Script = https://s1.trrsf.com/update-1731943257/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'Você não precisa seguir o padrão': conheça aluna surda que apresentou um TED Talks

Julia Ferreira dos Santos, 16 anos, é pioneira em várias atividades e inspira a quebrar barreiras

17 jul 2023 - 05h00
Compartilhar
Exibir comentários
Julia Ferreira dos Santos
Julia Ferreira dos Santos
Foto: Arquivo Pessoal

A primeira surda a fazer aulas em sua antiga escola de dança, a participar do teatro e dos treinos de ginástica artística no colégio em que estuda, a apresentar um TED Talks. Essas são algumas conquistas da estudante Julia Ferreira dos Santos. Com apenas 16 anos, ela já mostra que as palavras ‘pioneirismo’ e ‘inspiração’ fazem parte da sua trajetória.

Ela nasceu em Carapicuíba (SP), mas hoje mora em Cotia, cidade que fica a 33 km da capital paulista, com a mãe, o pai e o seu cachorro. Pela manhã, sua rotina de segunda a sexta-feira, é dividida entre os estudos no primeiro ano do Ensino Médio, no período matutino, e as aulas de dança, durante à tarde.

Julia é uma surda oralizada. Ela usa aparelho auditivo e consegue conversar com outras pessoas pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou usando a Língua Portuguesa. De acordo com a história contada por seus pais, ela nasceu ouvinte e, ainda criança, perdeu a audição. No entanto, atualmente a versão está sendo investigada por profissionais da saúde.

“Meus pais dizem que nasci ouvinte. Mas, quando eu tinha mais ou menos um ano, fiquei muito doente, tive Otite [infecções e inflamações do ouvido], fiquei com muita febre, saía muita secreção e fez com que eu perdesse a audição. Mas estamos fazendo uma investigação para saber se nasci surda ou ouvinte, porque, na época, meus pais não fizeram o teste da orelhinha. Eles descobriram que perdi 70% da minha audição, ficaram desesperados, procuraram fonoaudiólogos, aparelhos auditivos”, conta Julia ao Terra.

Julia Ferreira dos Santos
Julia Ferreira dos Santos
Foto: Arquivo Pessoal

Depois disso, os pais de Julia procuraram por uma escola. Desde os 3 anos, ela estuda no Colégio Rio Branco. Até o 5º ano, ela frequentou aulas no Centro de Educação para Surdos, que é uma escola bilíngue. Os estudantes surdos aprendem o Português, mas a primeira língua deles é a Libras. 

A partir do 6º ano, no entanto, a jovem passou a estudar com alunos ouvintes. Ela afirma que a mudança foi uma ‘mistura de emoções’ e, ao longo do tempo, se adaptou à nova realidade. Todas as salas de aula que têm alunos surdos no colégio contam com um intérprete para auxiliar nos estudos e provas. 

“Fiquei muito feliz na época, só que depois eu pensei: ‘o que que eu faço agora? Não sei se eu continuo usando Libras ou se eu uso os dois [o Português também], ou se só falo. Isso foi um período de adaptação. Nessa fase, eu vi que o intérprete não era necessário para mim, eu não usava. Na sala de aula tinha porque uma das alunas era surda profunda. Mas eu sempre tive contato direto com professores. Eu também fazia amizades direto”, relembra.

Atualmente, Julia só precisa da ajuda do intérprete em provas, geralmente para a interpretação de questões e textos.

Envolvimento nas atividades

Apesar da deficiência auditiva, Julia sempre buscou se envolver em todas as atividades que gostaria de aprender, dentro ou fora da escola, como fazer teatro e ginástica artística. Ela conta que, ao passar a estudar com alunos ouvintes, porém, percebeu a insegurança de alunos surdos em participar de atividades extracurriculares, como aulas de dança e monitoria, principalmente pelo medo de julgamentos. 

“Eles não queriam participar de nada e eu já fazia aula de dança antes. Eu vi que tinha oportunidades e pensava: ‘vou entrar’. Eu não me importava com o que as pessoas achavam. Só que, depois que eu entrava, as pessoas perguntavam: ‘Você é surda? Como assim? Você consegue falar, ouvir?’ Tinha muito preconceito, julgamento. Eu entrava nos projetos porque eu realmente gostava e depois que eu fui ver qual era a realidade”, diz.

