do Rio de Janeiro, pois sua produção era extensiva e não mecanizada. O rico solo de terra roxa de São Paulo foi o lugar ideal para que o cultivo continuasse. Essa área não corresponde exatamente ao oeste geográfico de São Paulo. Seguindo a linha férrea da Companhia Paulista, ela estende-se de Campinas a Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Catanduva. Já pela estrada de ferro Mojiana, abrange de Campinas para Piraçununga, Casa Branca e Ribeirão Preto.

A forma de produção do Oeste e do Vale era bastante semelhante no começo. O que acabou levando a cafeicultura para o oeste foi, essencialmente, a disponibilidade de terras, que permitiu uma maior expansão dos plantios, também praticados de forma extensiva. Os cafeicultores do Vale, por terem limites geográficos maiores, provocaram um maior esgotamento do solo, diminuindo a produtividade.

Mas outros fatores também ajudaram para que a produção do Oeste Paulista se sobrepusesse à do Vale. As condições de solo e clima eram bem mais propícias para o café em São Paulo, onde a planta chegava a ter cinco anos a mais de produtividade do que em outras regiões. Também o uso de uma tecnologia mais avançada foi muito importante para São Paulo. Através do arado e do despolpador para descascar os grãos aumentaram a eficiência da produção.

Quanto à mão-de-obra, o Oeste também usou a escrava africana. Contudo, por se desenvolver um pouco mais tarde, praticamente quando o tráfico negreiro já havia sido proibido, buscou-se uma outra alternativa de trabalhadores. Vieram os imigrantes.

Surgiu no Oeste Paulista, ainda, uma nova classe social, chamada de "Burguesia do Café". Esse nome foi dado porque nessa região começou a se desenvolver, no final do século XIX, uma economia capitalista. É importante ressaltarmos que os cafeicultores do Oeste não são mais evoluídos ou modernos que os do Vale. A época em que esses plantios se desenvolveram e as diferenças geográficas foram o que fizeram as diferenças entre as regiões.

Fonte: Rafael Menezes, professor de História do Elite Pré-Vestibular de Porto Alegre

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Fonte: Terra
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