Aécio e Dilma trocam acusações em debate "mineiro"
Debate da Band teve poucas propostas e trocas de farpas; temas envolvendo Minas Gerais dominaram perguntas e respostas
Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) travaram um embate com mais acusações que propostas no primeiro encontro do segundo turno, promovido pelo Grupo Bandeirantes na noite desta terça-feira. A gestão do tucano em Minas Gerais, entre 2003 e 2010, foi explorada pela presidente e dominou as quase duas horas de perguntas e respostas.
O modelo de perguntas livres, sem temas pré-determinados ou perguntas de jornalistas, facilitou a troca de farpas entre os candidatos ao Palácio do Planalto. Preparados para responder perguntas sensíveis, Dilma e Aécio usaram respostas automáticas já apresentadas em outros debates, mas evitaram ficar na defensiva, partindo para contra-ataques.
Além de invocar a derrota de Aécio em Minas – Dilma foi a mais votada no Estado -, a candidata à reeleição manteve a estratégia de comparar os 12 anos de governos do PT com os oito da gestão de Fernando Henrique Cardoso. Aécio, por sua vez, tentou explorar a atual situação da economia brasileira, citar denúncias de corrupção e apresentar ideias de FHC como embrião de políticas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma abriu o confronto com uma pergunta sobre saúde pública. Ela criticou a oposição pelo fim da CPMF, pela postura com relação ao programa Mais Médicos e colocou Minas Gerais no debate ao acusar Aécio Neves de não cumprir metas de investimentos em saúde pública. Ela sugeriu aos telespectadores que entrassem no site do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para comprovar sua afirmação. A página acabou ficando fora do ar.
Aécio apresentou sua defesa sob o argumento de que o Ministério da Saúde do governo petista classificou a saúde de Minas Gerais como a melhor do Sudeste e usou sua primeira pergunta para falar do que chamou de “ataques cruéis” da campanha do PT. O tucano negou a intenção de acabar com o programa Bolsa Família, que considera um desenvolvimento do Bolsa Escola de FHC. Dilma acusou o adversário de criar “fábulas” ao tentar atribuir ao governo tucano o nascimento do programa social.
No tema da corrupção, Aécio lembrou do escândalo da Petrobras e da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, ao considerar que a petista apenas repudiou a divulgação de denúncias feitas pelo acusado de um esquema de pagamento de propina envolvendo contratos da estatal. Dilma voltou a dizer que garantiu autonomia para a Polícia Federal trabalhar e se referiu aos trabalhos da Operação Lava Jato como “minha investigação”.
A presidente aproveitou o tema para perguntar a Aécio Neves sobre a construção do aeroporto na cidade de Cláudio (MG), suspeita de irregularidades. O tucano chamou a petista de “leviana” e lembrou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou arquivar a investigação criminal sobre o caso.
Em outra ocasião, Dilma acusou Aécio de praticar nepotismo por, segundo ela, nomear parentes para cargos públicos. O tucano desafiou a adversária a apresentar provas de que teria cometido tal irregularidade.
Ao puxar o debate para a economia, Aécio explorou a fala do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, que sugeriu a troca da carne por ovo na mesa dos brasileiros em um comentário sobre a taxa mensal da inflação. Dilma evitou chamar a frase “infeliz”, como fez em entrevista a jornalistas na segunda-feira, e jogou a discussão para o governo Fernando Henrique, mais precisamente na gestão de Armínio Fraga no Banco Central, nome que o tucano quer para ministro da Fazenda.
“É preciso ter humildade para admitir que vocês fracassaram na condução da política econômica”, cobrou Aécio. “Eu acredito que com o mesmo cozinheiro vocês não vão entregar um prato diferente”, respondeu a petista.
No terceiro bloco, a presidente surpreendeu ao perguntar para Aécio Neves sobre violência contra mulher e se o tucano acabaria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que ganhou status de ministério durante o governo Lula. Aécio, defensor do corte de pastas do governo, respondeu que não é preciso ter um ministério para priorizar certas políticas e disse que o PT não pode tentar se apropriar da lei Maria de Penha, aprovada pelo Congresso.
Em meio às trocas de acusações, um dos raros momentos de intercâmbio de ideias e propostas foi no campo da educação. Dilma defendeu uma flexibilização na reprovação de alunos, para repetirem apenas disciplinas nas quais forem reprovados, enquanto Aécio defendeu o critério de meritocracia para premiar professores com bom desempenho.