Julia Ferreira dos Santos
Julia Ferreira dos Santos
Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a estudante, foi nesse momento que ela passou a ver o quanto poderia inspirar e incentivar os alunos surdos a fazerem tudo o que quisessem. “Quando eu percebi que os surdos não participavam, eu passei a incentivar. Se gosta de xadrez, vai fazer xadrez. Se gosta de vôlei, faz também. Eu ficava incomodada e incentivava”, comenta.

Para Maria Eugenia Ruiz Rossetti, orientadora educacional do Ensino Fundamental anos finais e Ensino Médio do Colégio Rio Branco, a Julia mostra na escola que está na mão do aluno e do jovem escolher os caminhos que ele quer seguir.

“Ela poderia ter se acomodado, ter ficado só usando Libras, continuando falando só em casa, mas a Julia rompeu esse processo e trouxe pros alunos essa perspectiva que eles podem fazer o que quiserem e se dedicarem”, afirma.

Além de ser a primeira surda a participar de várias atividades na escola, a estudante ainda foi a primeira surda a vencer um show de talentos, o VivaFest, na categoria de dança, na faixa etária do 6º ao 8º ano. 

1ª surda que apresentou um TED Talks

Julia também é a primeira aluna do colégio a participar do TED-Ed, um projeto do TED aderido pela escola que tem como objetivo acadêmico trabalhar a oralidade, a leitura, o português, a exposição e a formação dos jovens. No projeto, os estudantes selecionados participam de encontros com uma professora e montam uma apresentação Ted Talks, que depois fica disponível no YouTube.

O tema escolhido pela estudante foi ‘Pioneirismo: a zona da coragem’. “Eu pensei ‘posso falar sobre minha vida, sobre meu lado de lidar com a surdez na escola’. Em princípio, eu ia falar sobre minha vida, mas a professora pediu para misturar com a vida de outras pessoas e ter um tema específico para a palestra. Então ela sugeriu ‘pioneirismo’. Eu pesquisei muito e achei legal, realmente combina com minha trajetória”, explica Julia.

Ela ressalta que ser pioneira em várias atividades tem uma grande importância em sua vida. “Isso mostra que está funcionando. Quando eu vejo que muitos alunos ficam admirados com a minha apresentação, ficam felizes com as minhas conquistas. Eu vejo que consigo incentivá-los, não só os surdos, mas todas as pessoas. E isso mostra que eu estou fazendo a diferença. Não só na escola, mas na sociedade como um todo.”

“Depois do TED-Ed, eu descobri que alguns dos meus objetivos são inspirar, ajudar pessoas, quebrar barreiras, mostrar que você não precisa seguir o padrão. Você pode inventar o seu mundo”, acrescenta.

 

Planos para o futuro

Julia ainda não tem uma profissão decidida, mas já sabe que deseja continuar no campo das Artes. “É uma área que dá para você inspirar muitas pessoas, você pode usar essa área para ter a inclusão. Depois que incentivei muitos alunos, apresentei o TED-Ed, eu fiquei com isso na cabeça: ‘tenho que inspirar, ajudar as pessoas’. Não só os surdos. Muitas mães vieram me falar: ‘você inspirou meu filho’. Eu pensei: ‘que legal isso’. Eu consegui incentivar também os ouvintes. E a área das artes tem muito disso, de você inspirar”, explica.

Julia Ferreira dos Santos
Julia Ferreira dos Santos
Foto: Arquivo Pessoal

“Aqui no colégio temos um mantra: ‘diferente para fazer a diferença’, batemos muito nessa tecla. Que a Julia seja diferente para que ela faça diferença no mundo. A gente não quer todos os alunos iguais, a gente quer que cada um tenha a sua voz interior e ocupe esse espaço. Não temos dúvida de que a Julia já está fazendo isso. E daqui há um tempo ela será uma ex-aluna que estará fazendo a diferença na faculdade”, afirma Maria Eugenia.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade