ACM Neto mantém neutralidade entre Lula e Bolsonaro e vive encruzilhada na Bahia
Ex-prefeito de Salvador, que terminou primeiro turno atrás de candidato petista, pode perder votos se declarar apoio ao presidente, apontam especialistas
O candidato do União Brasil ao governo da Bahia, ACM Neto, que disputará o segundo turno das eleições na Bahia contra o ex-secretário da Educação Jerônimo Rodrigues (PT), decidiu se manter distante da polarização nacional entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e não vai declarar apoio para a disputa ao Palácio do Planalto. Para analistas ouvidos pelo Estadão, o ex-prefeito de Salvador pode até perder votos se declarar apoio a Bolsonaro.
Na disputa pelo governo do Estado, ACM Neto, que que figurava como favorito nas pesquisas, obteve 40,88% dos votos válidos e Jerônimo, apoiado por Lula, seu principal cabo eleitoral, surpreendeu e ficou com 49,45%, faltando pouco para a vitória em primeiro turno. O resultado foi bem diferente das pesquisas divulgadas na véspera por institutos como Ipec e Datafolha, que mostravam ACM Neto com 51% dos votos válidos.
O ex-ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro, João Roma declarou apoio ao ex-prefeito. Roma, que foi aliado de ACM Neto, mas hoje é seu desafeto, ficou em terceiro lugar nas urnas, com pouco mais de 738 mil votos ou 9,08% do eleitorado.
Em uma live feita pelo Instagram nesta terça-feira, 4, o ex-ministro justificou que o "principal adversário na Bahia e no Brasil é o PT". Porém, "para ganhar os eleitores bolsonaristas", de acordo com Roma, o ex-prefeito de Salvador precisaria apoiar Bolsonaro.
Esse apoio, porém, pode trazer mais prejuízos do que benefícios nas urnas, uma vez que o associaria ao presidente e poderia, inclusive, fazer com que ele perdesse eleitores de Lula. No primeiro turno da eleição presidencial, a diferentça entre as votações de Lula e Bolsonaro na Bahia foi maior que a média nacional. O petista foi votado por 69,6% dos eleitores do Estado, enquanto o candidato à reeleição teve 24,3% dos votos. Em todo o País, o placar ficou 48,43% para Lula, ante 43,2% para Bolsonaro."Ele não podia apoiar Bolsonaro (no primeiro turno), se não, teria menos votos. Seria um suicídio", afirmou o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jorge Almeida. A mesma desvantagem ocorreria em uma associação a Roma. Para Almeida, seria "o beijo na serpente". "Vai ficar clara a identificação com Bolsonaro", disse.
"ACM Neto não vai procurar Bolsonaro, porque Lula teve quase 70% dos votos na Bahia. Ninguém pede voto contra Lula na Bahia. Não apoiar Bolsonaro foi pura estratégia política", afirmou o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB), condenado por lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-prefeito de Salvador, portanto, continua "neutro" e não quer se associar à polarização da eleição presidencial, mesmo após Bolsonaro demonstrar interesse em uma aproximação entre os dois. O presidente afirmou se colocar "à disposição" de ACM Neto, em coletiva realizada nesta semana.