Inalada em grande quantidade, fumaça tóxica pode levar à morte?
Especialistas explicam os perigos ligados à exposição ao nitrato de amônio e outras substâncias liberadas após incêndio em São Francisco do Sul
A exposição prolongada a substâncias como o nitrato de amônio – liberado após o incêndio de uma carga de fertilizantes em São Francisco do Sul (SC) no final da noite de terça-feira – pode causar irritação, náusea, vômito e insuficiência respiratória. Inalar grandes quantidades da fumaça tóxica resultante de incêndios como esse pode até levar à morte – perigo enfrentado pelos profissionais que tentam combater a fumaça há quase 40 horas: um bombeiro voluntário foi internado com intoxicação e seu estado de saúde é considerado muito grave. A população não diretamente presente no centro do incêndio, porém, tem poucos motivos para se preocupar, conforme avaliação de especialistas ouvidas pelo Terra.
A inalação da fumaça pode provocar irritações nos olhos, pele e garganta. A reação é imediata e dura em média duas horas, se inalada em pouca quantidade. A inalação direta, no entanto, pode provocar contaminação e doenças sanguíneas. Contudo, autoridades de saúde relativizam os riscos e orientam a população a não entrar em pânico. A principal recomendação é se afastar da área por onde passa a fumaça e evitar a exposição às substâncias tóxicas.
"Desde o início dissemos que essa fumaça era tóxica, e que havia risco para a população. Não era para causar pânico na cidade, mas a população tinha de ser alertada que não podia respirar (a fumaça) e não podia ficar nas proximidades", afirma a supervisora do Centro de Informações Toxicológicas, Marlene Zannin. "A Defesa Civil desvirtuou, mas o Centro sempre disse que era tóxica", garantiu a toxicologista, mencionando a afirmação do governo de que a fumaça não era tóxica – mais tarde retificada.
Nitrato de amônia, difosfato de amônia e cloreto de potássio são os elementos contidos na fumaça, conforme análise das notas fiscais de um depósito de fertilizantes da empresa Global Logística localizado na BR-280, no bairro Paulas, onde aconteceu o incêndio químico. O nitrato de amônio é uma substância irritante para os olhos e vias respiratórias, de acordo com o Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina. O difosfato de amônia também é irritante para pele e mucosas, e pode causar, além de irritação, náuseas e vômitos. Há poucas informações sobre os efeitos do cloreto de potássio, porém o elemento não deve representar graves riscos à população.
"Eu não creio que as pessoas afetadas terão riscos a longo prazo, apenas questões respiratórias imediatas. As pessoas não devem entrar em pânico. Basta sair do local, tomar ar puro, beber bastante líquido", disse Ednilza Dias, membro da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio). "Essas substâncias são irritantes, e quando se expõe por mais tempo (a elas) pode haver asfixia. Mas não se espera que haja alguma doença em função dessa exposição. As pessoas podem ficar tranquilas", advertiu a toxicologista.
Tratamento
Os sinais e sintomas relatados pela população, segundo as autoridades são considerados leves: irritação ocular, náuseas e vômitos, principalmente. O Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina acredita que a população afetada pela fumaça tóxica não vá desenvolver casos mais graves. É recomendado à população que procure, em primeiro lugar, se afastar de áreas onde há a fumaça. Em caso de exposição, é preciso lavar a pele com água corrente para evitar a contaminação cutânea e lavar os olhos com soro fisiológico se houver sinais de irritação.
Incêndio atinge depósito de fertilizantes em São Francisco do Sul
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incêndio começou no final da noite de terça-feira no depósito de fertilizantes localizado às margens da BR-280, no bairro Paulas, em São Francisco do Sul, litoral norte de Santa Catarina.
A fumaça considerada tóxica obrigou a evacuação de bairros nas proximidades e famílias foram alojadas em abrigos ou em casas de parentes. Ao todo, militares e voluntários de nove cidades trabalham no combate ao incêndio. O acidente fez com que milhares de pessoas deixassem a cidade.
A Defesa Civil do Estado, que chegou a divulgar que a fumaça não seria tóxica e sim, oxidante, voltou atrás e considerou que a população deveria evitar a inalação da substância. A prefeitura decretou situação de emergência e aulas foram suspensas.
A Marinha distribuiu máscaras para a população ainda durante a madrugada de quarta-feira, de forma preventiva, e o comando do 62º Batalhão de Infantaria da cidade de Joinville organizou uma equipe para atuar em São Francisco do Sul e prestar auxílio ao Corpo de Bombeiros.
SC: bairros são evacuados após incêndio em depósito de fertilizantes